Imprimir Resumo


Anais :: 15º Senaden • ISSN: 2318-6518
Resumo: 549

Comunicação coordenada


549

O VER-SUS OESTE CATARINENSE COMO ESTRATÉGIA PARA PRÁXIS TRANSDISCIPLINAR: ENTRE A MILITÂNCIA POLÍTICA E A REORIENTAÇÃO DOS ITINERÁRIOS FORMATIVOS

Autores:
Cláudio Claudino da Silva Filho (Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus Chapecó-SC; Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/UFSC)) ; Marta Lenise do Prado (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Educação em Enfermagem e Saúde (EDEN/UFSC))

Resumo:
Introdução: A iniciativa estudantil e posteriormente governamental intitulada "VER-SUS" (Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde) tem se consolidado como um dispositivo de militância desde os tempos da reforma sanitária, quando estudantes lutavam por um sistema de saúde público e de qualidade para todos(as), além de uma formação em saúde coerente com todo esse cenário de redemocratização e que avançasse em sintonia com as garantias propostas constitucionalmente. Os desafios desde então tem ratificado a relevância deste e de outros dispositivos para reorientação da formação, pois se antes o Sistema Único de Saúde (SUS) não era minimamente apresentado aos(às) futuros(as) profissionais, agora o é de modo tecnicista, biomédico, acrítico, midiaticamente tendencioso, e sobretudo ressaltando os isolamentos profissionais em núcleos "auto-suficientes". A transdisciplinaridade emerge como uma proposta frutífera à formação para o SUS no sentido de questionar a arrogância disciplinar e contribuir para o alcance das premissas básicas do ousado sistema de saúde brasileiro. Objetivos: Refletir como graduandos(as) em saúde, na perspectiva da transdisciplinaridade, podem aliar a militância política à reorientação dos itinerários formativos na busca da práxis transformadora de suas realidades. Descrição metodológica: Trata-se de uma reflexão teórica aliada à um relato de experiência, utilizando como pano de fundo a experiência em 05 edições do VER-SUS Oeste Catarinense e como marco conceitual o pensamento de Paulo Freire. Sediado em Chapecó-SC e conduzido por estudantes e docentes de 03 universidades locais: pública federal - Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), pública estadual - Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) / Centro de Educação Superior do Oeste (CEO), e comunitária - Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), foram envolvidos até então mais de 200 estudantes nos papéis de viventes, facilitadores(as) e comissão organizadora. Financiado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Ministério da Saúde, o projeto conta ainda com o apoio da Rede Unida, onde estudantes de diversos cursos dentro e fora das clássicas profissões de saúde conhecem o SUS em Chapecó e cidades circunvizinhas com outros olhares, sobretudo do ponto de vista do trabalho em Redes e em equipes, participação popular, controle social, militância política e o papel de cada um/uma na construção contínua do SUS e do país que queremos. Utilizaram-se temas maiores para conduzir cada uma das edições, como Redes, Conferências de Saúde e respeito às diversidades, e problematizaram-se diversas situações nos quase 60 serviços visitados a cada edição pelos subgrupos multiprofissionais, muito além de instituições de saúde propriamente, convergindo com o conceito ampliado de saúde. Resultados: A partir das diversas estratégias problematizadoras de apresentação dos serviços loco-regionais e discussões posteriores no local de imersão, percebeu-se a partir dos momentos de socialização dos(as) viventes que o SUS continua sendo apresentado de modo reducionista nas formações profissionais em saúde, geralmente na perspectiva única dos seus pontos frágeis e de terceirização da responsabilidade de sua gestão para os entes federados, e em outras profissões, como se baseiam a partir do senso comum modelado sócio-cultural e midiaticamente, há claro espanto frente à dimensão do sistema e as garantias conquistadas por mobilizações estudantis e sociais desde a reforma sanitária. Outra questão que se destaca das falas dos(as) viventes é o isolamento com que percorrem seus itinerários formativos nas universidades, geralmente trazendo experiências de integração que continuam pulverizadas e quase nunca são inseridas contínua e organicamente ao longo dos componentes curriculares. O trabalho em equipe não é trazido em sala de aula e nos demais espaços universitários para o debate, e quando o é, fica restrito ao "forme-se isolado e aprenda depois de formado a trabalhar junto", negligenciando as competências relacionais inerentes ao exercício profissional no SUS como compromisso ético-político. Ao serem apresentados(as) às diversas perspectivas de atuação transdisplinar nas equipes de saúde e dos demais serviços com influência no setor, os espantos e desconhecimentos quanto às potencialidades do atuar conjuntamente (inclusive com Engenheiros, Pedagogos, Linguistas, e tantos outros) , bem como a sede de aprender sobre estratégias de trabalho coletivas a partir dali (estranhas dentro de suas matrizes curriculares), fazem emergir que os itinerários formativos continuam propiciando cenários de perda do sentido de pertença quanto à responsabilidade com o aprendizado do outro, muito além (unicamente) do meu. Há claro distanciamento da ideia de bens públicos como bens comuns, semeando a arrogância dos núcleos profissionais isolados, em detrimento do trabalho em equipe e respeito aos saberes do outro, tão decisivos na luta e construção do SUS como direito de todos(as) e dever do Estado. Para Freire, "Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes"1, ilustrando a clara limitação dos saberes isolados e dos núcleos disciplinares engessados e impermeáveis a novos olhares, sobretudo frente à complexidade do processo saúde-doença nos diversos cenários do SUS, demandando assim não só o trabalhar junto(s), como também a abdicação das verdades cristalizadas para que possamos pensar no usuário e colega de equipe como co-gestor de minha/nossa própria prática. O VER-SUS atraiu, em todas as edições, diversos atores engajados com movimentos sociais e estudantis dentro e fora dos muros acadêmicos, e a convivência na imersão com tantos saberes aparentemente distantes torna profícua a produção de possibilidades de atuação transdisciplinar, superando a lógica da militância pela militância, ou da simples reunião de indivíduos diferentes em um mesmo espaço físico sem nunca se permitirem a ouvir verdadeiramente o outro e estremecer suas certezas, sem posicionamentos críticos sobre os desafios do trabalho em equipe no SUS como foi proposto quando criado. Ainda conforme Freire, "a teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade"1, nos permitindo inferir para o SUS que somente a práxis transdisciplinar avançará em relação ao trabalho isolado ou ao pseudo trabalho em equipe como ainda é percebido na formação - agrupamento inerte de saberes que se consideram imiscíveis. Conclusão: As emoções afloradas e relatos de experiências de violência sofridas nos itinerários formativos em saúde, sobretudo em atividades onde se propõe trazer para a roda ("mandala") suas experiências de vida antes da imersão no VER-SUS e o que leva desse período para sua vida e carreira, denotam que experiências neste e em outros dispositivos de reorientação da formação, como o PRÓ-PET SAÚDE e o Rondon, são marcantes e transformadoras na formação do sujeito ético e militante por um SUS que contribua para mais justiça social. Contribuições / implicações para a Enfermagem: Aliar e estimular na formação do(a) Enfermeiro(a) as competências éticas e políticas, trazendo a articulação com as dimensões esperadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, é necessariamente pensar na Enfermagem como prática social decisiva ao avanço do SUS, e com necessidade de fortalecer como profissão a sua atuação transdisciplinar. Descritores: Enfermagem; Formação profissional em saúde; Equipes de saúde. 1) Freire P. Pedagogia do oprimido. 29. ed. São Paulo: Paz e Terra; 2000.