Comunicação coordenada
122 | INTERVINDO SOBRE A SAÚDE DO TRABALHADOR DAS ESTRATÉGIAS DE SAÚDE DO FAMÍLIA POR MEIO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE | Autores: Zaléia Prado de Brum (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Campus Santo Ângelo) ; Maynara da Veiga Chagas (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Campus Santo Ângelo) ; Jane Conceição Perin Lucca (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Campus Santo Ângelo) ; Rosane Terezinha Fontana (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Campus Santo Ângelo) |
Resumo: Introdução: O ponto de partida para as discussões sobre as doenças ocupacionais que acometem a equipe das Estratégias de Saúde da Família (ESF), partiu de uma investigação sobre o cotidiano dos trabalhadores e da observação empírica acerca do sofrimento e adoecimento desses sujeitos. Atualmente, o adoecimento físico e mental, relacionado ao trabalho, vem sendo apontado como um fator de grande preocupação e a precariedade das condições de trabalho contribui para essa situação. Deve-se dar atenção aos fatores estruturais e organizacionais como o aumento da jornada, o acúmulo de funções e a maior exposição a fatores de risco1. Objetivos: Elaborar um movimento de educação permanente em saúde para promoção da saúde dos trabalhadores de uma ESF. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de uma proposta de educação permanente em saúde, a partir dos dados de uma pesquisa qualitativa e aplicada, esta última com a finalidade de gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Esse tipo de pesquisa produz conhecimento e gera novos processos tecnológicos e novos produtos2. O projeto foi desenvolvido durante a disciplina de Estágio Supervisionado em Saúde coletiva, do 9º semestre do Curso de Enfermagem de uma universidade situada na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Este Estágio é uma disciplina com carga horária de 405 horas. O projeto foi implementado e está sendo desenvolvido em uma ESF, de um município, situado na região Noroeste, do interior do Rio Grande do Sul. Os participantes da pesquisa são todos os trabalhadores de uma ESF, que atenderam aos critérios de inclusão: estarem atuando na ESF, independentemente do turno e aceitar participar. Resultados: Para que fosse possível iniciar as intervenções do projeto, inicialmente foi necessário analisar as respostas por eles respondidas. Dos nove participantes, sete declararam já ter adoecido por fatores relacionados ao seu trabalho. Perguntado se, em seu local de trabalho, existiam fatores predisponentes para o adoecimento e/ou sofrimento-, todos alegaram que sim, entre esses fatores os mais citados foram: trabalhar sob o sol, fatores ergonômicos, estresse, indiferença, uso de mochilas pesadas, ausência de equipamentos e materiais, déficit de recursos humanos, sobrecarga de trabalho e desrespeito à equipe. Quando solicitado que descrevessem as doenças/agravos ocupacionais prevalentes em sua atividade, as respostas versaram sobre depressão, hipertensão, dores de cabeça, dores no corpo, insônia, estresse, doenças do coração, renais, da coluna, baixo autoestima, acúmulo de função e irritabilidade. A partir das respostas analisadas foi desenvolvido o primeiro encontro entre a pesquisadora e os pesquisados, no qual foi exposto sobre os resultados da pesquisa, e, a partir delas foi trabalhado o primeiro assunto da roda de conversa - "saúde do trabalhador e adoecimento psíquico". Foi feita uma introdução em relação as políticas de atenção aos trabalhadores e, em seguida, foi projetado um vídeo descrevendo o processo de adoecimento mental que os trabalhadores estão expostos a partir de inadequadas condições de trabalho, desvalorização, estresse, entre outros fatores que desencadeiam o adoecimento psíquico. Após o término do vídeo foram realizadas discussões em roda de conversa com reflexões sobre o assunto, num movimento de aprendizagem significativa. Para encerrar este encontro, foi proposta a realização de atividades de relaxamento mental e corporal com uma música e exercícios de alongamento muscular. No segundo encontro, foi tratado de assuntos acerca do processo de morte e morrer, perdas vivenciadas e sua compreensão em relação ao tema. Segundo o relato de alguns, a morte é apenas a passagem para um plano diferente da qual no encontramos aqui na terra; para outros representa o fim de tudo, morte da '' carne'' e do espírito. Em relação às perdas foi unânime o fato de que todos já perderam alguma coisa, em algum momento da vida, sejam um relacionamento, bens materiais, aposentadoria, emprego, entre outros. Após as discussões sobre os assuntos, foi entregue um material para cada profissional, de modo que cada trabalhador leu um parágrafo e a cada item foi realizado uma reflexão em grupo e reforçando-se pontos importantes do conteúdo. Em seguida foi discutido sobre um vídeo que trata sobre conceitos de tanatologia, perdas e relação da morte em benefício da vida. Neste vídeo havia o depoimento de um paciente que encontrava-se em estágio terminal de uma doença degenerativa; em suas falas o ponto de maior relevância foi quando ele contou sua ligação com a tanatologia e como ele conseguiu compreender melhor o tema após descobrir que seu tempo de vida era curto. Após o vídeo foi realizado um resgate sobre tudo que foi dito e refletido no encontro. Os temas abordados nos encontros ficaram a critério dos trabalhadores, pois são eles quem vivenciam cotidianamente a realidade de seu trabalho, além do que desta forma trabalha-se de forma horizontal, em que todos exercem o mesmo papel que é de cogestão de atividades de promoção, prevenção e educação para a saúde ocupacional. Diante disso, para os próximos encontros, serão intensificadas as propostas de educação e a dinâmica a ser trabalhada. Os trabalhadores optaram em prosseguir com as atividades de relaxamento mental e corporal acrescendo-se de atividades para melhorar a compreensão e reflexão dos trabalhadores em relação aos assuntos trabalhados. A roda de conversa confere protagonismo e potência aos sujeitos, permite horizontalidade e possibilita a construção de novos saberes por meio da aprendizagem significativa. Implicações para a enfermagem: a partir do desenvolvimento das propostas de reflexão e discussão, ao longo de 405 horas, num movimento de educação permanente em saúde estão sendo pensadas as políticas de atenção à saúde do trabalhador e os temas que emergiram na pesquisa. Para a enfermagem, momentos como estes implicam, em agregar valor ao ensino, empoderando o acadêmico para a inserção da enfermagem em ações sociais de promoção da saúde e à saúde do trabalhador que se sente reconhecido e ouvido, na medida em que participa da solução de seus problemas cotidianos. Em estratégias dessa natureza emergem possibilidades para que os acadêmicos busquem conhecimentos para alicerçar as rodas de conversas, exercitem a interdisciplinaridade, investindo em seu crescimento. São campos férteis para a o fortalecimento da cidadania do estudante e do trabalhador3. Apesar da existência de Políticas de Saúde do Trabalhador, o que se percebeu foi que nesta ESF, a realidade é diferente da legislação, pois as estratégias citadas no protocolo da política nacional do trabalhador e da trabalhadora não correspondem àquelas executadas neste local de trabalho Descritores: Saúde do trabalhador. Enfermagem. Estratégia da Saúde da Família. Referências 1. Souza SRC et al. Cargas de trabalho de enfermagem em unidade de internação psiquiátrica e a saúde do trabalhador. Rev enferm UERJ. 2015; 23(5):633-9 2. Fontelles MJ, Simões MG, Farias SH, Fontelles RGS. Metodologia da pesquisa científica: diretrizes para a elaboração de um protocolo de pesquisa. Rev Para Med 2009; 23(3). 3. Strehlow BR, Dahmer L, Oliveira TB ³, Fontana RT. Percepção dos usuários sobre os grupos de educação em saúde do pet - vigilância em saúde. J. res.: fundam. care. online 2016. 8(2):4243-54 |