Roda de Conversa
218 | OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO: UMA RELAÇÃO COM O ENSINO NA ENFERMAGEM | Autores: Fernando Miguel de Sousa (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Bruna Coelho (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Murilo Pedroso Alves (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Pollyana Bortholazzi Gouvea (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Betina Hörner Schlindwein Meirelles (Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo: Introdução: Frente aos avanços da ciência, torna-se necessário repensar a formação do enfermeiro, a partir da concepção de que é preciso graduar enfermeiros criativos, flexivos, com habilidades reflexivas e interativas para cuidar do ser humano, pautado cientificamente, e que valorizem as dimensões biológicas, psicológicas, sociais e culturais dos indivíduos(1). A Teoria da Complexidade proposta por Edgar Morin, e contemplada na obra Os Sete Saberes necessários à educação do futuro, faz repensar a educação do século XXI, compreendendo a dialógica como meio para estruturação do conhecimento, a partir da concepção de que é necessário envolver todas as dimensões que cercam o ser vivo, aceitando as ambivalências, as contradições e as incertezas(2). Considerando as premissas que envolvem a Teoria da Complexidade sob a vertente da educação, questiona-se de que forma elas podem contribuir para a formação de enfermeiros. Objetivo: Refletir sobre o desenvolvimento do ensino em Enfermagem a partir da obra Os Sete Saberes necessários à educação do futuro de Edgar Morin. Metodologia: Trata-se de uma reflexão acerca da construção do conhecimento dos enfermeiros e a relação deste ao ensino em Enfermagem, a partir dos pressupostos do livro Os Sete Saberes necessários à educação do futuro(3), de Edgar Morin. Resultado: A obra introduz uma reflexão sobre as discussões acerca da educação para o Século XXI, abordando temas fundamentais para a educação contemporânea, omitidos nos debates sobre a política educacional. A partir da revisão das práticas pedagógicas atuais, considera-se a necessidade de situar a importância da educação na totalidade dos desafios e incertezas da atualidade, de forma que os saberes necessários envolvam toda a construção do conhecimento. Assim, o primeiro saber trata das cegueiras do conhecimento; é notável como a educação que transmite conhecimentos é cega ao conhecimento do que é humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão, nota-se a não preocupação em fazer conhecer o que é conhecer. Para desconstrução deste paradigma, é necessário introduzir e desenvolver na educação estudos das características cerebrais, mentais, culturais, dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados pelos sentidos e resulta, daí, os inúmeros erros de percepção que perpassam nosso sentido mais confiável, a visão. O segundo saber, o princípio do conhecimento pertinente, vai de encontro a um problema capital, traduzido pela necessidade de promover o conhecimento capaz de aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. O conhecimento fragmentado impede o vínculo entre as partes e o todo, este, deve ser substituído por conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto. É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas essas informações em um contexto e um conjunto. É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo e multidimensional. O terceiro saber se refere ao ensinar a condição humana, pois o ser humano é a um só tempo, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa na natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tornando-se impossível aprender o que significa "ser humano". É preciso que cada um tome conhecimento e consciência de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos. Morin, destaca que há uma unidade e uma diversidade humana, cuja unidade não está apenas nos traços biológicos da espécie e a diversidade não está apenas nos traços psicológicos, culturais e sociais. Cabe à educação do futuro cuidar para que a ideia de unidade não apague a ideia de diversidade e que a diversidade não apague a unidade. O quarto saber se refere ao ensinar a identidade terrena, no qual se discute o destino planetário do gênero humano. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos. Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marca o século XX, mostrando que todos os seres humanos, confrontados aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum. O quinto saber refere-se ao enfrentar as incertezas, Morin, relata que as ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas e igualmente revelaram inúmeras incertezas. A educação deve incluir o ensino das incertezas que surgiram entre as múltiplas faces da ciência, ensinando princípios de estratégia que permitiram enfrentar os imprevistos, o inesperado e modificar seu desenvolvimento em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo. Já o sexto saber se refere ao ensinar a compreensão, o autor destaca que compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Considerando a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede reforma das mentalidades. A compreensão mútua entre seres humanos quer próximos, quer estranho, é daqui para frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão. Assim, decorre a necessidade de estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é necessário porque enfoca não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. Por fim, o sétimo saber, intitulado "ético do gênero humano", traz-se a concepção de que educação deve conduzir a "antro poética", levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Nesse sentido, a ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca a cidadania terrestre. Deve se formar nas mentes com base na consciência de que humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade, deste modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. Conclusão: O desafio para Enfermagem do futuro é estruturar o ensino de forma que a dialógica humanista se aproxime da biomédica, e que juntas, promovam a educação emancipadora proposta por Edgar Morin. Para tanto, os docentes responsáveis pela formação destes novos/ futuros profissionais necessitam repensar suas práticas pedagógicas, aprimorando as formas de transmissão do conhecimento. Contribuições para a enfermagem: Diante disto, espera-se que a presente reflexão promova debates acerca da temática abordada, visto que a necessidade de mudanças na forma do ensino para formação de profissionais preparados para atender as demandas emergentes torne-se cada vez mais indispensável à realidade atual. Descritores: Educação. Educação em Enfermagem. Conhecimento. Referências 1. Silva AL, Freitas MG. O ensino do cuidar na Graduação em Enfermagem sob a perspectiva da complexidade. Rev Esc Enferm USP. 2010; 44(3): 687-93. 2. Silva AL, Camillo SO. A Educação em Enfermagem à luz do paradigma da complexidade. Rev. esc. enferm. USP [Internet]. 2007 Sep [cited 2016 June 28] ; 41(3): 403-410. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342007000300009&lng=en.http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342007000300009. 3. Morin, E. Os Sete Saberes necessários à educação do futuro. 2a ed. Cortez: São Paulo, 2011. |