Comunicação coordenada
85 | METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO: ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM PARA FORMAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE MORRER | Autores: Luciara Fabiane Sebold (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Mara Ambrosina de Oliveira Vargas (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Silvana Silveira Kempfer (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Juliana Balbinot Reis Girondi (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Roseli Schmoller (Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo: METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO: ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM PARA FORMAÇÃO NO PROCESSO DE MORTE MORRER Luciara Fabiane Sebold Mara Ambrosina de Oliveira Vargas2 Silvana Silveira Kempfer3 Juliana Balbinot Reis Girondi4 Roseli Schmoller5 INTRODUÇÃO Com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) em 2001, o curso de graduação em enfermagem apontaram para uma transformação na formação dos futuros profissionais enfermeiros, preconizando "aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos/aprender a conviver com os outros e aprender a ser". Torna-se fundamental o investimento e reflexão acerca da formação docente apoiada em conteúdos pedagógicos, haja vista que uma boa preparação poderá refletir positivamente na formação do profissional de saúde (1). Neste contexto as metodologias ativas que permite a construção do conhecimento individual e coletivo possibilitando uma movimentação ativa de todos os envolvidos. Estas dinâmicas facilitam o desdobramento das operações mentais e levam em conta o tempo de aprendizagem de cada educando (2). As discussões do cotidiano da enfermagem incluem processo de morte e morrer. Nos últimos anos, muitas instituições educacionais buscam aprimorar em suas disciplinas, a discussão do tema da morte e dos cuidados no fim da vida. Contudo, o ensino da graduação ainda se mostra fragmentado e pouco consistente, visto que os profissionais muitas vezes referem não terem a oportunidade adequada tanto de preparo teórico e tampouco suporte emocional para lidar com o sofrimento e a morte de seus pacientes. Acredita-se que o diferencial desta reflexão esteja na descrição de uma experiência curricular que explora diferentes espaços e possibilidades para narrar o processo de aprendizagem, tendo em vista a ação-reflexão-ação, em uma perspectiva educacional das metodologias ativas. Diante do exposto, especificadamente, este estudo teve como objetivo analisar as abordagens utilizadas na disciplina de Fundamentos para o Cuidado Profissional, quanto ao processo de morte e morrer. MÉTODO Pesquisa qualitativa exploratória, do tipo documental desenvolvido com acadêmicos de enfermagem da disciplina de "Fundamentos para o Cuidado Profissional". A pesquisa foi desenvolvida no ambiente acadêmico da Universidade Federal de Santa Catarina. Os dados foram extraídos dos portfólios nos meses de setembro a dezembro de 2012. A escolha dos sujeitos desta pesquisa foi intencional, na medida em que queríamos expressar as múltiplas possibilidades de se aprimorar a discussão acerca da temática: processo de morte e morrer. Para a coleta de dados, utilizaram-se os portfólios dos acadêmicos, com descrições e análises reflexivas acerca do processo de morte e morrer. A análise dos dados foi efetuada utilizando a análise textual discursiva documental. Foram cumpridas as determinações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. RESULTADOS As descrições e reflexões da aula teórica abordando a temática do processo de morte e morrer. "Durante a explicação, entendi porque muitas vezes tentar prolongar a vida de uma pessoa é errado e doloroso e, que isso, quase sempre ocorre porque nós ainda não sabemos lidar com a morte e a negamos, principalmente se for com alguém querido". (S2). Vivência dos acadêmicos com o processo de morte e morrer no cenário de cuidado hospitalar: "Eu e minha colega ficamos responsáveis pelos cuidados paliativos.. Estava bem nervosa e acabei me emocionando quando a professora veio perto de nós, disse que ia nos acompanhar e que seria um banho muito especial". (S4) Discussão reflexiva da situação vivenciada no cenário de cuidado hospitalar durante a aula de aprendizagem vivencial: "Vou estender o dia de hoje até a aula de aprendizagem, que por uma mão divina, Deus notou o quanto nós precisávamos expor o que aconteceu, a professora comunicou que aquela aula seria apenas para quem fazia a disciplina de Fundamentos, eu e a minha colega estávamos presentes e contamos o que aconteceu, eu chorei, sofri de alguma forma mesmo nunca tendo visto aquela Senhora anteriormente". (S1). Discussão reflexiva na aula de tutoria acerca da vivência do processo de morte e morrer: "Considerei importante à professora retomar na aula de tutoria no momento que discutíamos como foi nossa vivência no HU, a discussão sobre o processo de morte e morrer. Não sinto muita aversão para com a morte, acredito que a pessoa só poderá realizar um bom atendimento ao paciente em estado terminal se encontrar naturalidade nesse processo". (S5) O foco da discussão centra-se na questão dos espaços de diálogo sobre o processo de morte e morrer na formação dos alunos, no desenvolvimento da competência moral e ética, amadurecimento pessoal e, consequentemente profissional, para serem enfermeiros comprometidos com esta fase do processo de viver humano. Neste sentido, as reflexões contemporâneas sobre o processo de viver humano transcorrem por fenômenos intrínsecos, por vezes vinculados à temporalidade e às experiências, ou observados pelo âmbito da morte ligada à finitude(3). A negação da morte remonta uma condição da sociedade atual, que cultiva apenas a vida, e que percebe o processo de viver humano como algo infinito, principalmente a medida que contemplamos o nascimento, o desenvolvimento e as conquistas da vida. A negação da morte é evidenciada em todos os setores da sociedade ocidental, inclusive entre os profissionais da saúde que, na linguagem diária, referem-se à mesma como óbito (4) Vivenciar a proximidade da morte é uma experiência única e permeada de enorme carga emocional (5). Ao propiciar um espaço de discussão que o acadêmico projeta-se para o futuro fica claro que o ser humano tem um tempo determinado pela própria natureza. Os acadêmicos que vivenciaram o processo de morte e morrer percebem que os espaços de discussão foram fundamentais para elaboração de parte dos sentimentos relacionados ao episódio de morte e que uma das melhores formas de compreender este processo é o diálogo. Seja por herança cultural ou formação pessoal, cada ser humano carrega consigo uma representação individual da morte e a esta é atribuída às influencias do convívio social, meios de comunicação e particularidades de cada um, fatores que contribuem para sua mistificação (12). CONSIDERAÇÕES FINAIS A formação em enfermagem e em saúde prioriza o conhecimento sobre as questões associadas à preservação da vida, entretanto discute sutilmente as questões sobre a finitude. Porém, os profissionais da saúde vivenciam o processo de morte e morrer constantemente, e acabam, por vezes, tornando-se insensíveis, esta insensibilidade pode estar relacionada à sua formação, no sentido de que a academia, nem sempre possibilita espaços para discussão da temática. Por outro lado os docentes podem também não sentirem-se a vontade para refletir junto aos acadêmicos estas questões. REFERÊNCIAS 1. Canever BP, Prado ML, Backes VMS, Gomes DC. Produção do conhecimento acerca da formação do enfermeiro na América Latina. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(4):211-220. 2. Rede Unida. A construção de modelos inovadores de ensino-aprendizagem: as lições aprendidas pela Rede Unida. Disponível em: Acesso em: 19 de março 2013. 3. KEMPFER, Silvana Silveira; CARRARO, Telma Elisa. Temporalidade: o existir e a perspectiva da finitude para o ser-acadêmico-de-enfermagem ao experienciar a morte. Texto contexto - enferm., Florianópolis , v. 23, n. 3, set. 2014 4. Santos JL, Bueno SMV. Educação para a morte a docentes e discentes de enfermagem: revisão documental da literatura científica. RevEscEnferm USP 2011. 45(1): 272-6. 5. Pinho LMO, Barbosa MA. A morte e o morrer no cotidiano de docentes de enfermagem. Rev Enferm UERJ. 2008; 16(2): 243-8. Descritores: Morte; Estudantes de Enfermagem; Atitude frente a morte. Eixo 1 - Processo de ensino-aprendizagem na formação em Enfermagem |