Roda de Conversa
620 | PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NO ENSINO DE PRIMEIROS SOCORROS NA REALIDADE AMAZÔNICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA | Autores: Jessica Costa Mourao (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A região amazônica é permeada de diversidades e singularidades. O rio institui o alicerce de sobrevivência dos ribeirinhos, graças, sobretudo às terras férteis de suas margens, além de se apresentar como via de transporte. Sabendo disso, o acesso até o serviço de urgência e emergência mais próximo não é de fácil acesso, sabendo ainda que em uma situação de emergência cada segunda "vale ouro", se faz relevante capacitar a população dessa região para prestas os primeiros socorros á vitima até o tratamento definitivo. O atendimento de primeiros socorros deve ser prestado rapidamente, preciso e eficaz. Portanto qualquer pessoa, desde que seja bem instruída, pode prestar os Primeiros Socorros, conduzindo com serenidade, compreensão e confiança à população. Este relato de experiência é oriundo da vivencia do projeto de extensão: Processo de ensino e aprendizagem no ensino de primeiros socorros na realidade amazônica: educação em saúde para ribeirinhos, pertencente a faculdade de enfermagem da Universidade Federal do Pará (FAENF/UFPA). OBJETIVO: Relatar a experiência da equipe de um projeto de extensão do processo de ensino-aprendizagem no ensino de primeiros socorros em uma comunidade ribeirinha. METODOLOGIA: As ações do projeto de extensão são desenvolvidas pela por uma equipe de seis discentes do curso de graduação em enfermagem, duas discentes do curso de especialização em Urgência e Emergência da UFPA e duas docentes da FAENF/UFPA. A população atendida pelo projeto são os moradores da Ilha do Combú, localizado no município de Belém/Pará. As ações são previamente planejadas em conjunto com a equipe da Estratégia Saúde da Família da região, de acordo com a necessidade local; são abordados os acidentes mais frequentes na área. A Estratégia fica responsável pelo recrutamento da população ribeirinha e reserva do local onde acontecem as atividades. A exemplo, temos o centro comunitário, barracões, igrejas, a escola e etc. As atividades educativas foram pautadas em metodologias ativas, com ênfase na simulação realística e a educação problematizadora de Paulo Freire. Fez-se o uso de tecnologias leves para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Um levantamento das intercorrências mais comuns foi realizado a partir de relatos dos profissionais de saúde da área. Foi identificada uma grande demanda por acidentes com animais peçonhentos e traumatismo, principalmente lesões de extremidades, traumatismo crânio encefálico e raquimedular decorrente da queda dos ribeirinhos de árvores de grande porte, como o açaizeiro, pratica de extrativismo comum nessa região e por fim os casos envolvendo afogamento. RESULTADOS: A população se mostrou bastante receptiva para com a equipe e as atividades desenvolvidas. A medida que eram desenvolvidas as atividades, as dúvidas surgiam e logo eram sanadas por aqueles que estavam a frente da ação. Houve uma preocupação com o uso da terminologia técnica no repasse das informações, procurou-se utilizar linguajar próprio da população ribeirinha, fazendo analogia, quando necessário, de materiais específicos da localidade. Neste cenário ocorre uma constante propagação de conhecimento através das gerações como uma maneira de eternizar a identidade do grupo, os saberes e sua cultura. É importante que os profissionais de saúde reconheçam a necessidade de mudar, de valorizar o saber do outro, através da escuta e da participação ativa dos sujeitos nas ações de saúde, propiciando assim uma reflexão crítica, problematizadora, ética, estimulando a curiosidade, o diálogo, a escuta e a construção do conhecimento compartilhado. Ao cuidarmos da saúde do ser humano, não devemos somente nos limitar aos conceitos de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. É importante conhecermos o contexto cultural, os valores, as crenças, os rituais e o modo de vida do indivíduo e de suas famílias, numa perspectiva de construção de um novo paradigma para abordagem da saúde e da doença. Contudo, este aprendizado não foi unidirecional. Os extensionistas também aprenderam com o saber popular; os ribeirinhos, mesmo não tendo o conhecimento cientifico procuravam, de forma empírica contorna as situações de urgência e emergência que se apresentavam. Essa identificação nos leva a refletir sobre a incitação de Paulo Freire em sua obra: A pedagogia do Oprimido "A educação problematizadora possibilita que o homem se perceba crítico, visualizando como estão sendo no mundo com que e em que se acham. Permitindo à libertação, a criatividade e estimulo a reflexão de ações verdadeiras dos homens sobre a realidade"(1). O cuidado deve estar em continua relaçao com a educação, em que o profissional de saúde interage, desfazendo a visão de cuidado puramente técnico, para praticar um cuidado crítico, com base no conhecimento científico, medidas estas, que rompem as barreiras institucionais e individuais, adentrando à comunidade visando o coletivo. É importante conhecermos o contexto cultural, os valores, as crenças, os rituais e o modo de vida do indivíduo e de suas famílias, numa perspectiva de construção de um novo paradigma para abordagem da saúde e da doença. Tais ações são um processo de ensinar e aprender e não se restringe somente ao indivíduo, mas a família e a comunidade, onde apenas uma das partes não é detentora do conhecimento, já que o processo educativo não se resume na transmissão de informações, mas sim em uma profunda interação entre educador e educando. CONCLUSÃO: Apesar de sua grande relevância, tendo em vista a quantidade de agravos à saúde que acontece, cotidianamente, no trânsito, nos domicílios, no ambiente de trabalho e em outros locais, no Brasil, o ensino de primeiros socorros ainda é pouco difundido, prevalecendo o desconhecimento sobre o tema. Cabe ressaltar que não bastam somente teorias, medicamentos e informações para a saúde da população, é preciso entender a singularidade de cada pessoa, com seus problemas e suas diferenças, com seus valores e suas crenças; é importante conhecer o contexto cultural, os rituais e o modo de vida do indivíduo e de suas famílias, numa perspectiva de construção de um novo paradigma para abordagem da saúde e da doença(2). No desenvolver das ações educativas pode-se perceber que educar a população ribeirinha para que ela possa intervir frente aos agravos próprios de sua realidade na intenção de oferta suporte básico de vida também é uma forma de cuidar. Perpetuar informação é educar para a vida, interferindo nos problemas de saúde pública de forma que vidas possam ser salvas e agravos possam ser evitados através do conhecimento. Proporcionando mudanças de hábitos e condição educacional à população desfavorável, pois o conhecimento gera responsabilidade e nós, não podemos nos omitir. CONTRIBUIÇÕES/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: O tema proposto possui relevância para o curso de Enfermagem através da Educação em Saúde da população leiga além da contribuição com as políticas públicas voltadas para a temática em questão. É de fundamental importância o esclarecimento e treinamento da população para o atendimento nas situações de emergência. O enfermeiro como educação é parte integrante desse processo de aprendizagem. 1. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2015. 2. Monticelli, M. et al . Aplicações da Teoria Transcultural na prática da enfermagem a partir de dissertações de mestrado. Texto contexto - enferm., Florianópolis , v. 19, n. 2, p. 220-228, June 2010 Descritores: educação em saúde, primeiros socorros, ensino, promoção da saúde. |