Comunicação coordenada
102 | TEORIA DA INTERVENÇÃO PRÁXICA DA ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA E EPIDEMIOLOGIA CRÍTICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM ENFERMAGEM | Autores: Marília Daniella Machado Araújo Cavalcante (Universidade Federal do Paraná) ; Melissa dos Reis Pinto Mafra (Universidade Federal do Paraná) ; Maria Marta Nolasco Chaves (Universidade Federal do Paraná) ; Liliana Müller Larocca (Universidade Federal do Paraná) ; Daiane Siqueira de Luccas (Universidade Federal do Paraná) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A Atenção Primária a Saúde (APS) constitui-se a porta de entrada preferencial para o Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de programas e ações de promoção, recuperação e reabilitação da saúde, bem como prevenção de adoecimento dos indivíduos e/ou da coletividade. Para tal, utiliza-se de saberes norteados pela integralidade, buscando a compreensão das situações sociais, culturais e econômicas que possam interferir nas ações do cuidado.[1] Em contrapartida, faz-se necessário refletir sobre as contradições do SUS quanto à capacidade de oferecer aos usuários a atenção integral à saúde, problematizando as mudanças necessárias para a prática sanitária. As teorias de enfermagem contribuem para a formação de uma base conceitual para o entendimento da realidade, ou seja, permitem planejar o cuidado em saúde para superar situações as quais se deseja modificar. Na continuidade da ação em saúde há um movimento de análise e interpretação da realidade, assim como, dos resultados atingidos, o que significa dizer que é a articulação entre a fundamentação teórica e a prática profissional, logo a práxis[2]. OBJETIVO: analisar as potencialidades e as fragilidades de um estudo fundamentado na Teoria da Intervenção Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC) e na Epidemiologia Crítica. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, com abordagem qualitativa. O objeto de análise foi a dissertação intitulada "Ações em saúde para adolescentes nos serviços de atenção básica - o olhar do enfermeiro em um distrito sanitário". Este estudo foi fundamentado na TIPESC e na Epidemiologia Crítica. A TIPESC tem como base o pensamento crítico e reflexivo fundamentado no materialismo histórico e dialético (MHD) que compreende os fenômenos de saúde como resultado da organização social para a produção.[3] Esta teoria propõe uma forma sistematizada para captar, interpretar e intervir no processo saúde-doença, por meio das dimensões singular (relativo ao indivíduo e sua família), particular (expressão das formas de reprodução social de grupo) e estrutural (a articulação indivíduo-sociedade, onde o contexto e estrutura social são historicamente determinados).[4,5] A epidemiologia crítica vem contribuir com o monitoramento dos processos críticos de uma coletividade, permitindo avaliar os determinantes de proteção e de desgaste, que caracterizam a sociedade, seu modo de vida e organismos/psiquismos, além de fundamentar a construção intercultural e o planejamento estratégico dos processos críticos monitorados.[3] RESULTADO: A dissertação analisada utilizou as duas primeiras etapas da TIPESC (captação e interpretação da realidade objetiva), por meio de dados secundários de Curitiba na busca de informações sobre a estrutura do Distrito Sanitário estudado, dados que permitiram a identificação das fragilidades e potencialidades da análise construída no mesmo, bem como de entrevistas realizadas junto as enfermeiras deste distrito. A pesquisa mostra como fragilidade: a estrutura de assistência prestada aos adolescentes em diversos níveis, como educação, assistência social (emprego e moradia), lazer e saúde, desencadeando problemas que refletem na saúde da população, em especial a estrutura da Atenção Primária a Saúde, a qual não consegue prestar atendimento necessário, nem ampliar seus serviços. Os adolescentes, sujeitos da pesquisa, tem seus direitos cerceados, pois não há escolarização em tempo adequado, nem condições de trabalho que incluam esta população, bem como estão expostos a violência e a condições precárias de moradia. Os órgãos de coordenação das políticas de promoção dos direitos humanos de crianças e adolescentes, ainda não conquistaram o protagonismo necessário no país, devido à falta de infraestrutura e de profissionais capacitados para atendimento. Percebe-se o envolvimento de adolescentes e jovens relacionadas a causas externas (violência e acidentes), com maior intensidade em áreas de ocupação e envolvimento com o tráfico de drogas. Havendo necessidade de ações para o fortalecimento da rede de proteção, redução da mortalidade, prevenção de drogas, assistência aos dependentes químicos, melhorias nas condições de moradia e acesso as escolas, bem como estrutura de esporte e lazer. Com relação a gravidez na adolescência, ainda é apontada como a maior procura por atendimento e que apresenta déficit/baixo interesse na busca de orientações ou ações de prevenção dentro do serviço de saúde e escolas. As ações desenvolvidas junto aos adolescentes são prejudicadas pela falta de integração entre saúde, educação e ação social, assim como pela falta de estrutura e de recursos pessoais e materiais para que as atividades sejam mais dinâmicas e atrativas para os adolescentes. As enfermeiras reforçam a importância das ações junto a este segmento populacional, porém suas ações tornam se mais curativas que preventivas, devido ao atendimento a demanda e as demais atividades a serem realizadas dentro da unidade de saúde. Já as enfermeiras atuantes na estratégia de saúde da família, referem o acesso aos adolescentes e sua realidade ao realizar visitas domiciliares. Na dimensão singular foram encontrados questões de vulnerabilidades, como a violência, dos adolescentes reconhecidas pelas profissionais entrevistas. Estas referem que as situações de violência acabam sendo conhecidas por meio das notificações e reuniões da rede de proteção, mas ainda há muito que ser feito para desenvolver ações efetivas na prevenção da violência. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O uso da Matriz permitiu analisar o estudo de forma mais objetiva, podendo-se refletir sobre suas potencialidade e fragilidade além de identificar a vulnerabilidade de saúde dos adolescentes. Tal possibilidade se deve ao uso do referencial teórico e metodológico, TIPESC e da epidemiologia crítica, pois houve a captação e a interpretação de processo presentes nas dimensões da realidade, estrutural, particular e singular. A utilização de dados secundários levou a compreender criticamente o local de estudo, ou seja, para além da realidade que se apresenta no cotidiano de um serviço de saúde, pois explorou esta realidade também no seu aspecto histórico e político. CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Acredita-se que a utilização da TIPESC e epidemiologia crítica na análise das potencialidades e fragilidades de um grupo populacional contribuam para o processo de trabalho da Enfermagem. Esta identificação permitirá repensar a formação destes profissionais bem como na estrutura de trabalho no qual está inserido. REFERÊNCIAS 1. AYRES, JRCM. et al. Ways of comprehensiveness: adolescentes and young adults in Primary Healthcare. Interface - Comunic., Saude, Educ., v.16, n.40, p.67-81, jan./mar. 2012. 2. MCEWEN, W. Bases teóricas para a enfermagem. Artmed, p. 435-455, 2009. 3. BREILH, J. De la vigilancia convencional al monitoreo participativo Ciência e Saúde Coletiva, v.4, n.8, p. 937-951, 2003. 4. EGRY, EY. Saúde coletiva: construindo um novo método em enfermagem. São Paulo. Ícone. 1996. 5. OLIVEIRA, MAC; EGRY, EY. A historicidade das teorias interpretativas do processo saúde-doença. Rev Esc Enferm USP, v. 34, n. 1, p. 9-15, mar, 2000. |