Roda de Conversa
88 | A COMPREENSÃO DO SETOR DE EDUCAÇÃO SOBRE AS VULNERABILIDADES DE ADOLESCENTES EM UM TERRITÓRIO | Autores: Péliclis Nunes (Universidade Federal do Paraná) ; Ana Paula Rodrigues dos Santos (Universidade Federal do Paraná) ; Maria Marta Nolasco Chaves (Universidade Federal do Paraná) ; Neusa Pereira dos Santos (Universidade Federal do Paraná) ; Liliana Muller Larocca (Universidade Federal do Paraná) |
Resumo: Introdução: No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) considera que o período de vida do indivíduo correspondente à adolescência é entre os dez e vinte anos incompletos, visto que as mudanças físicas podem ser percebidas a olho nu, fato que acontece entre oito a treze anos para os indivíduos do sexo feminino e nove a quatorze anos para os do sexo masculino. Já a maturidade e a mudança do comportamento ocorrerão de acordo com a reprodução e os determinantes sociais de cada um. Para isso, a saúde do adolescente é influenciada pelas transformações que ocorrem neste período, tornando-os expostos a processo de desgaste, como exposição ao uso de drogas, (lícitas ou ilícitas), gravidez na adolescência, problemas familiares, dificuldade de relacionamento no ambiente escolar e morte por causas externas1. Nesse sentido, o MS afirma que a adolescência é tida como uma fase de potencialidades e vulnerabilidades, relacionada às mudanças psíquicas, sociais e biológicas, que são características neste período do desenvolvimento, o que tem gerado uma crescente preocupação de diversos setores da sociedade. Para isso, a implementação de políticas e programas para este segmento populacional tem-se tornado um grande desafio, considerando o grande contingente populacional que estes grupos representam e também pela importância do desenvolvimento integral de suas potencialidades1. Assim sendo, esse trabalho traz uma importante reflexão acerca desse grave problema que atinge os adolescentes e jovens em nosso país, visto que os problemas de saúde relacionados a esse segmento populacional e a não organização de ações específicas para atendê-los, tem se tornado uma barreira para o acesso do adolescente aos serviços locais, no sentido de participar de ações que permitam potencializá-los para a vida na sociedade, e acredita-se que a ausência de ações específicas para os adolescentes no setor saúde é um processo que favorece o desgaste desses indivíduos, uma vez que a assistência à saúde para este grupo populacional só ocorrerá em situações que são indesejadas para a atual sociedade, conforme as citadas anteriormente. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo, fundamentada na Teoria Práxica da Enfermagem em Saúde Coletiva - TIPESC2 que objetivou descrever as vulnerabilidades dos adolescentes segundo a percepção do setor educação de um determinado território de Curitiba-PR. Os dados foram coletados no período de abril à julho de 2015, por meio de entrevistas semiestruturadas com sete gestores do setor educação que atendem, de alguma forma, os adolescentes no território. Os discursos foram analisados segundo a análise de conteúdo3, com apoio de um software gratuito que é ancorado no software R, IRAMUTEQ, que possibilita diferentes análises estatísticas de textos produzidos a partir de entrevistas e documentos e dentre outras modalidades4. Cabe aqui ressaltar, que este trabalho é um recorte de uma pesquisa intitulada "Vulnerabilidade na adolescência: a perspectiva de gestores e líderes do movimento social organizado de um território de Curitiba/PR"5. Resultados: O trabalho foi divido em dois eixos, sendo que o primeiro eixo teve o objetivo de caracterizar o território, local em que a pesquisa foi desenvolvida, destacando seus aspectos sócio-históricos, geográficos, a população; aspectos econômicos relacionados às atividades locais, condições de habitação disponíveis para a população e os equipamentos públicos instalados pelos setores de educação, transporte, lazer, dentre outros. No segundo eixo foram apresentadas as caracterizações dos participantes da pesquisa e as categorias temáticas que emergiram dos seus discursos, sendo quatro categorias e quatorze subcategorias. Dentre elas se destaca o Reconhecimento da vulnerabilidade para o adolescente no território, no que tange à gravidez na adolescência, drogas na adolescência e violência, visto que essas situações estão relacionadas à presença de agravos e situações particulares que têm processos de desgaste para os adolescentes, seja no território, na família ou em relacionamentos entre os próprios adolescentes. Os participantes apontaram dificuldades para a realização de ações do setor de educação para os adolescentes. Tal como a falta de apoio do Poder Público para na promoção, apoio e incentivo para implementação de atividades e a falta de capacitação pessoal e profissional para lidar com a adolescência. Sendo esta última fala predominante nos discursos dos entrevistados do setor educação. Neste sentido, os participantes afirmaram principalmente a falta de diálogo com os adolescentes, especialmente com temas que discutem a sexualidade e o uso drogas, haja vista que em seu processo de formação, conforme referiram os entrevistados, a adolescência e os temas referidos nunca foram abordados. Afirmaram que nos dias atuais os profissionais ainda saem despreparados para lidar com a adolescência no setor de educação, saúde e assistência social. Para esses participantes, a adolescência atual está muito diferente da época em que foram adolescentes. Para lidar com a realidade dos adolescentes que atendem os participantes disseram que se baseiam em suas experiências individuais e familiares e afirmaram que há falta de capacitação técnica para lidar com este segmento populacional, o que pode desencadear um afastamento do adolescente dos serviços de educação. Os participantes destacaram, também, que para as ações serem realizadas para este segmento populacional, é de fundamental importância as parcerias com os demais serviços públicos presentes no território. Conclusão: É de fundamental importância, reconhecer a limitação técnica e pessoal para lidar com determinadas questões da população que é usuária dos serviços, assim como conhecer a população e os processos de determinação da realidade observada nas dimensões: singular; particular e estrutural. Para uma mudança efetiva é importante salientar a necessidade de apoio dos gestores públicos no que se refere à alocação de recursos, promoção de cursos de capacitação para superar as limitações técnicas e pessoais como as que aqui foram faladas. Ao reconhecer a determinação desses processos, juntamente com sua a equipe, o gestor poderá propor intervenções que modifiquem as vulnerabilidades encontradas na população e, ainda, trabalhar essas informações junto aos profissionais, inclusive enfermeiros, e movimento social organizado, visando a troca de conhecimentos e, uma possível articulação intersetorial para o enfrentamento necessário. Por fim, salientamos, a realização de novos estudos no sentido de ampliar a discussão sobre as questões de gênero e geração relacionadas aos processos de determinação da vulnerabilidade dos adolescentes. Descritores: Enfermagem, Adolescência, Saúde Coletiva |