Comunicação coordenada
137 | SIGNIFICADOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO PARA COORDENADORES DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM NO BRASIL | Autores: Ana Karolliny Testoni (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Daniele Delacanal Lazzari (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Marta Lenise do Prado (Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo: Introdução: Estes são novos tempos para a pós-graduação stricto sensu em enfermagem no Brasil. A consolidação da pós-graduação strictu sensu brasileira perpassa pela conquista do espaço internacional da ciência da enfermagem. Por isso, o processo de internacionalização dos programas de pós-graduação em Enfermagem (e em todas as áreas do conhecimento) vem desafiando docentes e discentes, tendo em vista medidas indutoras da CAPES, especialmente evidenciadas nos critérios de avaliação e acompanhamento. O fomento e estímulo à internacionalização está assegurado pelo modelo de avaliação da CAPES, que definiu indicadores qualitativos para avaliar a excelência internacional dos programas diferenciados (conceito 6) e altamente diferenciados (conceito 7) em relação aos demais programas de pós-graduação em enfermagem brasileiros. O desafio da enfermagem atual é promover a formação de doutores com competência para a pesquisa em nível internacional[1]. É preciso refletir sobre como a internacionalização é compreendida pelos programas de pós-graduação em enfermagem e os reflexos dessa indução na formação de cientistas em enfermagem. Objetivo: compreender o significado da internacionalização atribuído pelos coordenadores de programas de pós-graduação brasileiros. Descrição metodológica: trata-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem descritivo-reflexiva. Participaram ao todo seis coordenadores de programas de pós-graduação em enfermagem avaliados pelo Sistema Nacional de Pós-Graduação brasileiro. Foram realizadas entrevistas seguindo roteiro semi-estruturado composto de sete perguntas em consonância com o objetivo do estudo. Foram realizadas duas entrevistas presencialmente, três entrevistas via web conferencia (Skype®) e uma entrevista via contato telefônico. O tratamento dos dados seguiu a proposta operativa para análise dos dados qualitativos de Minayo. O projeto respeitou os aspectos éticos regulamentados pela Resolução nº 466/2012 sobre a pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil. Resultados: emergiram cinco categorias: 1) Internacionalizar é realizar intercâmbios, permitindo a troca de recursos e informações de modo bilateral, entendendo-se que a abertura das universidades é essencial para o progresso científico; 2) Internacionalizar é conquistar prestígio institucional, pois localiza a instituição no cenário nacional e internacional, refletindo em termos no sistema de avaliação da pós-graduação como de 'excelência nacional e internacional', 'fator de impacto' e financiamento; 3) Internacionalizar promove a ampliação de conhecimentos e a visibilidade da enfermagem brasileira, o que contribui para a visibilidade da enfermagem brasileira no cenário internacional, fomentando o consumo dos conhecimentos produzidos nacionalmente traduzidos em publicações e inovações; 4) Internacionalizar é um critério da CAPES, não sendo almejada como um movimento natural de difusão do conhecimento, mas antes enquanto critério de indução é compreendida como um mecanismo de pressão e de obrigação; 5) Internacionalizar é promover cultura, reconhecendo nesse movimento uma oportunidade de crescimento profissional e também pessoal, com destaque para o domínio de outro idioma, além de aproximação com novos conhecimentos da área de estudo e cultura estrangeira. Conclusão: As categorias apresentadas expressam o modo como os coordenadores apreendem a internacionalização e significam o seu papel no contexto do sistema de pós-graduação em enfermagem. Os achados principais permitem inferir que embora pareça haver um consenso em relação aos benefícios da internacionalização para a formação científica de enfermeiros, esses consensos parecem estar legitimados e desprovidos de um debate teórico ampliado que coloquem em evidência diferentes concepções e interpretações de apropriação da internacionalização. Aspectos relacionados à pressão para indução da internacionalização pelos programas de pós-graduação denunciam um mal-estar acadêmico pela influencia que o modo de produção capitalista exerce sobre as instituições de ensino[2,3]. Para além do atendimento de um critério da agencia de fomento, são elencados outros significados para a internacionalização, suscitando a problematização sobre a relação do conhecimento que é produzido pelo doutor em enfermagem e o significado do homem no contexto em que se insere[4], nesse caso, a reflexão se debruça sobre qual deve ser o compromisso do doutor em enfermagem na atualidade? É importante resgatar a responsabilidade da comunidade científico-acadêmica nesse processo, pois a internacionalização tem recebido destaque nas atividades e agendas dos programas de pós-graduação da área. Compreender a internacionalização desprovida de um contexto de coação, com consciência e garantia de liberdade reflexiva seria o cenário ideal para ressignificar a internacionalização da pós-graduação da enfermagem brasileira. Enquanto permanecer mediado por uma lógica indutora e reducionista, não há o que se compreender da internacionalização, é antes uma escolha estratégica desprovida de legitimação. Implicações para a enfermagem: A globalização e o modelo econômico vigente exercem influência direta sobre as universidades, sob as quais recai o desafio da reconfiguração dessas instituições em organizações capazes de competir internacionalmente pela produção de ciência e tecnologias inovadoras, promovendo o poder de disputa do Estado nacional nos cenários econômicos internacionais. Para garantir que os programas de pós-graduação, enquanto lócus da pesquisa corroborem para alcançar as metas políticas e econômicas traçadas, o Estado desenvolve um sistema de avaliação regulador, hierarquizante e performativo, preocupado com a posição em rankings internacionais. Nesse contexto, está inserida a área de enfermagem e os programas de pós-graduação, que vêm assumindo a internacionalização como essencial para a expansão da visibilidade da pós-graduação em enfermagem no Brasil. Tal movimento encontra eco nas discussões já realizadas pela Área em relação ao perfil do doutor em enfermagem e, nessa direção, é necessário refletir sobre o exercício da autonomia pelo doutor em enfermagem no contexto do cenário de pós-graduação. Descritores: Educação de pós-graduação em enfermagem; Desenvolvimento de Pessoal; Pesquisa em Avaliação de Enfermagem. Eixo 2 - A formação em enfermagem: da política à prática profissional Área Temática 8 - Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem Referências: 1. Salvetti MG et al. Doutorado Sanduíche: considerações para uma experiência de sucesso no exterior. Revista Gaúcha de Enfermagem, [porto Alegre], v. 34, n. 1, p.201-204, 2013. 2. Halffman W, Radder H. The Academic Manifesto: From an Occupied to a Public University. Minerva. 2015; 53(2): 165-187. 3. Bianchetti L, Valle IR, Pereira GRM. O fim dos intelectuais Acadêmicos? Induções da CAPES e desafios às Associações Científicas. 1ª. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2015. v. 1. 124p |