Roda de Conversa
8 | GESTÃO DO CUIDADO COMO REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO NA FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM | Autores: Marília Daniella Machado Araújo Cavalcante (Universidade Federal do Paraná) ; Liliana Müller Larocca (Universidade Federal do Paraná) ; Maria Marta Nolasco Chaves (Universidade Federal do Paraná) ; Melissa dos Reis Pinto Mafra (Universidade Federal do Paraná) ; Daiane Siqueira de Luccas (Universidade Federal do Paraná) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A gestão do cuidado em saúde é definida como "o provimento ou a disponibilização das tecnologias de saúde, de acordo com as necessidades singulares de cada pessoa".[1] Dessa forma, alguns elementos que dão sentido à integralidade, como a organização do cuidado a partir da necessidade dos indivíduos e a articulação entre prevenção e assistência para a estruturação de políticas públicas desdobram e sustentam essa definição. A gestão do cuidado se realiza em seis dimensões: individual, familiar, profissional, organizacional, sistêmica e societária.[1] Em cada uma dessas dimensões há um ou mais atores que assumem um papel diferenciado: o profissional construindo a relação profissional-paciente, o gerente construindo a equipe que cuida e provendo os insumos para seu trabalho, o gestor construindo as redes de cuidado[2], além do próprio indivíduo e sua rede de apoio familiar e social. Ademais, todas e cada uma delas apresentam uma especificidade que pode ser conhecida para fins de reflexão, pesquisa e intervenção. OBJETIVO: Analisar as teses e dissertações produzidas nos programas brasileiros de pós-graduação em Enfermagem e áreas afins, no período de 2010 a 2015, que utilizaram a gestão do cuidado em saúde proposta por Cecílio[1,3] como referencial teórico-metodológico. MÉTODO: Trata-se de uma revisão integrativa, através da busca por teses e dissertações disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Os dados foram coletados em abril e maio de 2015, utilizando como palavra-chave a expressão "gestão do cuidado". Como critérios de inclusão, foram selecionadas as teses cujos resumos estavam disponíveis eletronicamente na BDTD, eram de programas de pós-graduação em Enfermagem ou áreas afins, excluindo-se aquelas que não abordasse o objetivo da pesquisa. Obteve-se como resultado apenas duas teses. Desse modo, optou-se por realizar, também, uma busca manual no portal Google Acadêmico, utilizando a opção "citado por" para a busca de estudos que citaram os artigos de Cecílio[1,3]. Ao final, foram identificadas seis teses e cinco dissertações de diferentes programas de pós-graduação do país. Utilizou-se um instrumento para coleta das seguintes informações: autor, ano, título, Programa e Universidade de origem, além de como o referencial da gestão do cuidado foi utilizado em cada estudo. RESULTADOS: Verificou-se o predomínio de pesquisas na área de Saúde Coletiva quando se trata de gestão do cuidado como marco teórico-metodológico bem como a diversidade entre a formação profissional dos autores proponentes dessas pesquisas, a saber, Enfermagem, Odontologia, Medicina, Serviço Social, Psicologia e Fonoaudiologia. Os resultados evidenciaram que o uso da gestão do cuidado em saúde como referencial teórico-metodológico permeou a análise da organização do cuidado e/ou do processo de trabalho na perspectiva da integralidade e das necessidades de saúde bem como da relevância do cuidado continuado desenvolvido por meio de redes de atenção. Percebeu-se destaque na discussão sobre aspectos relacionados às dimensões profissional e organizacional. Ambas correspondem à micropolítica do trabalho em saúde, emergindo, portanto, como relevante objeto de estudo. A dimensão organizacional corresponde ao componente institucional das práticas, referindo-se ao nível das relações entre os diferentes profissionais e as tecnologias disponíveis para operacionalizar o cuidado em saúde, tratando-se de uma dimensão que resulta dos vários processos de trabalho da dimensão profissional que estão interagindo e estabelecendo novos fluxos na produção do cuidado.[5] Dessa forma, torna-se fundamental que os gerentes de serviços e os gestores do sistema de saúde, nas três esferas de governo, desenvolvam um olhar sobre a dimensão profissional da gestão do cuidado. Além disso, são os desdobramentos da divisão técnica e social do trabalho em saúde, presentes na dimensão organizacional, que resultam na fragmentação de práticas e lançaram novos desafios e esforços para a coordenação dos trabalhos e para o processo de comunicação entre os profissionais.[4] Entretanto, constatou-se a necessidade de identificar o manejo da gestão do cuidado, não só nas dimensões supracitadas, mas em todas as dimensões. CONCLUSÃO: A introdução da perspectiva das necessidades de saúde e da integralidade como conceitos no processo de formação do enfermeiro podem, quando problematizados, contribuir para produzir novos sentidos ao perfil dos egressos, ressignificar práticas, ampliar as possibilidades e qualificar o trabalho desenvolvido em benefício dos usuários dos serviços de saúde. Revolvendo esse terreno, Cecílio propõe a análise da integralidade sob as lentes da gestão do cuidado. Sob essa ótica, pesquisas cujo objeto tragam à tona as dimensões intrínsecas ao princípio da integralidade, ao cuidado e a gestão em redes de saúde, apresenta-se como temática oportuna. Assim, a escolha pela gestão do cuidado como referencial teórico-metodológico apresenta-se potencialmente possível de ser organizada de forma a delinear categorias analíticas que iluminem e deem suporte tanto às pesquisas quanto ao processo ensino-aprendizagem. CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Acredita-se que o modo pelo qual a gestão do cuidado é proposta pode influenciar o processo de trabalho e a participação da Enfermagem com vistas a desenvolver as competências e habilidades previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Dessa maneira, repensar a formação do enfermeiro a partir do manejo nas múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde torna-se relevante para a formação em Enfermagem. REFERÊNCIAS 1. CECILIO, L.C.O. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface: comunicação, saúde, educação, Botucatu. v. 15, n. 37, p. 589-599, jun. 2011. 2. PESSOA, K.L.V. Gestão do cuidado em saúde mental: micropolítica dos processos de trabalho no cotidiano da atenção psicossocial. 2012. 161f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2012. 3. CECILIO, L.C.O. A morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói: elementos para se pensar as múltiplas dimensões da gestão do cuidado. Interface: comunicação, saúde, educação. v. 13, Suppl. 1, p. 545-555, 2009. 4. PEDROSA, C.M. O cuidado às pessoas que sofreram violência sexual - desafios à inovação de práticas e à incorporação da categoria gênero no Programa Iluminar Campinas. 2010. 176 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. 5. SANTOS, A. M. dos. Gestão do cuidado na microrregião de saúde de Vitória da Conquista (Bahia): desafios para constituição de rede regionalizada com cuidados coordenados pela Atenção Primária à Saúde. 2013. 332 f. Tese (Doutorado) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2013. |