Comunicação coordenada
38 | APLICAÇÃO DA TEORIA DE ENFERMAGEM TRANSCULTURAL: RESSIGNIFICANDO O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM PARA DOCENTES E DISCENTES NO ENSINO EM PRIMEIROS SOCORROS NA REALIDADE AMAZÔNICA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA RIBEIRINHOS. | Autores: Roseneide dos Santos Tavares (Universidade Federal do Pará - Faculdade de Enfermagem) ; Jessica Costa Mourão (Universidade Federal do Pará - Faculdade de Enfermagem) ; Mariana Souza de Lima (Universidade Federal do Pará - Faculdade de Enfermagem) ; Geovani Santana de Jesus (Universidade Federal do Pará - Faculdade de Enfermagem) ; Francilene da Luz Belo (Universidade Federal do Pará - Faculdade de Enfermagem) |
Resumo: Introdução: Para cuidarmos da saúde do ser humano, não devemos nos restringir aos conceitos de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. É importante conhecermos contexto cultural, valores, crenças, rituais e modo de vida do indivíduo e de suas famílias, numa perspectiva de construção de novos paradigmas para abordagem da saúde e doença1. Desde a década de 50, Leininger uniu os conhecimentos adquiridos no campo da enfermagem aos preceitos da antropologia, defendendo a Teoria da Diversidade e a Universalidade do Cuidado Cultural. Enfermagem Transcultural é a área da Enfermagem que focaliza o estudo comparativo e a análise de variadas culturas, no que diz respeito ao comportamento relativo ao cuidado geral, ao cuidado de enfermagem. A Teoria de Enfermagem Transcultural refere-se às relações humanas que levam em conta comportamentos, valores, crenças de indivíduos ou comunidade2. Isso envolve reconhecer necessidades culturais e modo de vida das pessoas para que a Enfermagem atue no cuidado e ensino levando em conta a realidade da população. Isso só é possível através da educação em saúde voltada para princípios da teoria transcultural de enfermagem. As populações quando educadas de acordo com sua realidade se sentem familiarizadas, podendo perceber e praticar cuidados de diferentes maneiras, mas cientificamente embasados. Por isso é importante perceber/compreender a realidade amazônica local e atuar de forma que suas orientações levem em conta peculiares locais no que tange ao processo ensino-aprendizagem. Objetivos: relatar as experiências vivenciadas pelos docentes e discentes na aplicação da teoria transcultural de enfermagem no ensino-aprendizagem em primeiros socorros para ribeirinhos. Descrição metodológica: o projeto de extensão "Processo de ensino e aprendizagem no ensino de primeiros socorros na realidade amazônica: Educação em saúde para ribeirinhos" realiza, através da equipe técnica, ações educativas pautadas em metodologias ativas, com ênfase na simulação realística e na educação problematizadora (Paulo Freire), que consiste em esclarecer e auxiliar o sujeito para que este contribua e transforme a realidade que o cerca. As atividades são desenvolvidas pela equipe extensionista (discentes e docentes da graduação e do mestrado). A população atendida são moradores da Ilha do Combú (os ribeirinhos) distante 1,5 km ao sul de Belém, à margem esquerda do Rio Guamá, tendo à frente (do outro lado do rio) o Campus da UFPA. A região abriga uma diversidade cultural e regional surpreendente que representa a necessidade do cuidado transcultural como o atendimento de primeiros socorros. As ações são planejadas em conjunto com a equipe da Estratégia Saúde da Família da região, de acordo com a necessidade local. São abordadas ações prevencionistas e de primeiros socorros para acidentes mais frequentes na região como acidentes com animais peçonhentos, traumatismo diversos (lesões de extremidades, traumatismos crânio encefálico e raquimedular decorrentes de queda de árvores de grande porte, como o açaizeiro, quando da prática de extrativismo comum nessa região); afogamento; casos envolvendo obstrução de vias aéreas por corpo estranho, controle de hemorragia, reanimação cardiopulmonar, desmaios, imobilização de fraturas, dentre outros; e ainda uso de materias de fortuna no atendimento e transporte de vítimas. É importante ressaltar que o cenário no qual as atividades são desenvolvidas dispõe de pouca ou nenhuma infraestrura, no que tange a recursos audiovisuais. Assim sendo, além da busca da metodologia adequada, é imprescindível que a equipe extensionista, ao interagir com os ribeirinhos, apresente variadas situações assistenciais, utilize ações profissionais, de forma a preservar, negociar ou repadronizar os cuidados, buscando uniformidade cultural. Resultados: ainda hoje, observa-se que os conhecimentos e o ensino em primeiros socorros é deficiente no Brasil, apesar de sua grande relevância para a saúde pública. Isso não é diferente na realidade amazônica. Surgem muitas dúvidas durante as atividades realizadas e muitos relatos de procedimentos que ainda são bem rústicos e até danosos para quem recebe os cuidados, realizados pela população. Por exemplo, frente a uma hemorragia leve, os ribeirinhos recorrem a uma série de substâncias nocivas ao organismo, como óleo diesel ou gasolina, com intuito de conter o sangramento que poderia ser realizado com compressas de panos limpos3. Esses detalhes são observados e colocados em discussão, considerando os valores da população assistida. As atividades são voltadas para o aperfeiçoamento do ensino e aprendizagem de acordo com as peculiaridade locais. Há uma preocupação com a linguagem que deve ser bastante coerente/clara para facilitar leitura e compreensão das orientações oferecidas. Procura-se utilizar linguajar próprio da população ribeirinha, fazendo analogia, quando necessário, de materiais específicos da localidade (materiais de fortuna: aqueles encontrados na localidade e que podem ser utilizados para prestar primeiros socorros). A exemplo disso, temos galhos de árvores que podem ser utilizados como talas de imobilização de membro em caso de fratura. As atividades que estão se desenvolvendo mostram que é possível conciliar um ensino voltado para a realidade cultural ribeirinha, mas com bases científicas possibilitando um aprendizado imperecível. Conclusão: o cuidado e o ensino alicerçados na teoria transcultural de enfermagem possibilitam maior aproximação. Criam vínculo com a população atendida. Percebe-se que tanto para docentes quanto discentes, a aproximação com a realidade possibilita ensinar e cuidar da população na busca da excelência, atuando assim de forma eficiente e eficaz. Contribuições para a enfermagem: esperam-se mais ações educacionais em primeiros socorros, que considerem a cultura da população, respeitando crenças, valores e comportamentos da comunidade através da teoria de enfermagem transcultural. Descritores: enfermagem transcultural, primeiros socorros, educação em saúde; Eixo 1 - Processo de ensino-aprendizagem na formação em Enfermagem Área Temática: Políticas e Práticas de Educação e Enfermagem Referências 1 MOURA M.A.V; CHAMILCO, R; SILVA, L.R. A teoria transcultural e sua aplicação em algumas pesquisas de enfermagem: uma reflexão. Esc Anna Nery R Enferm 2005 dez; 9 (3): 434 - 40. 2 LEININGER, M; McFarland, M.R. Culture care diversity and universality: a worldwide nursing theory. 2ª ed. New York (NY): McGraw-Hill; 2006 3 Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado, PHTLS/NAEMT;[tradução Renata Scavone...et al], 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. |