Comunicação coordenada
251 | ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS PARA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO SOB OLHAR DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO | Autores: Maria Conceição Bernardo de Mello E Souza (Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo) ; Tatiana Maria Coelho Veloso (Escola de Enfermagem de Ribeirao Preto da Universidade de Sao Paulo) |
Resumo: ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS PARA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO SOB OLHAR DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO Maria Conceição Bernardo de Mello e Souza Tatiana Maria Coelho Veloso O trabalho na Atenção Primária à Saúde (APS) apresenta-se de forma complexa, sendo necessário que o profissional de saúde tenha um arsenal de saberes que deveriam ser adquiridos e desenvolvidos durante a graduação. No entanto, pesquisas têm apontado que os currículos das Instituições de Ensino Superior (IES) ainda são fortemente marcados pelo viés biologicista, mostrando-se inadequados às necessidades de atuação do profissional na APS com vistas ao fortalecimento do SUS1-2.O atual estudo que teve por objetivo compreender quais os conhecimentos que os alunos do último ano do Curso de Bacharelado em Enfermagem de uma universidade pública do interior paulista identificam como relevantes para atuarem em APS, bem como analisar o Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso a fim de identificar eixos que norteiam os conhecimentos apontados pelos estudantes. Trata-se de pesquisa exploratória descritiva, de natureza qualitativa. Os participantes foram 17 alunos do último ano do curso de graduação. A amostra foi intencional por saturação teórica. Os alunos foram entrevistados e seus relatos audiogravados, transcritos e realizada Análise de Conteúdo de Bardin3. Realizou-se a análise documental do PPP do curso. Os estudantes investigados apontaram que são necessários para atuar em APS: conhecimentos técnicos, de políticas de saúde, os relativos ao relacionamento com o usuário e os utilizados para o trabalho em equipe. Para a maioria dos alunos, a atuação na APS requer articulação desses múltiplos saberes e, dessa forma, os conhecimentos relevantes são, na verdade, uma combinação de conhecimentos técnicos, de políticas de saúde, com algum aspecto de relacionamento (usuários ou equipe). Isso aponta para um diálogo entre o que foi posto pelo PPP e o que foi apreendido pelos alunos. O PPP do curso tem a intenção de formar um profissional generalista, que se trata da articulação desse conjunto de saberes, o clínico articulado com a epidemiologia, educação em saúde e o trabalho em equipe multiprofissional, a gestão com as relações humanas, o vínculo com o conhecimento do território, que devem dialogar formando um conjunto de características que subsidiam o fazer em saúde em uma equipe de APS4. O "conhecimento técnico", para os alunos de enfermagem, consiste em saber de várias áreas, mais frequentemente denominadas de saúde da criança, da mulher, do homem e do idoso; ser generalista; ter um olhar clínico/conhecer patologias frequentes; saber realizar consultas, diagnóstico e procedimentos de enfermagem; identificar as necessidades do paciente. O PPP apresenta aspectos que direcionam para esse tipo de saber na busca por um aluno que entenda e amplie o que ocorre, devendo o futuro profissional da área ser instigado a identificar necessidades e intervir nesta realidade. Entende-se que o saber técnico deve estar contemplado em um currículo com vistas a uma boa formação em APS. Jamais atuar nesse nível de atenção deverá significar "saber pouco" ou de forma superficial. As habilidades técnicas e os conhecimentos específicos têm sua importância notória, mas que se tenha clareza, por outro lado, que o cuidado dá-se para além dessa realidade. Sobre o conhecimento em "políticas de saúde", os alunos investigados consideram necessário conhecer leis, princípios e funcionamento do SUS, saber das políticas de saúde e como a rede de saúde se organiza, os serviços que compõem a rede e o fluxo de encaminhamentos entre eles. O papel da APS nessa rede e do profissional atuando nesse contexto. Além disso, nesse aspecto foi incluída a dimensão da integralidade no sentido de oferta de serviços que incluam prevenção, promoção, assistência e reabilitação, bem como as questões referentes ao território. Dialogando com as falas dos estudantes investigados, o PPP traz aspectos referentes ao conhecimento de políticas de saúde e traz um referencial de APS ancorado na perspectiva do papel desse serviço na rede de saúde. Outro aspecto que o PPP aborda é a questão de formarem alunos para conhecer as políticas de saúde, mas também participarem de forma a transformar o contexto das mesmas. Apesar disso, os alunos não citaram a participação social como algo relevante para atuar na APS, nem o trabalho intersetorial, de marcada relevância no cotidiano dos serviços. No que diz respeito ao aspecto do saber "relacionar-se com a comunidade", os alunos enfatizaram a necessidade de aproximar-se da comunidade, interagir com o paciente e sua família, saber conversar, acolher e criar vínculo. Nesse sentido, a integralidade é entendida como ver o paciente numa perspectiva biopsicossocial. Uma formação em saúde não pode prescindir do principal objeto de trabalho, que são as práticas cuidadoras das pessoas5. O saber "trabalhar em equipe" é apontado como o conhecimento necessário para atuar em equipe multiprofissional, conhecendo o papel de cada um na equipe, bem como aquele referente ao relacionamento interpessoal. A atuação em equipe multiprofissional é apontada pelo PPP, mas não define o que entende por atuação multiprofissional nem quais práticas garantiriam isso. Os alunos não citaram nem fizeram articulação dos saberes considerados de ciências básicas (anatomia, fisiologia, patologia, por exemplo) com os utilizados no cotidiano da APS. É possível concluir que os alunos de enfermagem apontam diversos saberes importantes para desenvolverem um trabalho na APS. Eles vão além da dimensão biológica, ressaltando a necessidade de articulação entre o saber técnico da profissão, com o de políticas de saúde e o saber relacionar-se (com os usuários e os profissionais) para garantia da integralidade do cuidado, o que, de certa forma, encontra-se coerente com o PPP do curso. O estudo revela que a formação na graduação tem colaborado de forma positiva para que os futuros enfermeiros tenham uma concepção ampliada da atuação na APS, influenciando certamente na compreensão do processo saúde- doença, que transcende a dimensão biológica. Identificou-se a necessidade do PPP explicitar conceitos e definir estratégias para o alcance das propostas pedagógicas. Por fim, aponta-se para o desafio de inclusão do graduando nas instâncias de participação social, de forma que possa colaborar para novas conquistas para o SUS. Referências 1. Leme PAT, Pereira AC, Meneghim MC, Mialhe FL. Perspectivas de graduandos em odontologia acerca das experiências na atenção básica para sua formação em saúde. Ciênc saúde colet 2015; 20(4): 1255-1265. 2. Motta LCS, Siqueira-Batista R. Estratégia saúde da família: clínica e crítica. Rev Bras Educ Med 2015; 39 (2): p.196-207. 3. Bardin L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2011. 4. Santos SSC. Perfil de egresso de curso de enfermagem nas diretrizes curriculares nacionais: uma aproximação. Rev. Bras. Enferm 2006 Mar-Abr; 59(2): 217-221. 5. Carvalho YM, Ceccim RB. Formação e educação em saúde: aprendizados com a saúde coletiva. In: Campos GWS, Bonfim JRA, Minayo MCS, Akerman M, Drumond Júnior M, Carvalho YM, organizadores. Tratado de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro: Hucitec, 2008. p.137-170. Descritores: Atenção Primária à Saúde; Educação em Enfermagem Eixo Temático: Eixo 2 - A formação em Enfermagem: da política à prática profissional Área temática: Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem |