Comunicação coordenada
94 | A PERCEPÇÃO DE EGRESSOS DE ENFERMAGEM DE UM CURRÍCULO INTEGRADO SOBRE O AGIR PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO | Autores: Claudia Aparecida Dias (Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo) ; Maria Madalena Januário Leite (Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A enfermagem como ciência do cuidado para a prevenção, manutenção e promoção da saúde e bem-estar do ser humano compõe-se de um corpo de conhecimentos profissionais específicos que envolvem dimensões relativas ao gerenciamento, assistência, educação e pesquisa em enfermagem e saúde. Este corpo de conhecimentos e as interações do sujeito enfermeiro com o outro e o mundo, materializam-se no agir profissional do enfermeiro1. Pesquisas educacionais no Brasil, nas duas últimas décadas, evidenciam que a construção do agir profissional nesta perspectiva multifatorial esta relacionada às novas arquiteturas pedagógicas advindas das reformas curriculares implantadas nos cursos de enfermagem2. Dentre estas citamos a proposta do currículo integrado que tem como intenção alcançar a completude na formação, já que seu desenho pedagógico permite articular experiência prática, valores ético-profissionais, conhecimentos teóricos e, ainda, momentos de convivência interprofissional e comunitária, fatores vinculados a características históricas, econômicas e socioculturais3. Entendendo que a proposta integrada é aquela que pode colaborar para com o desenvolvimento de egressos crítico-reflexivos e conhecedores dos princípios e processos que envolvem o seu agir profissional, a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) implantou em 2009 a matiz curricular integrada. Desenhada a partir de um eixo central intitulado O Cuidado de Enfermagem, em seus diferentes sentidos, significados e dimensões, sua organização se dá em três ciclos: Ciclo das Necessidades, Ciclo do Cuidado e Ciclo da Prática Profissional, onde "cada ciclo está articulado em torno de eixos integrativos, organizados em semestres compostos por módulos, com forte ênfase para a relação teoria e prática, possibilitando ao estudante maior integração dos conhecimentos, mediante sua inserção em atividades práticas sob tutoria docente4", a fim de obter-se a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. OBJETIVO: Assim, o objetivo deste estudo foi compreender como egressos de enfermagem que vivenciaram o processo de formação, na estrutura curricular integrada, significam o agir profissional do enfermeiro. METODOLOGIA: O presente estudo corresponde a um recorte da pesquisa de doutorado intitulada de "o processo de formação do enfermeiro e o seu agir profissional", em curso na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Trata-se de uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo, na perspectiva da fenomenologia, que teve sua aprovação ratificada pelo Comitê de Ética da EEUSP, parecer nº 509870/2015. O cenário foi um Curso de Bacharelado em Enfermagem, em uma instituição pública, no Município de São Paulo, Brasil. Nesta etapa, participaram 19 egressos de enfermagem, com no mínimo 02 anos de atuação profissional, a coleta de dados se deu por meio de entrevista semiestruturada e, aconteceu entre os meses de novembro de 2015 a março de 2016. Foi aplicada a Teoria da Interpretação5 de Paul Ricoeur, para análise do corpus de entrevistas, este método de análise fundamenta-se na compreensão segundo a fenomenologia-hermenêutica. A questão que norteou esta fase do estudo foi: como você compreende o agir profissional do enfermeiro? RESULTADOS: O processo de análise desvelou alguns significados inerentes ao processo formador e outros advindos da junção de experiências práticas e relacionais, presentes no cenário formador e fora dele, algumas autorreferenciadas pelos participantes como o conhecimento técnico-científico, o cuidado holístico, os relacionamentos interprofissionais, as vivencias socioculturais; que quando avaliadas segundo o objeto investigado deram origem a três categorias: gestão do cuidado holístico - "o agir profissional, ah! Ele tem um olhar ao todo, não só para o paciente, mas, ele tem o olhar para qualquer pessoa, uma pessoa da equipe, um paciente, um familiar. Ele não trabalha só tecnicamente, quando ele vai prestar algum tipo de assistência para alguém, pensa no emocional, pensa no técnico, pensa no fisiológico. Ele pensa no indivíduo de uma forma completa (EE-16)"; caráter formacional contínuo - "eu entendo que é essa junção de saberes de faculdades mentais que me proporciona ter determinada autonomia, respaldada em saber teórico, mas também das minhas percepções enquanto pessoa, associado também à minha formação acadêmica, acho que ela foi ímpar no que se diz respeito a diversos aspectos aqui vivenciados, mas que ainda eu não tenho muita clareza, porque é muito amplo, ainda está em construção (EE-04)" e, agir multifacetado e complexo - "o agir entra nessa questão de se relacionar... [...] como a gente se relaciona com o mundo, com as pessoas, postura ética... [...] Ai, também, vem o conhecimento e ele tem que estar embutido nesse agir e, também, o fazer, que é a questão mais técnica da coisa que também é importante, então, eu acho que é isso e também acho que aquele saber afetivo, de compreensão das coisas da realidade, o saber sentir, tudo isso que eu te falei permeia o agir profissional (EE-09)". Essas categorias têm sua origem na tessitura do espiral da matriz integradora, sendo sim resultante da conjuntura dos ciclos temático-práticos propostos (ciclo das necessidades, do cuidado e da prática profissional). Portanto, observa-se que a proposta curricular integrada aparece na expressão dos sujeitos, pois as falas evidenciam a completude que envolve o ser e o fazer do enfermeiro. CONCLUSÃO: A proposta de integração do modelo curricular adotado privilegia o desenvolvimento da interdisciplinaridade, aproximação da prática assistencial precoce e a oferta de vivências socializantes, concluímos que esta opção didático-pedagógica colaborou para com que os egressos desenvolvessem melhor compreensão da realidade e da amplitude da atuação profissional da enfermagem, enquanto prática social autônoma. CONSIDERAÇÕES PARA ENFERMAGEM: Acreditamos que, com os resultados obtidos nesta investigação, possamos contribuir no sentido de orientar, de alguma forma, possíveis iniciativas de mudanças pedagógicas no cenário do ensino de enfermagem, pois as pesquisas educacionais em enfermagem necessitam ultrapassar os estudos exploratório-descritivos que tratam apenas da dinâmica acadêmica em si, passando a adentrar na esfera de sua intersecção com a prática profissional, de forma a avaliar de fato o impacto do corpo de conhecimentos formativos no desenvolvimento do agir profissional do enfermeiro para a qualificação do cuidado. |