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Anais :: 15º Senaden • ISSN: 2318-6518
Resumo: 253

Comunicação coordenada


253

FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS QUE ATENDAM A DEMANDA DO SUS NO EIXO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:POSSIBILIDADES E LIMITES

Autores:
Maria Conceição Bernardo de Mello E Souza (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP).) ; Tatiana Maria Coelho Veloso (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP).)

Resumo:
FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS QUE ATENDAM A DEMANDA DO SUS NO EIXO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: POSSIBILIDADES E LIMITES Maria Conceição Bernardo de Mello e Souza Tatiana Maria Coelho Veloso Dentre as possibilidades para promover a efetiva implementação da Atenção Primária à Saúde (APS), tem-se a intervenção nos processos de formação dos profissionais, que assume papel relevante, reorientando o trabalho em saúde para o desenvolvimento do SUS e da APS. Com o intuito de identificar se a formação de enfermeiros tem sido implementada nessa direção, realizou-se esse estudo que teve por objetivo conhecer a percepção dos alunos de bacharelado em enfermagem de uma universidade pública do interior do Estado de São Paulo, acerca da formação de profissionais que atendam a demanda do SUS no eixo da APS.Trata-se de pesquisa exploratória descritiva, de natureza qualitativa, a qual participaram 17 alunos do último ano do curso de graduação em enfermagem, que foram entrevistados e tiveram seus relatos audiogravados e transcritos. A amostra foi intencional (saturação teórica). As entrevistas foram submetidas à Análise de Conteúdo de Bardin1. Também se fez a análise documental do PPP do curso. Foi possível identificar dois grupos frente à percepção dos alunos para atuarem na APS. Um que entendeu que a formação foi satisfatória e outro que, de forma discordante, acredita que poderia ter sido melhor, pois a centralidade de vivências hospitalares ao longo do curso de graduação, com uma sensação de lacuna na formação colaborou para que se sentissem inseguros ou despreparados para atuar nessa área. Os alunos que se revelaram satisfeitos com a formação apontaram como aspectos positivos a oportunidade de obter conhecimento embasado cientificamente, o que os tornaria aptos para atuar nessa área. Destacaram as experiências práticas e, especialmente o estágio curricular supervisionado (ECS), como favorecedores para que se sentissem seguros frente à possibilidade de trabalharem na APS. Apesar deles não terem usado o termo "educação permanente em saúde", os alunos denotaram que são capazes de aprender continuamente, conforme destacado no rol das competências gerais apontadas pela DCN do curso de enfermagem. Mais do que oferecer as respostas, o período de formação deverá ajudar o estudante no sentido de identificar suas perguntas e como tentar encontrar as respostas. O que se tem, então, é um profissional em permanente formação, e não alguém que, ingenuamente, considera-se inteiramente preparado ao final do ciclo de graduação. Os alunos que entenderam que a formação para APS poderia ter sido mais fortalecida, destacaram a reduzida carga horária em atividades em cenários na APS, com predomínio das vivências hospitalares. Eles acreditam que ainda há uma centralidade da formação no contexto hospitalar, o que corrobora para que se sintam despreparados ou inseguros para atuar em atenção primária. A política de formação de recursos humanos para o SUS destaca a diversificação de cenários de aprendizagem como primordial, ampliando para além do hospital como lócus privilegiado de formação, porém, esse deslocamento ou "des-hospitalização" do processo de ensino-aprendizagem, apesar de todo o incentivo às mudanças, ocorre ainda com resistência por parte da comunidade acadêmica. A resistência na reorientação da educação nos cursos da área da saúde implica em implementação de mudanças que não se dá de forma estática, sendo um processo dinâmico e acidentado, intercalado por avanços e retrocessos2. A autora ainda enfatiza ser necessário, cotidianamente, construir espaços que transformem concepções de saúde, práticas e relações de poder das universidades e dos serviços. Os estudantes também destacaram que o currículo do curso de graduação não tem um equilíbrio no que diz respeito às disciplinas com enfoque na atenção primária em relação às da área hospitalar. Eles identificaram um prejuízo em decorrência da sensação de lacuna ou "quebra" na formação, considerando o distanciamento entre as primeiras imersões (primeiro ano) e o estágio curricular supervisionado (ECS) (quarto ano). O ECS, que deveria ser a finalização de um processo, torna-se um momento para compensar a ausência de disciplinas nos outros anos da graduação. Ressalta-se que, por ser a percepção dos alunos, é possível que tenham tido experiências, mas que não se mostraram significativas para os graduandos. Os alunos falam do desconhecimento do papel e das atividades do enfermeiro na APS, no último ano do curso, dando a entender que a referência até aquele momento é do profissional da área hospitalar. Pode-se então observar o isolamento do ECS dentro da formação, como atividade que possibilita conhecer a realidade dos serviços de saúde do SUS3. Apesar de terem tido uma inserção oportuna, no primeiro ano do curso, o currículo parece não conseguir sustentar essa referência (de APS) na formação, prejudicando o conhecimento gradativo do estudante nesse contexto. Tal realidade poderá sugerir que a forma como se dá a inclusão das disciplinas e estágios em APS acontece de forma a manter o conhecimento fragmentado. Assim, pode-se dizer que, apesar do PPP do curso de enfermagem citar o currículo integrado como proposta pedagógica do curso, ainda há sua operacionalização de forma semelhante à do modelo de currículo disciplinar, quando se fragmenta o conhecimento, esperando que o aluno realize as sínteses necessárias em torno das temáticas estudadas. O currículo disciplinar é o mais comum dentre os cursos da área da saúde, sendo por vezes considerado cômodo e útil por estruturar uma ordem lógica e linear aos temas. Dentre as características "tradicionais", a intradisciplinaridade é uma delas, quando os conteúdos são vistos apenas dentro do recorte daquela disciplina, não dialogando com outras disciplinas, nem em outros momentos do curso4. A percepção dos alunos de enfermagem investigados é que uma formação significativa para a atuação em APS deve estimular a busca pelo conhecimento científico como base para o trabalho, bem como as vivências práticas na área, em especial como o estágio curricular. Entendem que a graduação não deve ser predominantemente no hospital, ampliando as possibilidades de aprendizagem na APS mediante um dialogo constante ao longo da graduação com a área. Durante todo o curso de graduação faz-se necessário inserir atividades curriculares que possam favorecer ao aluno compreender a importância da APS e o papel do enfermeiro. Além da necessidade da comunidade acadêmica realizar avalições de forma que contradições entre o que é posto pelo PPP e o que os estudantes vivenciam seja minimizadas, favorecendo concretizar as opções curriculares realizadas. Referências 1. Bardin L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2011. 2. Nogueira MI. As mudanças na educação médica brasileira em perspectiva: reflexões sobre a emergência de um novo estilo de pensamento. Rev. Bras Educ Méd 2009; 33 (2): 262-70. 3. Leme PAT, Pereira AC, Meneghim MC, Mialhe FL. Perspectivas de graduandos em odontologia acerca das experiências na atenção básica para sua formação em saúde. Ciênc saúde colet 2015; 20(4): 1255-1265. 4. Maia JA. O currículo no ensino superior em saúde. In: Batista NA. Docência em saúde: temas e experiências. São Paulo: Senac, 2004. p. 101-133. Descritores: Atenção Primária à Saúde; Educação em Enfermagem Eixo Temático: Eixo 2 - A formação em Enfermagem: da política à prática profissional Área temática: Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem