Comunicação coordenada
74 | RETENÇÃO DO CONHECIMENTO DA EQUIPE DE CAPTAÇÃO SOBRE EXTRAÇÃO, PERFUSÃO E ACONDICIONAMENTO DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS: UMA ANÁLISE DE UM CURSO TEÓRICO-PRÁTICO. | Autores: Juliana Guareschi dos Santos (Hospital Israelita Albert Einstein) ; Ana Cristina Carvalho de Matos (Hospital Israelita Albert Einstein) |
Resumo: Juliana Guareschi dos Santos a; Ana Cristina Carvalho de Matos b Introdução: A fila de espera por um órgão demonstra o descompasso existente entre a oferta (quantidade inadequada de órgãos), demanda (número elevado de pacientes na fila) e o resultado (taxa de conversão de possíveis em potenciais doadores)1,2,3. Dentre os fatores que contribuem para a essa situação, está o despreparo da equipe, a falta de conhecimento e experiência no assunto. Frente a isso a capacitação dos médicos, enfermeiros e sua equipe se faz necessária 4 . Objetivo: Analisar a aquisição de conhecimento dos médicos, enfermeiros e instrumentadores após o curso teórico e prático de extração, perfusão e acondicionamento e transporte de rim e fígado. Material e Método: Pesquisa retrospectiva, quantitativa, analítica-descritiva, aprovada no Comitê de Ética CAAE: 55480616.1.0000.0071. Os dados de perfil e notas de pré e pós-teste foram tabulados pelo Programa de Capacitações em Transplante do Hospital Israelita Albert Einstein-SP, do período de junh-2012 a dez-2014. O público alvo do curso pesquisado são: médicos (med) cirurgiões de fígado e de rim; enfermeiros (enf) do centro cirúrgico e coordenadores de comissão intra-hospitalar de órgãos; instrumentadores (instr) dos hospitais indicados para o curso. A amostra foi indicada pelo Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos (SNT) via parceria PROADI-SUS. No referido curso; ministra-se o conteúdo sobre a técnica de extração, perfusão e acondicionamento de fígado e rim. Carga horária do curso possui total de 16 hrs, sendo dividido em 2 dias. No primeiro dia aplica-se o pré-teste e ocorre a apresentação de três aulas teóricas na ordem de: Técnicas Cirúrgicas de Extração de Fígado, Técnicas Cirúrgicas de Extração de Rim e o Papel do Enfermeiro como Coordenador de sala cirúrgica, nessa é apresentada a logística do processo de captação utilizado no HIAE, os impressos exigidos pela legislação e por fim, os aspectos de acondicionamento e transporte dos órgãos, com base nas diretrizes básicas para captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos 18 e na RDC nº 66 2009. Após a aula teórica os participantes são divididos em três grupos, compostos por: quatro cirurgiões (dois como principais e dois como auxiliares), dois enfermeiros e um instrumentador, no total sete alunos por mesa cirúrgica. Em cada mesa será ensinado na prática a cirurgia de captação, perfusão e acondicionamento de fígado e rim. A aula prática tem carga horária de 13 horas, dividida no primeiro dia nos turnos da manhã e da tarde e no segundo dia somente no turno da manhã. Para essa aula utiliza-se total de nove porcos, fêmeas e dentro das normas e Regulamentação do Comitê de Ética e o Manual sobre Cuidados e Usos de Animais de Laboratório- CEUA: 2110_14. Os instrutores médicos, sendo os profissionais da equipe do transplante/captação do hospital, auxiliam os alunos nas técnicas de canulação, extração dos órgãos, perfusão in situ e back-table e acondicionamento. Os instrutores enfermeiros, sendo os profissionais do núcleo de captação de órgãos do hospital, iniciam com explanação prática por meio do check-list dos documentos exigidos para início da cirurgia de extração em seguida ocorre o preparo da mesa com os materiais necessários para perfusão, com o controle dos equipos, volume e velocidade de soro de perfusão e o acondicionamento e transporte dos órgãos.Os instrutores de instrumentação, sendo os profissionais da equipe do transplante/captação do hospital, separam o material cirúrgico e auxiliam os alunos no momento dos tempos cirúrgicos de dissecção quente, canulação, perfusão "in situ", hepatectomia, dissecção fria, perfusão na mesa, retirada de enxertos vasculares e arteriais e embalagem dos órgãos. Antes do início do curso, aplica-se uma prova teórica, específica para cada categoria profissional. Ao final do curso aplica-se a pós-teste .Posteriormente realiza-se a média de retenção de conhecimento, dos grupos capacitados utilizando estatística básica descritiva. Resultados: Dos 334 alunos analisados que foram indicados para a realização do curso entre 2012 a 2014, obtiveram-se 321 presentes e 13 ausentes. Dos presentes 131 era do gênero feminino e 190 masculino. Foram capacitados, 182 médicos, 98 enfermeiros e 41 instrumentadores. Em relação a procedência somente o estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul que não foram contemplados, a Região Norte teve 58 , Região Nordeste 102 , Região Centro-Oeste 36 , Região Sul 24 , Região Sudeste 101 alunos. Em 48,9% (89) dos médicos, 54,08% (53) dos enfermeiros e dos 43,8% (18) instrumentadores estavam com menos de um ano de experiência na área de doação ou transplante. Em relação a porcentagem de retenção de conhecimento, a média de pré-teste para o grupo foi de 5,8 e no pós-teste de 7,7, que corresponde 32,76% de retenção de conhecimento. Dentre as categorias tem-se em ordem decrescente: instr 48%, enf 34,5%, med 21,7%. Em critério de análise das questões aplicadas as que mantiveram erro no pré e no pós-teste tem-se : 29,67% (56) dos med "Técnica Cirúrgica da Retirada exclusiva Renal"; 44%(44) enf "Vias de acesso de perfusão de órgãos abdominais", instr 43% (18) "Tempos Cirúrgicos". Para os estados de origem dos participantes: AP, AC, AL, SE, RO, PA, PR apresentaram porcentagem maior do que total do curso com variação de 95% a 31%. Para os estados de PE, GO, PI, MG, TO, RJ, ES, RR, RN, AM, BA, DF, CE, SO, MA, a retenção ficou menor do que o geral do geral do curso entre 29,23% a 12,31%. Conclusão: A retenção de conhecimento dos profissionais de equipes de captação, demostrou-se nesse estudo que há uma porcentagem de aquisição de conhecimento dos médicos, enfermeiros e principalmente dos instrumentadores; estados treinados com índices baixo de doação por milhão de população apresentam índices de taxa de retenção de conhecimento menor. Contribuições e implicações para a Enfermagem: Dentre as áreas de atuação da enfermagem; a captação de órgãos é pouco estudada 5, desta forma,com enfermeiros e sua equipe (instrumentadores) capacitados nessa área, será possível transformar esse conhecimento em benefícios sociais; ou seja, mais oferta de órgãos , menor tempo na fila de espera para transplante; e maior qualidade do enxerto e consequentemente a maior sobrevida do receptor. Palavras chaves: Educação, Aprendizagem, Avaliação de Educação 1. Júnior CSO, Sankarankutty AK, Oliveira GR, Pacheco E, Ramalho FS, Dal Sasso k, Tolentino E, Mente ED, França AV, Martinelli ALC. Transplante de Fígado: Indicação e Sobrevida. Acta Cirúrgica Brasileira 2002; 17 (3): 83-91. 2. Cherchiglia ML, Machado EL,Szuster DAC,Andrade ELG,Acúrcio FA,Caiaffa WT,Sesso R, Junior AAG,Queiroz OV,Gomes IC. Epidemiological profi le of patients on renal replacement therapy in Brazil, 2000-2004. Rev Saúde Pública 2010; 44(4):639-49. 3. Marinho A. Um estudo sobre as filas para transplantes no Sistema Único de Saúde brasileiro; Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(10): 2229-2239, out, 2006. 4. Bastos, L.F.L., Avaliação da Reação, Aprendizagem e Impacto de Treinamento em um Hospital do Município de São Paulo, in Fundamentos e Práticas de Gerenciamento em Enfermagem e em Saúde. 2012, Universidade de São Paulo - USP: São Paulo. p. 142 5. Martínez F.J.M, Altamira C.P, Medina B.C, Pimienta C.S. Visão dos profissionais de saúde com relação à doação de órgãos e transplantes :Revisão de Literatura. Texto Contexto Enferm. 2015; 24(2): 574-83. a.Licenciada em Enfermagem pela USP; Especialista em UTI pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE); Enfermeira do Programa de Capacitações em Transplante pelo HIAE. b.Coordenadora do Curso de Pós Graduação Doação e Transplante Lato Sensu do HIAE |