Comunicação coordenada
417 | FATORES QUE INTERFEREM NA PRÁTICA DE EXAME FÍSICO ENTRE ENFERMEIROS DE UNIDADE HOSPITALAR | Autores: Leidiene Ferreira Santos (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS) ; Lyrra Moura Santos Carvalho Nery (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS) ; Cintia Flôres Mutti (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS) ; Nayane Sousa Silva Santos (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS) ; Leonora Rezende Pacheco (UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS) |
Resumo: INTRODUÇÃO: as ações da equipe de enfermagem devem embasar-se em conhecimentos técnico e científico, na humanização, na ética e no planejamento1. Assim, visando uma prática organizada e qualificada, em 2009 o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) publicou a resolução 358/2009, que dispõem sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) por meio da implementação do Processo de Enfermagem (PE). Destaca-se que a SAE deve ser implementada em todas as unidades em haja assistência de enfermagem2. O PE é composto por cinco etapas correlacionadas, interdependentes e recorrentes: coleta de dados, diagnósticos de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação2, e corrobora qualidade das informações e uso de pensamento crítico e raciocino clínico, favorecendo a qualidade da assistência de enfermagem1. Considerando que o exame físico faz parte da etapa de coleta de dados e que essa subsidia as demais etapas do Processo de Enfermagem2, a seguinte questão norteou o desenvolvimento dessa pesquisa: há fatores que interferem na realização do exame físico na prática do enfermeiro? Acredita-se que os resultados desse estudo podem contribuir para dar visibilidade às áreas de fragilidade na formação profissional e às ações desenvolvidas pelo enfermeiro no cenário de prática. OBJETIVO: identificar fatores que interferem na implementação do exame físico entre enfermeiros que atuam em uma unidade hospitalar de média complexidade. METODOLOGIA: trata-se de pesquisa descritiva e exploratória, de abordagem qualitativa, em que foram entrevistados enfermeiros da clínica médica de uma unidade hospitalar pública, localizada no Município de Palmas, Tocantins, no período de julho a agosto de 2015. Para coleta de dados utilizou-se entrevistas do tipo semiestruturada, que foram gravados em mídia digital, posteriormente transcritas e submetidas à Análise de Conteúdo3. As entrevistas foram norteados pelas seguintes questões: "Você realiza o exame físico de seu cliente?", "Descreva como você realiza o exame físico de seu cliente" e "Caso existam, fale-me sobre fatores que interferem na realização do exame físico na sua prática assistencial". Utilizou-se como critério para inclusão nessa pesquisa, ser enfermeiro que atuasse na unidade investigada há pelo menos seis meses, e de exclusão, estar afastado das atividades laborais por motivo de licença ou férias. A fim de preservar a identidade e evitar exposição e constrangimento, os entrevistados estão representados pela letra "E" e sistema alfa numérico. Essa pesquisa foi aprovada pela Secretaria Estadual de Saúde de Palmas e por Comitê e Ética em Pesquisa com seres humanos, protocolo 003/2015, e atendeu aos preceitos éticos da resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. RESULTADOS: do total de 26 enfermeiros que atuam na clínica investigada, 18 aceitaram participar da pesquisa e 6 estavam afastados das atividades laborais por motivo de férias ou licença. Dos entrevistados, a maioria é do sexo feminino (15; 83%), e a idade variou de 23 a 60 anos, sendo que predominou a idade de 23 a 30 anos (13; 72,2%). Ao serem questionados sobre a prática do exame físico, 6 (33,3%) enfermeiros afirmaram não realizar tal intervenção e 8 (44,4%) disseram realizá-la às vezes. O excesso de atividades durante a assistência foi mencionado como fator que compromete a realização do exame físico, como evidenciam as falas à seguir: "Porque o tempo não dá, tem muitas outras prioridades, assistência. Geralmente não dá tempo" (E2); "É corrido, e tipo é muita coisa para o enfermeiro fazer, entendeu? Por isso que, na maioria das vezes acaba que também com o dia a dia a gente acaba perdendo aquela rotina de ta fazendo e acaba desleixando também, é um dos fatores." (E9). As condições estruturais inadequadas da unidade de saúde também prejudicam a prática do exame físico: "Às vezes até falta algum instrumento porque a gente tem uma dificuldade muito grande. "[...] pra eu achar um esteto que tava prestando foi uma dificuldade." (E4); "[...] falta de tempo, falta de material, falta tudo." (E14). Entre os enfermeiros entrevistados, notou-se que há falta de conhecimento e habilidade para implementar o PE, especificamente a etapa de exame físico: "[...] até que palpar você sabe né, tudo você até que consegue. Mas, na hora de auscultar às vezes você num sabe identificar qual som é, certinho." (E4); "Sinto dificuldade na questão da ausculta né? Ausculta é mais complicado." (E10). Ainda, nem todas as etapas do PE são realizadas e, quando são, a sequência preconizada pela literatura científica frequentemente não é considerada, como evidenciam as falas a seguir: "É igual eu falei, só o básico mesmo, não faz ele inteiro não. Faz só o que precisa mesmo, faz só o básico, tipo um resumão do que mais precisa fazer." (E5); "[...] quando eu vejo um paciente que precisa auscultar vou lá e ausculto, mas na admissão geralmente eu vou lá, converso, pergunto e tal, mas aquele céfalo-caudal não." (E4). CONSIDERAÇÕES FINAIS: o processo de implementação do exame físico, por enfermeiros, pode ser influenciado por diversos fatores. A falta de organização institucional, de materiais e de recursos humanos, gera no enfermeiro sentimento de culpa e frustração por não poder realizar um requisito legal da profissão. Percebeu-se, também, que o excesso de atividades dificulta a realização de intervenções indispensáveis para prevenção e promoção da saúde do cliente, tais como o exame físico, e pode comprometer a qualidade da assistência dispensada pelos enfermeiros. Conclui-se que o exame físico, quando realizado, nem sempre atende as diretrizes recomendadas pela literatura científica. Tal situação ocorre pela falta de habilidade e conhecimento dos profissionais e/ou pela falta de tempo e estrutura adequada para implementar tal atividade. IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: os resultados dessa pesquisa sugerem que a falta de conhecimentos e habilidades do enfermeiro para implementar o PE podem estar associados à fragilidades em relação a formação profissional. Tal situação, por sua vez, indica ausência de disciplinas especificas, direcionadas à práticas propedêuticas de avaliação do indivíduo ou, até mesmo, carga horária insuficiente nas disciplinas que abordam essa temática. DESCRITORES: Exame Físico, Processo de Enfermagem, Sistematização da Assistência de Enfermagem. REFERÊNCIAS 1- Garcia TR. Sistematização da assistência de enfermagem: aspecto substantivo da prática profissional. Esc Anna Nery 2016;20(1):5-10 2- Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução Nº 358 do Conselho Federal de Enfermagem, de 15 de outubro de 2009 (BR). 2009 [citado 23 jul 2016]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html 3- Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2011. |