Comunicação coordenada
410 | QUALIDADE DA EDUCAÇÃO E AS POLÍTICAS SOCIAIS | Autores: Patrícia Peres de Oliveira (Universidade Federal de São João del-Rei) ; Edilene Aparecida Araújo da Silveira (Universidade Federal de São João del-Rei) ; Andrea Bezerra Rodrigues (Universidade Federal do Ceará) |
Resumo: Introdução: Entende-se que é difícil, mesmo entre especialistas, chegar-se a um conceito unívoco do que seja qualidade da educação. A qualidade envolve muitas variáveis; é um termo polissêmico, guardando infinidades de representações. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, dentre as competências que o enfermeiro deve possuir, entre outras, está a compreensão das políticas sociais e o perfil epidemiológico da população, como determinantes das políticas de saúde. Desse modo, torna-se essencial refletir sobre a qualidade da educação e as políticas sociais na formação do enfermeiro. Encontram-se vários teóricos com diferentes percepções e pontos de vista sobre a qualidade da educação e políticas sociais. Objetivo: refletir sobre a qualidade da educação e as políticas sociais na formação do enfermeiro, sem a pretensão de esgotá-la, segundo Henry Giroux, autor crítico cultural e um dos teóricos fundadores da pedagogia crítica. Metodologia: há inúmeros caminhos para se refletir sobre a produção de um conhecimento de uma área. Optou-se por uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa. O material para leitura e reflexão foi selecionado a partir de pesquisa das obras de Giroux. Resultados: a partir da análise dos trabalhos emergiram três focos temáticos: política social na área educacional, a participação dos educadores na qualidade da educação e os desafios para qualidade na educação. Política social na área educacional - no Brasil o Programa Universidade para Todos (PROUNI), criado em 2005, objetivou conceder bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de cursos sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. Como uma política de ação afirmativa, portanto uma política social, como estratégia de redução da exclusão social, causada pela pobreza e as privações inerentes a esta condição, possibilitou a inserção de mais indivíduos na formação nível superior. Um dos principais desafios das políticas públicas é ter a capacidade de emancipar o indivíduo, conferindo-lhe autonomia para a vida em sociedade e dando-lhe oportunidades para uma inserção digna. Giroux afirma que a formação do indivíduo se dá por meio da ampliação da consciência coletiva, que é efetuada concretamente no processo de trabalho que cria o próprio homem. As suas condições reais de vida na sociedade e suas múltiplas determinações devem ser consideradas1,2. A participação dos educadores na qualidade da educação - os educadores em todos os níveis do sistema educativo e por todo o mundo sentem uma desmotivação crescente e frustração, pois se sentem ultimamente forçados a recuar em vez de avançar, no sentido de criarem desafios para si próprios, quer na sua condição de profissionais, quer de cidadãos, a fim de corresponderem às necessidades das nossas sociedades em rápida mudança1-2. Em várias obras, Giroux tem incitado os educadores e os acadêmicos a reagir a estas forças paralisantes e a serem críticos e criativos1,3-4. No seu entendimento, necessita-se de vontade coletiva para reformar as escolas e desenvolver modos de prática pedagógica em que professores e alunos se tornem agentes críticos que questionem ativamente e negociem a relação entre teoria e prática, entre a análise crítica e o senso comum e entre a aprendizagem e a transformação social3. Afirma a importância de uma pedagogia da responsabilidade, pelo papel social e político dos educadores. Os professores deveriam dar-se à liberdade de desenhar os currículos escolares, empreender investigação partilhada com outros professores e com outros fora da escola e ainda de ter um papel central na gestão da escola e do seu próprio trabalho. A autoridade pedagógica dos professores não pode se separar das questões de poder e de gestão1,5. Os educadores precisam assumir a responsabilidade de ligar o seu trabalho às questões sociais mais amplas, interrogando-se sobre o que significa capacitar os seus alunos para escrever textos políticos, para ser perseverantes perante a derrota, para analisar os problemas sociais e para aprender a utilizar os instrumentos da democracia e a marcar a diferença como agente social. Assim, será possível a qualidade da educação5. Diante das reformas curriculares, a melhor postura dos professores reside em assumi-las como um desafio para garantir a qualidade2,4. A partir da reflexão das obras do autor inferiu-se que a principal contribuição do autor sobre a qualidade da educação está focada na formação do profissional, em considerar o professor não só como intelectual, mas como intelectual transformador, cuja tônica está em tornar o pedagógico mais político e o político mais pedagógico. Os desafios para qualidade na educação - segundo Giroux, um dos nossos maiores desafios é caminhar para uma qualidade na educação que integre todas as dimensões do ser humano, com a formação de sujeitos sociais preparados para contribuírem de forma relevante para o bem-estar social. Para isso, precisa-se de pessoas que façam essa integração em si mesmas, do sensorial, intelectual, emocional, ético e tecnológico, que transitem de forma fácil entre o pessoal e o social2,4. A qualidade da educação é aquela que garante ao cidadão acesso, compreensão e uso das possibilidades a ele concedidas pelo conhecimento, de forma crítica, cidadã e ética1,5. Parafraseando Giroux, a garantia de uma educação de qualidade que ofereça possibilidades reais de progresso dentro do contexto social, econômico e político em que vivemos, a todo e qualquer cidadão, não deveria ser apenas um belo discurso apregoado nas leis3,4. Outro desafio que Giroux nos traz é a construção de uma pedagogia radical que se vincule, consistentemente, à prática educacional que supõe uma leitura crítica capaz de explicitar a articulação dialética entre as estruturas de dominação e os atos de resistência e transformação1-5. Considerações finais: as universidades/faculdades precisam ser locais de lutas para as reformas educacionais em defesa da ideologia almejada. Porém, exigem-se profissionais com engajamento político, na medida em que não se pode agir na neutralidade. É preciso assumir uma ideologia de luta, na medida em que professores tanto podem contribuir para a hegemonia dominante, quanto atuarem como intelectuais transformadores. A formação precisa ser um processo dinâmico de humanização a fim de garantir qualidade na educação e, é preciso desenvolver programas nos quais os futuros profissionais possam ser educados como intelectuais transformadores. Implicações para a enfermagem: a busca por melhores condições de trabalho, a valorização dos profissionais da enfermagem, a gestão democrática, a avaliação, a formação docente, comprometidas com um projeto de emancipação humana são caminhos para alcançarmos a qualidade da educação. Descritores: Educação; Enfermagem; Políticas. |