Roda de Conversa
608 | INTERACIONISMO SIMBÓLICO COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA NO ENSINO APRENDIZAGEM DE ENFERMAGEM. | Autores: Bruna Kruczewski (Universidade do Oeste de Santa Catarina) ; Janaina Mery Ribeiro (Universidade do Oeste de Santa Catarina) ; Gisele Cristiane Viana de Sousa (Universidade do Oeste de Santa Catarina) ; Rose Maria Makowski (Universidade do Oeste de Santa Catarina) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A ação do cuidar está diretamente relacionada ao significado que o cuidador tem do fenômeno, portanto só desenvolverá essa e outras ações, se as considerar importantes para a prática do cuidar. O sentido dessas ações e atitudes são construídas na interação social que estabelecem ao longo da vida, esse movimento é conhecido como Interacionismo Simbólico1. Nessa metodologia, o estudante é convidado a vivenciar um processo interpretativo no contexto da interação social e por meio dela interpreta e transforma sua significação à luz da situação como um processo formativo, no qual os significados são usados e revisados como um instrumento para as diretrizes da ação 1. O universo neonatal traz diversas particularidades nas maneiras de cuidar, determinadas pela condição da prematuridade. O desenvolvimento neurológico do prematuro necessita ser mediado pelo cuidador, que no seu cotidiano deveria buscar conhecer e reconhecer suas capacidades e limitações para o enfrentamento das reais necessidades do recém-nascido prematuro e sua família, também prematura2. O curso de Enfermagem da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), realiza as atividades práticas de média e alta complexidade no hospital Universitário da cidade de Joaçaba. Considerado hospital de referência para o Meio Oeste catarinense, oferece campos de estágio em diversas especialidades, exceto unidade de neonatologia, encaminhando os recém-nascidos prematuros extremos e de alto risco para outros hospitais. O ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) gera no Recém-Nascido (RN) uma experiência bastante diferente daquela do ambiente uterino2. A experiência de estudantes de Enfermagem em cuidados neonatais como base nos princípios de humanização em uma UTIN se mostra necessária para a formação profissional. A escolha por uma metodologia ativa, mediada pelo interacionismo simbólico buscou aproximar os acadêmicos dessa realidade, já que não tiveram a oportunidade de desenvolverem atividades práticas nesse campo do cuidado. OBJETIVOS: Estimular/sensibilizar os acadêmicos de Enfermagem, por meio da vivência, para os chamados e as respostas do prematuro e sua família internados em unidade neonatal, para o reconhecimento de suas capacidades e limitações a partir dos sentidos e dos estímulos recebidos durante a dinâmica. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA: relato de experiência, fundamentado no Interacionismo Simbólico1, realizada no primeiro semestre de 2016, na UNOESC. Participaram voluntariamente da vivência 28 acadêmicos, da sétima e nona fase curricular do curso de Graduação em Enfermagem da UNOESC, sendo respeitados todos os preceitos éticos recomendados pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. O ambiente foi previamente preparado, dispondo os colchonetes de maneira a permitir a passagem de três facilitadores entre os participantes, em uma distância que permitisse o agachamento e proximidade facilitador-participante. Os materiais foram dispostos em uma mesa de apoio em pequenas porções, em copos plásticos (um para cada facilitador) para que a passagem de cada item ocorresse na mesma sequência para todos os participantes. Os participantes foram convidados a se acomodar na sala sobre colchonetes e permanecerem em uma posição confortável de olhos fechados. Foram orientados ainda sobre a ocorrência de posicionamentos, e re-posiocionamentos pelos facilitadores e que deveriam deixar-se conduzir. Ao mesmo tempo em que escutavam uma música suave, os facilitadores estimularam seus sentidos, respectivamente: o tato, o olfato, a audição, a visão, estados de organização e desorganização corporal, utilizando materiais de acordo com cada sentido. Olfato: cravo; canela de pau; pimenta do reino; pasta de alho; perfumes suave e forte; chocolate. Tato: lenços de seda; esponja (lado macio e áspero); algodão embebido em álcool; palito de dente; esparadrapo. Audição: placa de acrílico, som de saltos de sapato e de passagem de plantão. Visão: lanternas. Paladar: chocolate em barra. Organização: uso de cobertores, travesseiros para simular ambiente contentor. RESULTADOS: a Interação dos acadêmicos de Enfermagem frente à aplicação da estratégia metodológica, evidenciou diversas reações não verbais dos estudantes frente aos estímulos sensoriais3, diferindo apenas naquelas que dependiam de uma preferência pessoal. Isso nos remete pensar que tais estímulos provocam e retomam lembranças para a memória consciente dos símbolos significantes adquiridos ao longo da vida e permitem uma abertura para novas interpretações e re-significações do tema proposto. Na interação indivíduo-estímulo, evidenciou-se conforme os sentidos que: o olfato, de maneira geral, cravo e canela expressaram fácies de reconhecimento, a pimenta e o alho causaram aversão e fácies franzida, indicando repulsa. Os perfumes variaram em agradável ou não, dependendo da preferência. Com relação ao tato, as sensações consideradas agradáveis foram a passagem do lenço de seda, pano de algodão, lado macio da esponja na pele, pela permissividade e expressão de conforto. Já as sensações consideradas desagradáveis foram aspereza no lado verde da esponja, palito de dente (simulação de agulhada), aplicação e principalmente a retirada do esparadrapo, que foi realizada em duas etapas, uma mais lenta e delicada e outra rápida e brusca, expressadas pelo sobressalto e fácies franzida mais acentuada na última. Na audição, os participantes responderam à simulação da queda de um objeto sobre uma placa de acrílico (simulação da colocação de instrumentos sobre a incubadora), à passos com salto alto, à passagem de plantão à beira do leito. A primeira expressa por sobressalto e as duas últimas fácies de desconforto. Na abordagem do sentido da visão, cada facilitador com uma lanterna, repentinamente abria um dos olhos do participante e direcionava a lanterna para o mesmo, provocando reação de desconforto, repulsa e franzimento de fácies. Para o sentido do paladar foi oferecido um pedaço de chocolate, com estímulo prévio olfativo, alguns consentiram abrindo espontaneamente a boca, outros não, serrando os lábios. Desorganização: posicionamento disforme de membros e tronco na intenção de promover desconforto. Organização: posicionamento e alinhamento de tronco e membros com apoio de coxins, travesseiros e contenção com cobertores, finalizando com "handling" (acomodação/contenção com mãos paradas no sentido céfalo-caudal transmitindo conforto e segurança).CONCLUSÃO: Ao analisar as interações simbólicas experenciadas, os sentimentos expressados, eram principalmente de insegurança e medo do desconhecido. Após a resignificação, o sentimento predominante foi o de empatia. É esperada a aproximação desses profissionais, desde quando ainda acadêmicos, com as mais diversas áreas de atuação com o propósito de reproduzir as teorias aprendidas em aula e que também possam proporcionar à comunidade um cuidado inovador e coerente com as suas necessidades. A participação do estudante, por meio de metodologias inovadoras, torna-se fundamental para a construção acadêmica pautada no conhecimento, desenvolvimento e transformação da realidade. Por conseguinte, os cursos de Enfermagem, buscam com base na DCN, implementar um currículo onde seja privilegiada formação profissional generalista, humanista, crítico e reflexivo, pautados nos princípios científicos e éticos. CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: o Interacionismo Simbólico se revela como uma importante estratégia de ensino, permitindo desdobrar novos modelos de cuidado para o campo da prática profissional, bem como, a criação de instrumentos que garantem a qualidade do cuidado de enfermagem e da assistência à saúde, conforme preconizado nas DCN. Descritores: Enfermagem neonatal; Interacionismo Simbólico; Metodologia ativa. REFERÊNCIAS 1. Mead, GM. Espiritu, persona y sociedad: desde el punto de vista del conductismo social. 4ª ed. Buenos Aires: Editorial Paidos,1978. 393 p. 2. Duarte, ED et al. A família no cuidado do recém-nascido hospitalizado: possibilidades e desafios para a construção da integralidade. Texto contexto - enferm. Dez 2012;21(4): 870-878. 3. Guiorzi, AR. Entre o dito e o não-dito: da percepção a expressão comunicacional. Florianópolis: [s.n], 2004. 288p. |