Comunicação coordenada
497 | LIDERANÇA EM ENFERMAGEM NO ÂMBITO HOSPITALAR: INFLUÊNCIAS DA FORMAÇÃO ACADÊMICA | Autores: Karen Cristina Kades Andrigue (Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó) ; Letícia de Lima Trindade (Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó) ; Simone Coelho Amestoy (Universidade Federal de Pelotas - em exercício provisório na Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia.) ; Carmem Lúcia Colomé Beck (Universidade Federal de Santa Maria) |
Resumo: Introdução: a singularidade das organizações hospitalares tem sido destacada pela assistência a usuários em situações de saúde, cada vez mais críticas, que requerem respostas individuais. Dessa forma, o trabalho hospitalar exige novas competências dos profissionais que se deparam com mudanças tecnológicas e múltiplas exigências de seus usuários.1 Como reflexo destas modificações, emergiu a necessidade de enfermeiros com competências gerenciais, técnicas e domínio de conhecimentos na área.2 Neste cenário, na formação acadêmica em enfermagem, em resposta à necessidade de profissionais competentes à atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, administração, gerenciamento, educação permanente e liderança, insurgiram as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para cursos de Graduação em Enfermagem, no ano de 20013, reforçando o imperativo da formação gerencial de enfermeiros enquanto líderes.Cabe mencionar, que a liderança representa uma competência imprescindível da prática de enfermagem nos diversos aspectos do papel do enfermeiro. Desta forma, identifica-se a necessidade de investir no ensino da liderança de forma integrada ao currículo de enfermagem, reconhecendo a formação acadêmica como ferramenta capaz de potencializar a formação de líderes.2 Objetivo: conhecer a influência da formação acadêmica sobre a liderança em enfermagem no âmbito hospitalar. Metodologia: o estudo faz parte de uma macropesquisa intitulada "O exercício da liderança do enfermeiro no ambiente hospitalar". Os dados foram coletados em junho de 2014 nos hospitais da rede hospitalar de Chapecó, em Santa Catarina, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Pelotas. Utilizou-se para coleta de dados um questionário para determinação do perfil, o Leadership Effectiveness and Adaptability Description, instrumento de autopercepção de liderança e entrevistas semiestruturadas. Participaram da primeira etapa do estudo 104 enfermeiros, os quais responderam os dois primeiros instrumentos. Após análise dos achados da primeira etapa, foram entrevistados seis enfermeiros. Resultados: identificou-se que de forma marcante os enfermeiros expuseram sentir-se minimamente influenciados para liderar pela formação acadêmica. Identificou-se fragilidades na formação acadêmica pelo predomínio do tecnicismo em detrimento a liderança resultado evidenciado por um modelo educacional tecnicista dissonante do que se almeja, pois ao graduar-se espera-se que enfermeiro desenvolva dentre as competências profissionais a liderança e que esta qualifique a prática da assistência ao usuário, bem como favoreça o trabalho coletivo e ainda beneficie o alcance dos objetivos organizacionais.2 Contudo, os depoimentos expressaram com clareza seus sentimentos de insatisfação quanto ao processo de ensino-aprendizagem da liderança, o que sinaliza as fragilidades da formação acadêmica. Salienta-se que o tecnicismo, que persiste no cenário atual, está associado à institucionalização da Enfermagem, mediante a instrumentalização da clínica, a busca pela recuperação e cura do corpo enfermo passou a ser o enfoque principal da prática dos profissionais da saúde2 o que imprimi marcas ainda presentes no contexto atual. Ao discutir a percepção dos enfermeiros quanto ao ensino-aprendizagem da liderança, identificou-se que dados semelhantes foram encontrados na literatura, a qual descreve que a formação tem dificuldade de promover o desenvolvimento de habilidades e competências que auxiliem o acadêmico a liderar, indicando ênfase no tecnicismo. Observou-se, ainda que muitas vezes os próprios discentes desvalorizam aspectos de cunho gerencial, incluindo nestes a liderança e preocupando-se prioritariamente com atividades técnicas. Contudo, ao direcionar a outros aspectos que se destacaram e estabelecendo-se relação com o perfil dos entrevistados, merece atenção que expressiva parcela graduou-se em espaço menor de dez anos, ou seja, após a instituição das DCN. Essas definem a formação de enfermeiros generalistas, humanos, críticos e reflexivos e que atendam às necessidades da população conforme os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS).1 Neste aspecto, a competência de liderar como a soma de conhecimentos e habilidades que o indivíduo possui para alcançar metas, pode ser desenvolvida por meio da instrução formal, da experiência, mas especialmente necessita para ser desenvolvida de direção e apoio adequados.4 Ao explorar as extensões da formação também emergiu a categoria Dificuldades de Integração Ensino/Serviço. As influências negativas sofridas sobre o processo de liderar, devido ao distanciamento entre as universidades e os serviços de saúde, se ilustram nos depoimentos que expressaram desarticulação nos cenários de prática. Neste viés, reconhece-se que os espaços de diálogo entre a educação e o trabalho na saúde assumem lugar privilegiado no desenvolvimento da percepção dos estudantes sobre suas escolhas profissionais. São espaços de exercício da cidadania em que os atores, com seus saberes e modos de ser e ver o mundo, constroem e exercem seus papéis na sociedade.2 Defende-se que a formação de enfermeiros líderes com potencial para utilizar a liderança no ambiente hospitalar depende de uma educação que fomente tal competência de modo transversal em seu currículo, pautado na realidade dos serviços e nas necessidades do SUS.Com o intuito de garantir o desenvolvimento de habilidades e capacidades necessárias para exercer a liderança em ambientes tão exigentes, estes profissionais necessitam de acesso à educação por meio de programas educacionais de alta qualidade e baseados em evidências. No entanto, isso faz lembrar que frequentemente a formação se volta para as técnicas e pouco para liderança e gestão. O início tardio das disciplinas que envolvem a temática também fragilizam o processo de ensino e o domínio dessa competência. Nos campos teórico práticos, a abertura dos enfermeiros no partilhar das tarefas gerenciais com os estudantes das últimas fases também interfere no processo de consolidação dessa competência entre os estudantes de enfermagem.2 É possível identificar nos depoimentos a desvalorização ao estudo da liderança, deixando evidente que o aprendizado sobre essa nas instituições de ensino não foi suficiente para os enfermeiros investigados. Além disso, torna-se necessário a valorização do desenvolvimento de habilidades relacionais, dentre elas a liderança, que geralmente passam despercebidas durante a graduação e que podem facilitar o trabalho do enfermeiro, no que concerne o gerenciamento do cuidado e da equipe, na tomada de decisões, planejamento e intervenções e na resolução de conflitos. Considerações finais: as influências da formação acadêmica para liderança emergiram nos depoimentos marcadamente como negativas, pouco favorecendo a liderança. Pode-se visualizar a desvalorização no que se refere à liderança, destacando que existem fragilidades no processo ensino-aprendizagem e falta de vivências práticas na formação acadêmica. No entanto, compreende-se como limitações deste estudo a falta de dados sobre as percepções dos docentes e graduandos, bem como informações relativas ao processo de formação. Sugere-se a EPS como uma maneira de amenizar os problemas na formação acadêmica, sendo compreendida como um processo educativo, que abre possibilidades para o pensar e o fazer no ambiente de trabalho, enfatizando que as instituições podem contribuir e auxiliar na qualificação destes trabalhadores, fomentando habilidades para liderar, para assistir usuários com qualidade e favorecer o trabalho em equipe. Diante disto, a pesquisa reforçou que a formação de líderes é um desafio, não apenas para as instituições de ensino, como também para os próprios profissionais enfermeiros e serviços de saúde. Descritores: Enfermagem, Liderança, Educação Continuada. REFERÊNCIAS 1 Camelo SHH, Angerami ELS. Competência profissional: a construção de conceitos, estratégias desenvolvidas pelos serviços de saúde e implicações para a enfermagem. Texto contexto - enferm. 2013; 22 (2): 552-560. 2 Amestoy SC, Backes VMS, Thofehrn MB, Martini JG, Meirelles BHS, Trindade LL. Percepção dos enfermeiros sobre o processo de ensino-aprendizagem da liderança. Texto contexto - enferm. 2013;22(2):468-475. 3 Brasil. Resolução n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Diário Oficial da União. 9 Nov. 2001. |