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Anais :: 15º Senaden • ISSN: 2318-6518
Resumo: 352

Comunicação coordenada


352

A ATUAÇÃO POLÍTICA DO ENFERMEIRO NA DEFESA A SAÚDE

Autores:
Elen Cristiane Gandra (Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais.) ; Kënia Lara Silva (Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais.) ; Roseni Rosangela de Sena (Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais.)

Resumo:
INTRODUÇÃO: A promoção da saúde configura-se como estratégia de mudança nos modelos tecnoassistenciais a partir da compreensão do processo saúde-doença e de seus determinantes, da proposição de construção de outras possibilidades e da configuração de novos saberes e fazeres que ampliem as alternativas de qualidade de saúde e vida da população (BUSS, 2000; BRASIL, 2006). Entende-se que para a incorporação da promoção da saúde ao cotidiano do ensino e das práticas dos profissionais de saúde requer mudanças na educação e no ensino dos profissionais, visto que demandam novas competências para atuar em favor da promoção da saúde. A partir 2008, surgem iniciativas em diferentes países impulsionadas para a sistematização das competências centrais para a promoção da saúde. Destaca-se a Conferência para o "Consenso de Galway", o qual representou um esforço em propor um acordo global sobre os princípios fundamentais e de trabalho direcionados à promoção da saúde (MCQUEEN, 2009). A declaração do "Consenso de Galway" aponta valores, princípios e domínios de competências centrais requeridas para o engajamento eficaz nas práticas de promoção da saúde, a saber: catalisação de mudanças, liderança, estimativa/diagnóstico, planejamento, implementação, avaliação, advocacia e parcerias. Para fins desse estudo, optou-se por direcionar a abordagem da competência "advocacia em saúde" por reconhecer essa como uma competência profissional para a ação na promoção da saúde, que representa uma característica de atuação profissional para reivindicar com e para indivíduos, comunidades e organizações para melhorar a saúde e bem-estar (DEMPSEY; BATTEL-KIRK; BARRY, 2011). Há pouca evidência de sua utilização na prática de enfermagem. Diante disso, e com o intuito de aprofundar a discussão, explorou-se a apreensão dos participantes sobre o papel político do enfermeiro na defesa de alguma causa e/ou na reivindicação de melhorias para o setor da saúde, a exemplo da defesa de ações para a promoção da saúde. Considera-se, portanto, a expressão "papel político" como uma extensão da ideia de advocacia em saúde, já que, para que se advogue pela saúde, é necessário um trabalho de articulação na defesa de alguma causa e/ou paciente, da população ou grupos prioritários e que se reflita sobre os princípios da promoção da saúde. Dessa forma, mediante o conceito da competência advocacia em saúde, destaca-se o "papel político" como um dos principais meios, uma das principais estratégias, para exercer a advocacia em saúde. OBJETIVOS: Analisar a apreensão do papel político do enfermeiro na defesa da saúde, enquanto competência para promoção da saúde na formação do enfermeiro em uma escola de enfermagem pública do Estado de Minas Gerais, Brasil. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA: Trata-se de um estudo de caso qualitativo e os dados foram obtidos por entrevistas com docentes e estudantes da graduação em enfermagem de uma universidade pública no estado de Minas Gerais. Os dados foram analisados utilizando Análise Crítica do Discurso propostos por Norman Fairclough (FAIRCLOUGH, 2001). O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG sob parecer CAAE: 08863612.0.0000.5149. RESULTADOS: Apreendeu-se a atuação política da enfermagem ao propor sua prática como possibilidade para a advocacia em saúde. Na perspectiva dos docentes, evidencia-se um discurso saudosista, atrelado à memória do passado ao realizarem uma avaliação do processo histórico de mobilização social, demarcada pela temporalidade dos movimentos decisórios da construção do SUS, destacando a enfermagem como categoria de articulação importante nesses movimentos. No entanto, manifestou-se o sentimento de que o contexto da geração atual determina a atuação do enfermeiro como "muito dócil, tímido, introvertido, desmotivado", indicando a necessidade de se retomar a garra, a força e a voz da categoria. No caso do discurso dos discentes, compreende-se que os mesmos reafirmam a fragilidade do papel político da enfermagem. Isso pode ser percebido pela caracterização da categoria como "sem força" e "sem voz", remetendo, sobretudo, a sua baixa representatividade política no cenário nacional e no campo da saúde. No contexto do estudo, essa fragilidade aparece associada aos limites dos espaços de articulação na formação profissional, onde se encontra atrelado a um interesse individual do aluno em articular novos espaços e causas levantadas. Notam-se, ainda, inquietações dos discentes ao compreenderem a fragilidade da enfermagem no contexto social e no campo da saúde, no entanto se mantém um discurso de esperança de mudança, ainda que não vislumbrem um horizonte palpável para a defesa da categoria. De forma geral, a abordagem do papel político nos discursos apresenta-se direcionada às questões da categoria profissional, no sentido de luta pela categoria. Apresentaram-se apenas pontualmente os aspectos políticos da defesa da saúde em seu sentido amplo. Há o claro reconhecimento de que a abordagem do papel político na formação profissional não se enquadra em uma disciplina ou um conteúdo, sendo perceptível no discurso dos participantes a negação da fragmentação do ensino e a crítica ao processo de formação centrado na técnica. A vivência nos estágios curriculares, com destaque para o internato rural, encontra-se como a principal estratégia indicada para o desenvolvimento das competências para a promoção da saúde na formação do enfermeiro. Entretanto, chama atenção a insuficiência de estratégias que desenvolvam a competência política do enfermeiro, uma vez que os dispositivos reconhecidos como potenciais para esse processo já estão incorporados na formação, sem, contudo, possibilitar o salto de qualidade para uma atuação efetiva e socialmente reconhecida. Com isso, indica-se, dialeticamente, a necessidade de se superarem as contradições e avançar em movimentos que reforcem o papel político, crítico e ativo do enfermeiro, desde a sua formação, na defesa da saúde e na garantia da cidadania, como competência central para a promoção da saúde. CONCLUSÃO: Em síntese, os achados referentes ao papel político do enfermeiro na formação acadêmica refletem ao sentido de Ainda-Não estamos desenvolvendo o papel político na formação do enfermeiro, indicando uma perspectiva de mudança que não existe no presente, mas que se faz possível no futuro. IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Acredita-se que a pesquisa poderá contribuir para o desenvolvimento de novos olhares para a formação profissional em saúde e especificamente na enfermagem, em uma perspectiva mais ativa do profissional de saúde na defesa da saúde e na garantia da cidadania. Essa compreensão sugere o esforço dos princípios da participação e a corresponsabilização dos profissionais e usuários como elementos indispensáveis para a construção da cidadania e a redução das desigualdades sociais. 1. BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p. 167-77, 2000. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Portaria n° 687 de 30 de março de 2006. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 3. MCQUEEN, D. V. The Galway Consensus. Global Health Promotion, v. 16, n. 2, p. 03-04, 2009. 4. DEMPSEY, C.; BATTEL-KIRK, B.; BARRY, M. M. The CompHP Core Competencies Framework for Health Promotion. Paris: IUPES, 2011. Disponível em: . Acesso em: 08 ago. 2012. 5. FAIRCLOUGH, N. [1992]. Discurso e mudança social. Coordenação, tradução, revisão e prefácio de I. Magalhães. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2001