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Anais :: 15º Senaden • ISSN: 2318-6518
Resumo: 133

Comunicação coordenada


133

Pensamento Crítico Holístico no ensino de enfermagem: um olhar a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais

Autores:
Fernando Riegel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)) ; Maria da Graça de Oliveira Crossetti (Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS))

Resumo:
PENSAMENTO CRÍTICO HOLÍSTICO NO ENSINO DE ENFERMAGEM: UM OLHAR A PARTIR DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS Descritores: pensamento; ensino; diagnósticos de enfermagem; tomada de decisões. Introdução: O modelo de formação do enfermeiro no Brasil é orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN's)1, no entanto, diante das mudanças no perfil epidemiológico e complexidade do cuidado exigido pelos pacientes é possível evidenciar lacunas relacionadas com a formação dos enfermeiros que estão aplicando o processo de enfermagem (PE) de maneira tecnicista e com forte influência do modelo biomédico centrado exclusivamente nas alterações fisiológicas, dando-se pouca ênfase aos aspectos humanísticos e na espiritualidade dos seres que são cuidados, interferindo de forma decisiva e negativa na recuperação dos pacientes. Objetivos: refletir sobre a inserção do Pensamento Crítico Holístico (PCH) nas DCN's, com vistas à qualidade na tomada de decisão clínica e acurácia diagnóstica. Descrição metodológica: trata-se de um ensaio teórico reflexivo2 desenvolvido entre os meses de abril e junho de 2016. Para fundamentação teórica foram utilizadas publicações científicas especializadas acerca do tema extraídas de bases de dados e periódicos da área de enfermagem. A justificativa para o desenvolvimento deste ensaio reflexivo está na necessidade de incluir o PCH no ensino do PE para qualificar o processo diagnóstico (PD), tendo em vista, as mudanças no perfil epidemiológico dos indivíduos, a prevalência de doenças crônicas, os crescentes avanços dos aparatos tecnológicos e ambiente "high tech" com a inserção da robótica dentre outras tecnologias oriundas da inteligência artificial que influenciam na execução de cuidados tecnicistas, reafirmando a necessidade de neste contexto abordar aspectos relacionados com as crenças, valores, espiritualidade e diferentes culturas, abordando o ser humano em sua totalidade, conferindo acurácia e fidedignidade no PDE. Resultados: A partir da análise do documento que baliza as orientações nacionais para os Cursos de Enfermagem, as DCN's, identificou-se que os aspectos humanísticos que envolvem o cuidado de enfermagem estão presentes em alguns dos artigos que compõem o documento, tais como: o artigo quinto que traz em seu primeiro parágrafo a orientação de que o enfermeiro deve atuar profissionalmente, compreendendo a natureza humana em suas dimensões, em suas expressões e fases evolutivas, essa é uma das competências e habilidades específicas para a formação do enfermeiro, no que se refere aos conhecimentos requeridos, além disso, o parágrafo décimo terceiro faz menção em assumir o compromisso ético, humanístico e social com o trabalho multiprofissional em saúde1. O parágrafo vigésimo sétimo orienta o respeito aos princípios éticos, legais e humanísticos da profissão. Não obstante, em parágrafo único deixa evidente que a formação do enfermeiro deve atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS), assegurando a integralidade da atenção, e a qualidade e humanização do atendimento1. As Diretrizes Curriculares Nacionais pulverizam o tema entre os parágrafos que compõem o documento, porém a abordagem do tema humanização torna-se muito ampla ao passo que nao apresenta as definições de: formação humanista, dimensões humanísticas, princípios humanísticos da profissão e inerentes ao cuidado, compromisso humanístico e humanização do atendimento1. Chama-nos a atenção o fato das Diretrizes não apresentarem no parágrafo segundo do seu artigo quarto, das competências e habilidades necessárias para tomada de decisões em relação as condutas mais adequadas baseadas em evidências científicas, o pensamento crítico como habilidade essencial para o alcance desta competência. Neste contexto, abre-se um abismo entre o que é preconizado e o que pode ser entendido na realidade dos cursos de graduação. Identifica-se a necessidade de incorporar às Diretrizes, o ensino e a avaliação do pensamento crítico holístico nos currículos como tema transversal na configuração dos Projetos Políticos pedagógicos dos Cursos, servindo de base do conhecimento para o alcance da acurácia diagnóstica e implementação de intervenções que contemplam as dimensões humanas, éticas e estéticas do cuidado, incluindo as crenças, os valores e a espiritualidade dos clientes. O contexto do ensino da enfermagem numa perspectiva holística deve entender o ser humano como um sistema vivo e dinâmico em sistemas maiores cujos componentes estão todos interligados e interdependentes3,4. Com a abordagem holística, acredita-se ser necessário que os profissionais de enfermagem e saúde contextualizem a doença ao paciente, mostrem os múltiplos fatores que levaram à disfunção e o ensinem sobre a natureza e significado da sua doença e como pode mudar o estilo de vida que o conduziu à enfermidade. Esta tem como objetivo restaurar a saúde integral e não puramente combater a doença, eliminando seus sinais e sintomas3,4. Identificamos nas publicações de Capra a reflexão necessária e preemente com relação à dimensão holística do cuidar para aplicação no processo de seleção dos diagnósticos. Além disso, encontramos nas produções científicas de Peter Facione um instrumento avaliativo do tipo Rubrica intitulado: "Holistic Critical Thinking Score Rubrica (HCTSR)" que mensura o pensamento crítico holístico e pode ser aplicado com acadêmicos de enfermagem, enfermeiros e outros profissionais de diferentes áreas do conhecimento para qualificação do pensamento com vistas à dimensão holística5. Facione define pensamento crítico holístico como sendo o conjunto de habilidades cognitivas apoiada por certos hábitos de mente. Para chegar a um julgamento criterioso, proposital um bom pensador crítico se envolve em análise, interpretação, avaliação, inferência, explicação e reflexão para monitorar e, se necessário fazer correções no seu pensamento5. Estudantes e profissionais da saúde precisam desenvolver competências para aplicação do pensamento crítico holístico e cuidado espiritual, ou seja, adquirir conhecimentos, habilidades a atitudes. Conclusão: assim, conclui-se que o PCH pode contribuir no preenchimento das lacunas de conhecimento relacionadas com a dimensão holística na aplicação do PDE e tomada de decisão clínica dos estudantes e enfermeiros, porém necessita ser contemplado no texto das DCN's que orientam os cursos de graduação em nível nacional, além disso, deve ser melhor explorado com o objetivo de dar sustentação e qualificar o processo de cuidar nos diferentes contextos de formação/ensino, assistência e pesquisa, tornando os espaços de cuidado e ensino mais humanos, éticos, estéticos e solidários. Contribuições ou implicações para a Enfermagem: demonstrar a importância de pensar criticamente incluindo a dimensão holistica do cuidado na reflexão de docentes, acadêmicos de enfermagem e enfermeiros, promovendo a revisão dos paradigmas dominantes na área da saúde e educação. No entanto, é preciso inserir este tema no conteúdo do documento que baliza as Diretrizes curriculares nacionais, incluindo as definições dos princípios, aspectos e dimensões humanísticas, com o intuito de orientar os cursos de graduação e uniformizar a abordagem da temática diante das lacunas evidenciadas, além disso, faz-se necessário desenvolver pesquisas para identificar a qualidade do processo diagnóstico mediante a aplicação do pensamento crítico holístico, comprovando a acurácia e assertividade na seleção de diagnósticos prioritários e que façam sentido para os seres envolvidos no processo de cuidar. Referências 1. Brasil. Resolução CNE/CES n° 3, de 7 de novembro de 2001: Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, 2001. 2.Polit, DF; Beck, CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática de enfermagem. 7ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 3.Farias, F.S.A.B. Formação holística do enfermeiro: realidades e desafios.[Tese]. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará; 2005. 4. Capra, F. Ponto de mutação. São Paulo: Cultrix; 2006. 5. Facione, PA. Critical Thinking & Clinical Judgement: Goals 2000 for Nursing Science.1995; Paper apresentado na Annual Meeting of the Western Institute of Nursing. San Diego, CA.