Roda de Conversa
177 | COMO O ENFERMEIRO DESENVOLVE A SUA PRÁTICA CLÍNICA? VIVÊNCIAS DE ESTUDANTES SOBRE O ENSINO DO EXAME FÍSICO NA GRADUAÇÃO | Autores: Waldemar Brandão Neto (Universidade de Pernambuco - UPE) ; Ana Virgínia Rodrigues Veríssimo (Universidade de Pernambuco - UPE) ; Maria de Fátima Lima de Oliveira (Faculdade Integrada de Pernambuco - FACIPE) ; Jael Maria de Aquino (Universidade de Pernambuco - UPE) ; Estela Maria Leite Meirelles Monteiro (Universidade de Pernambuco - UPE) |
Resumo: Introdução: A enfermagem é uma profissão que, ao longo do tempo, vem construindo e edificando sua história(1). Sua evolução como ocupação da saúde foi influenciada por acontecimentos sociais, econômicos, políticos e culturais ocorridos no Brasil(1), que permitiram a expansão do ensino, a qualificação da formação e a construção de um corpo de conhecimento específico. No entanto, é necessário, ainda, convencer a sociedade da sua utilidade enquanto profissão da área da saúde voltada às necessidades de saúde das pessoas e comunidade(2). Atualmente o Processo de Enfermagem (PE) tem sido considerado um instrumento tecnológico necessário a qualificação dos cuidados prestados pelo enfermeiro, e, consequentemente, aumento de sua visibilidade no contexto assistencial dentro da equipe multiprofissional em saúde. O PE indica um trabalho profissional específico e envolve um conjunto de ações dinâmicas e de decisões de saúde, com vistas à organização e ao planejamento da assistência de enfermagem em face das necessidades biopsicossocioculturais e espirituais de indivíduos, famílias e comunidade. A Resolução 358/2009(3) do COFEN, define os passos envolvidos na implementação do PE: I- Coleta de dados de Enfermagem, II- Diagnóstico de Enfermagem, III- Planejamento de Enfermagem, IV- Implementação, V- Avaliação de Enfermagem. Para o desenvolvimento das etapas I e II estão incluídas a anamnese (entrevista) e o exame físico, elementos que auxiliam o profissional na observação, comunicação, levantamento de dados subjetivos e objetivos e o registro de informações necessárias ao planejamento do cuidado. O exame físico deve ser realizado de maneira sistematizada, no sentido cefalocaudal, orientado por uma avaliação criteriosa de todos os segmentos do corpo, utilizando as técnicas propedêuticas: inspeção, ausculta, percussão e palpação(4). Este estudo reconhece os componentes subjetivos, afetivos e atitudinais envolvidos no exercício do método clínico e que são de grande relevância para a enfermagem, face as especificidades do cuidar em situações não só patológicas, mas de medo, sofrimento, morte e dor, elementos estes, que podem dar um lugar privilegiado a enfermeira no reconhecimento de dimensões do processo saúde-doença-cuidado que outros profissionais não reconheceriam. Desse modo, o estudo propõe a seguinte pergunta de pesquisa: como os estudantes percebem a inserção do exame físico no âmbito de suas vivências acadêmicas no cuidado de enfermagem e as contribuições para a prática clínica do enfermeiro? Objetivo: compreender as percepções de estudantes de um curso de graduação em enfermagem sobre a importância da realização do exame físico na prática clínica do enfermeiro. Metodologia: trata-se de um estudo descritivo, exploratório de abordagem qualitativa conduzido com 12 acadêmicos do curso de bacharelado em enfermagem de uma instituição de ensino superior privada, da cidade de Recife-PE, Brasil. A amostra foi selecionada de modo intencional, sendo definida por procedimentos de saturação teórica. A coleta de dados foi realizada nos meses de outubro a novembro de 2013, por meio de entrevista semiestruturada, cujo roteiro trazia os dados de caracterização dos sujeitos e três questões norteadoras: Qual o seu entendimento sobre o exame físico? Comente de que modo o exame físico pode contribuir com a prática clínica do enfermeiro? Que sugestões você daria para mudanças/melhorias no ensino do exame físico em enfermagem? Para a análise dos dados, utilizou-se o método de interpretação de sentidos, fundamentado na hermenêutico-dialética que visa a interpretar o contexto, as motivações e as lógicas individuais dos relatos obtidos(5). O estudo respeitou as exigências previstas pelas normas do comitê de ética em pesquisa. Resultados: A partir da análise dos dados, emergiram núcleos de sentidos que traduzem a percepção do exame físico, sua contribuição no cenário da prática clínica de enfermagem, além de algumas recomendações. Quanto a Percepção dos Estudantes sobre o Exame Físico, o relato dos estudantes, quanto a vivencia prática do exame físico, demonstrou que os mesmos reconhecem a importância dessa técnica de coleta de dados para o Processo de Enfermagem, que sustenta sua prática clínica. Por outro lado, identificou-se a elaboração de um conceito limitado e sem criticidade, pelos estudantes, em que coloca o exame físico como uma fase específica de coleta de dados, limitada ao rastreamento das anormalidades e situações patológicas. Uma questão importante destacada pelos estudantes diz respeito a falta de valorização e de entendimento sobre o trabalho da(o) enfermeira(o), bem como o pouco espaço dado para sua participação na prática clínica. O exercício da prática clínica, não é atividade exclusiva do profissional médico, deve-se enfatizar uma atuação clínica que envolva todos os profissionais que cuidam, com suas visões de mundo. Em um contexto de assistência à saúde interdisciplinar, os saberes que transitam no campo da enfermagem, podem trazer contribuições significativas na produção do cuidado em saúde. Quanto as contribuições do Exame Físico para a Prática Clínica do Enfermeiro, os apontaram que a aplicação do exame físico subsidia o Processo de Enfermagem, tornando o planejamento do cuidado sensível às intervenções de enfermagem, bem como provoca mudanças nas relações enfermeiro-paciente-família, ao valorizar momentos de escuta, troca e fortalecimento da confiança. Em relação as Recomendações para Melhorias no Ensino do Exame Físico na Graduação, os depoimentos dos estudantes convergiram para mudanças nas metodologias de ensino, capacitação docente, maior oferta de cursos de extensão na instituição, bem como, maior oferta e melhor organização das aulas práticas as quais oportunizem desenvolver as habilidades técnicas e subjetivas necessárias à aplicação do exame físico, e o estabelecimento de um trabalho íntimo entre a teoria e a prática. Conclusão: O estudo revelou que a percepção dos estudantes sobre o exame físico diverge em duas dimensões: as técnicas semiológicas que buscam sinais de alterações e anormalidades do corpo e as subjetivas que se centram na comunicação interpessoal, nas emoções e motivações. Sendo que estas duas dimensões se intercomunicam e são atravessadas pela clínica, pois não há como examinar sem tocar, interagir e comunicar. Contribuições / implicações para a Enfermagem: o exame físico contribui para o desenvolvimento do raciocínio crítico na assistência de enfermagem, para a segurança do paciente e autonomia para atuação no âmbito da clínica. É preciso garantir um ensino clínico em enfermagem que estabeleça um diálogo profícuo entre teoria e prática, e que tenha potencialidade para contribuir com o desenvolvimento de competências e habilidades que conduzam à construção de um perfil profissional proativo, colaborativo, sensível, consciente, integrador e que atenda às demandas da complexidade do cuidar. Descritores: Exame físico, Processos de Enfermagem, Educação em Enfermagem. Eixo 1 - Processo de ensino-aprendizagem na formação em Enfermagem Área temática: Modelos de Ensino em Enfermagem Referências 1. Carlos DJD, Padilha MI, Villarinho MV, Borenstein MS, Maia ARCR. Nursing Schools in northeastern Brazil (1943-1975). Rev Rene. 2014; 15(2):326-33. 2. Bellaguarda MLR, Padilha MI, Pereira Neto AF, Pires D, Peres MAA. Reflexão sobre a legitimidade da autonomia da enfermagem no campo das profissões de saúde à luz das ideias de Eliot Freidson. Esc Anna Nery. 2013; 17(2):369-74. 3. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução nº 358, de 15 outubro de 2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. [citado 2015 jul. 14]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html 4. Santos N, Veiga P, Andrade R. Importância da anamnese e do exame físico para o cuidado do enfermeiro. Rev Bras Enferm. 2011;64(2):355-8. 5. Gomes R. Análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In: Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28ªed. Petrópolis: Vozes; 2009. p.79-108. |