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Anais :: 15º Senaden • ISSN: 2318-6518
Resumo: 110

Comunicação coordenada


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DA CONSCIÊNCIA TRANSITIVA INGÊNUA PARA A CONSCIENCIA TRANSITIVA CRÍTICA: PORTFÓLIO AVALIATIVO DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM

Autores:
Silvana Silveira Kempfer (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Mariely Carmelina Bernardi Fornari (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Marta Lenise do Prado (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Saionara Nunes de Oliveira (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Aline Massaroli (Universidade Federal de Santa Catarina)

Resumo:
Introdução: No estágio da consciência transitiva ingênua, os sujeitos fazem a leitura do mundo e de si mesmos de forma simples, utilizando suas vivências como base para a interpretação dos fatos. O homem-massa, é denominado por Freire como sendo o sujeito que absorve as coisas do mundo de forma prática, sem questionamentos, atua conforme as forças sociais, é conduzido sem reflexão e sem críticas1,2. Na consciência transitiva crítica, motivada por uma educação dialógica e ativa, o sujeito se torna capaz de reconhecer a causalidade dos fatos, além de, revelar-se e reconhecer-se como ser no mundo. Esta consciência conduz o homem à sua vocação ontológica e histórica possibilitando dialogar com argumentação, e consequentemente, direciona à criatividade, reflexão e ação sobre a realidade com vistas a transformação, tornando-o responsável por suas ações no âmbito pessoal, social e político1,2. Portanto, para superar a consciência transitiva ingênua é necessário um esforço individual, trata-se de uma transformação pessoal constante. Objetivo: compreender o processo de superação da consciência transitiva ingênua de estudantes e professores de enfermagem a partir da avaliação por meio do portfólio. Descrição metodológica: Estudo de caso do tipo etnográfico. Participaram cinco professores e 10 estudantes que vivenciaram o movimento da avaliação por meio do portfólio, em uma disciplina de um Curso de Graduação em Enfermagem de uma Universidade Federal do Sul do Brasil. O presente estudo integra o macro projeto intitulado "A Prática crítico-reflexiva e criativa na formação em Enfermagem", aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) no dia 30 de maio de 2011, por meio do processo 1941 e Folha de Rosto (FR) 419147. De março a setembro de 2014 os dados foram coletados, por meio de documentos, observação participante, vídeo e entrevistas abertas com professores e estudantes. A análise temática foi realizada a partir dos dados e organizada utilizando o software Atlas.ti®, seguindo as etapas de codificação e categorização. Emergiram duas categorias: Consciência transitiva ingênua sobre a avaliação realizada utilizando o portfólio; Consciência transitiva crítica sobre a avaliação da aprendizagem por meio do portfólio. Resultados: Baseados nas orientações realizadas no início da disciplina, os estudantes entendem que por meio do portfólio o professor tem a possibilidade de personalizar o processo de aprendizagem conforme as características dos sujeitos envolvidos, a partir da oportunidade de conhecer mais sobre cada estudante, identificar o que pensa, como se sente, o que aprendeu, quais foram as dúvidas que permaneceram e o que o estudante fez para superar essas dúvidas. Para cumprir a função formativa, a avaliação precisa ser compreendida como ação pedagógica, capaz de sustentar debates e provocar questionamentos a respeito dos significados e dos efeitos do processo de ensino, voltando-se para o acompanhamento do desenvolvimento e orientação da aprendizagem do estudante3. A abertura que o portfólio dá para o diálogo entre professor e estudante é uma das fortalezas desse modo de avaliar. A possibilidade do estudante manifestar-se, ser ouvido e, sentir-se parte de seu processo de formação, o coloca no caminho para atingir outro nível de consciência. Ao ser curioso, questionador e reflexivo, o sujeito pode alcançar o nível de consciência transitiva crítica, como um ser que pensa, que busca melhorar algo e que deseja experimentar, vivenciar, se mantendo em movimento contínuo de aprendizagem. O portfólio é percebido como um meio de comunicação, uma maneira de aproximar o estudante e o professor, permitindo ao estudante expressar de forma escrita o que gostaria de ter falado durante a aula, mas não se sentiu à vontade ou não teve tempo. Os estudantes também relatam que o portfólio possibilita a revisão do conteúdo, a busca por novas informações, ampliando assim o conhecimento. A partir disso, professores e estudantes têm a oportunidade de analisar constantemente os avanços e dificuldades durante o processo de ensino-aprendizagem, refletindo sobre o que deve ser mantido, transformado ou apenas complementado, permitindo uma ressignificação do processo pedagógico4. Ao escrever, o estudante reelabora seu conhecimento, escreve melhor, comunica-se com mais facilidade, aprendendo também sobre o conteúdo5. O acompanhamento da aprendizagem do estudante por meio do portfólio é uma tarefa árdua para o professor, porém, proporciona a ele uma oportunidade de revisitar a todo o tempo sua prática pedagógica por meio da auto avaliação do seu fazer docente, favorecendo ainda o aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem. Sendo assim, durante o processo de elaboração e avaliação do portfólio, os estudantes e professores superam a consciência transitiva ingênua sobre a técnica a partir de reflexões críticas que surgiram mediante dúvidas, curiosidade e diálogo entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Conclusão: Para alcançar uma consciência transitiva crítica, o individuo vivencia previamente um estado de consciência ingênua. Para avançar este outro nível de consciência é preciso interagir, demonstrar interesse, adquirir conhecimento sobre o assunto por meio de relações estabelecidas no contexto, compreender os fatos de forma crítica e inserir-se no processo de ensino-aprendizagem. O conhecimento a respeito do portfólio avaliativo começa a ser adquirido a partir do convívio com outros sujeitos que o vivenciaram. Contudo, a partir do momento em que elaboraram ou avaliaram o portfólio, é que os envolvidos se integraram no contexto. Neste momento, as dúvidas e os questionamentos começaram a surgir, e a busca por respostas permitiu que a consciência transitiva ingênua se transformasse em crítica, à medida em que a curiosidade emergia. Com o tempo, o sujeito - estudante e professor, passa a refletir sobre a sua experiência, de tal forma que, dependendo da curiosidade e iniciativa, torna-se questionador, problematizando. Essa atitude é que provoca a criticidade, possibilita e motiva o ser à criatividade, no sentido de pensar em estratégias capazes de transformar a realidade. Contribuições para a Enfermagem: O movimento provocado pela avaliação formativa e somativa por meio do portfólio embora seja sutil, é ativo, constante e capaz de provocar inquietações por parte dos estudantes e também dos professores, que de maneira geral, buscam o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem, por acreditarem que o ser é incompleto e está em constante construção.