Comunicação coordenada
547 | DA PIRÂMIDE PARA O CIRCULO: EM BUSCA DE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARTICIPATIVAS EM SAÚDE | Autores: Cláudio Claudino da Silva Filho (Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó-SC; Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/UFSC)) ; Marta Lenise do Prado (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/UFSC)) ; Kenya Schmidt Reibnitz (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/UFSC)) ; Livia Crespo Drago (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa, Tecnologia e Inovação em Políticas e Gestão do Cuidado e da Educação em Enfermagem e Saúde (GEPAGES); Universidade do Sul de Santa Catarina (U) ; Vânia Marli Schubert Backes (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa, Tecnologia e Inovação em Políticas e Gestão do Cuidado e da Educação em Enfermagem e Saúde (GEPAGES); Universidade do Sul de Santa Catarina (U) |
Resumo: Introdução: A ineficácia de estratégias educativas verticais e bancárias nos serviços de saúde têm sido substancialmente investigada e demonstrada nos últimos anos, especialmente no âmbito da atenção primária, em que uma série de políticas governamentais sugere com veemência as atividades educativas como facilitadoras de vínculo e corresponsabilização no contexto assistencial dos profissionais de saúde. Objetivos: Refletir como o profissional de saúde pode agir como mediador nos círculos de educação em saúde sustentados no pensamento de Paulo Freire, reportando-se aos pilares conceituais do Círculo de Cultura e itinerário de pesquisa de Freire aplicado ao cotidiano profissional em Enfermagem e saúde. Descrição metodológica: Trata-se de um estudo reflexivo a partir das experiências compartilhadas por Mestrandos(as) e Doutorandos(as) no âmbito das disciplinas "Tópico Especial: Educação em Enfermagem e o pensamento de Paulo Freire" I e II, ofertada pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As reflexões emergiram a partir da leitura das principais obras deste educador, correlacionando o pensamento Freireano com a prática profissional dos(as) Enfermeiros(as) pós-graduandos(as), e a partir disso foram construídas reflexões escritas, que articuladas, comporão um livro em processo final de editoração, do qual se extraiu um dos capítulos a ser relatado aqui. Resultados: O triângulo representa as relações hierarquizadas, nas quais um tem maior influência ou poder ou "sabedoria" sobre os outros e nos remete ao que Paulo Freire aponta ser educação bancária. Este é o tipo de educação em que o detentor do conhecimento deposita seus ensinamentos sobre seus educandos, que a priori nada sabem. É uma relação vertical unidirecional e de influências positivistas. Por outro lado, o círculo inspira relações humanas horizontalizadas, no qual todos são importantes. Há um moderador que tem a função de articular tais relações na intenção de chegar a um conhecimento do coletivo. Em um círculo, o grande elemento é o diálogo, pois é por meio dele que homens e mulheres se aproximam e promovem relações de afetividade, de humildade, de respeito e de amor uns pelos outros e pelo mundo, além de possibilitar a reflexão com o outro acerca das situações que estão vivenciando, identificar os problemas e buscar soluções1,2. Na atenção primária se presencia diversos grupos utilizarem a premissa da roda, porém, são completamente orquestrados por profissionais de saúde, que ditam as regras do jogo, o que se vai discutir naquele encontro, a metodologia a ser utilizada, a avaliação etc. Os conselhos locais de saúde podem ser outro exemplo de agrupamento de pessoas, nos quais pouco se valorizam os saberes de todos, ficando sempre poucos em destaque, os quais representam interesses privados ou divergentes da comunidade a qual representam. Entretanto, se incorporarmos o círculo preconizado por Freire, no qual o diálogo e a horizontalidade das relações são premissas, nos grupos de educação em saúde ou nos conselhos locais de saúde, por exemplo, serão espaços de reflexões sobre as situações vividas na tentativa de identificar os problemas e buscar, coletivamente e com corresponsabilização, soluções. A concepção bancária da educação, que aqui descrevemos com a lógica da pirâmide, é vista como instrumento de opressão, na qual não há produção de conhecimento e, sim, transmissão de informações. Freire apresenta no círculo de cultura as ferramentas para ensinar a pensar e problematizar a realidade e, assim, produzir conhecimento. A lógica da pirâmide, como em tantas ações educativas que são promovidas nas instituições de saúde, concebe um pensar mecânico, em que a realidade social é algo exterior aos participantes. Na rotina diária do profissional de saúde, as informações são repassadas aos participantes mecanicamente e repetidamente, independentemente das características e necessidades de cada pessoa envolvida. Os profissionais utilizam cartilhas com passos e sequências rígidas e perpetuam estas informações. Para mudar esta realidade os profissionais de saúde necessitam exercitar a empatia, colocando-se no lugar dos participantes, conhecendo suas realidades e abrindo espaço para a troca de saberes entre educadores e educandos. Desta forma, os educandos não se limitam à repetição mecânica do conhecimento do educador e começam a transformar sua própria história, refletindo criticamente, aflorando a consciência humana, que busca compreender o mundo que vive. O profissional de saúde, para atuar como mediador do círculo de cultura, fomenta a colaboração, a união e a organização, para que cada participante compreenda o outro e respeite sua cultura, valorizando e respeitando as diferenças. Para efetivação do círculo, precisamos essencialmente que sejamos seres humanos, vislumbrando e valorizando o outro na sua totalidade. Desta forma, o educador deve envolver-se com a realidade para uma transformação dos hábitos que promovam a saúde e elevem a qualidade de vida dos usuários dos serviços de saúde. Compreendemos que o papel do educador em um círculo de cultura é de mediador do diálogo entre os sujeitos sociais (livres, autônomos e com suas experiências respeitadas) ali envolvidos e inseridos no mundo, e que a interferência deste diálogo estabelecido é a mínima possível. Dessa forma, o mediador convida esses sujeitos a refletirem acerca de uma situação-problema que vivenciam e os desafiam a elaborar respostas práticas. Durante as discussões do grupo, o mediador do círculo pode refletir sobre algumas questões2,3: O que eles veem ou sentem? Como um grupo, define um problema? Como dividem experiências similares em suas vidas? Por que estes problemas existem? Como desenvolver e planejar ações para enfrentar os problemas? As ferramentas essenciais para a conquista da relação horizontal educador-educando e efetivação da construção do conhecimento no círculo de cultura são o amor, a humildade e a fé. O profissional de saúde, educador, no círculo de cultura agrega características e valores que transcendem o saber científico. Demanda que o ser humano seja aflorado com amorosidade, afetividade, alegria, esperança, liberdade e ética. Conclusão: Por conseguinte, evidencia-se o círculo de cultura como meio de promoção da autonomia dos sujeitos mediados pelo diálogo e pela reflexão de suas realidades a fim de construir um conhecimento coletivo e de soluções para os questionamentos que surgem. Sublinha-se que o itinerário de pesquisa freireano, ao ser aplicado na prática assistencial de enfermagem, do itinerário de pesquisa freireano, contribui no processo educativo, estabelecendo relações em "círculo" entre usuários, familiares e equipe de saúde, promovendo a educação em saúde a partir de trocas de conhecimento. Contribuições / implicações para a Enfermagem: O(a) Enfermeiro(a), como profissional educador(a) em sua essência, pode agir como mediador(a) nos círculos de educação em saúde sustentados no pensamento de Freire, com papel fundamental de promover reflexões acerca do que os usuários veem ou sentem; o sentimento de grupo ao instigá-los a elaborar um problema em comum; momentos para dividirem experiências similares em suas vidas; ponderação sobre as possíveis causas do problema elaborado em conjunto; e desenvolvimento de estratégias para solução do problema elegido. Descritores: Educação em saúde; Humanização da assistência; Equipes de saúde. 1) Freire P. Pedagogia do oprimido. 29. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2000. 2) Prado ML, Heidemann IT, Reibnitz KS. Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem: processo educativo em saúde. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2013. 3) Heidemann I. A promoção da saúde e a concepção dialógica de Freire: possibilidades de sua inserção e limites no processo de trabalho das equipes de saúde da família [Tese]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2006. |