Roda de Conversa
489 | ENTRELAÇAMENTO DE SABERES EM ENFERMAGEM: DA SALA DE AULA AO MUNDO DO TRABALHO | Autores: Gímerson Erick Ferreira (Faculdades Integradas de Taquara - Faccat) ; Maisson da Silva Berg (Faculdades Integradas de Taquara - Faccat) ; Claudia Capellari (Faculdades Integradas de Taquara - Faccat) |
Resumo: Introdução: A formação do enfermeiro perpassa por diversos elementos norteadores, como as Diretrizes Curriculares Nacionais[1] e a legislação relativa ao sistema de saúde vigente no país. Há, no entanto, elementos que extrapolam a ordem burocrática e somente são alcançáveis mediante reflexão crítica sobre a realidade, e a incorporação de elementos teóricos à prática do cuidado em saúde. A fim de instigar a constituição de profissionais críticos, reflexivos e comprometidos com a melhoria do cuidado em saúde, propôs-se a utilização do Portfólio Integrador de Práticas Profissionais do Enfermeiro (PIPPE) como estratégia de ensino e aprendizagem. Nessa perspectiva, o PIPPE constitui-se dispositivo que favorece o comprometimento do aluno no processo de regulação de suas aprendizagens e na escolha dos meios a serem adotados para si mesmos. Objetivos: Descrever a experiência acadêmica na construção do PIPPE. Descrição metodológica: Trata-se de um relato de experiência de acadêmico de Enfermagem participante da proposta de ensino-aprendizagem voltada à articulação do conteúdo teórico com as experiências oriundas dos campos de prática curricular. A proposta integrou cinco disciplinas concomitantes, cursadas no oitavo semestre do Curso de Enfermagem - Bacharelado, das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat): Administração e Gerenciamento em Enfermagem, Educação Permanente em Saúde, Práticas de Cuidado V, Práticas de Cuidado VI e Saúde do Trabalhador. Docentes e discentes tinham o compromisso de resgatar informações e vivências provenientes tanto da sala de aula, do debate com colegas, quanto dos campos de prática e de cuidado em saúde. As informações contidas no PIPPE deveriam contemplar as vivências, as reflexões sobre estas e a fundamentação teórica que ancorava as práticas. Resultados: A construção do PIPPE foi baseada em estratégias propostas pelos docentes, as quais expressassem o envolvimento pessoal e acadêmico dos discentes em sua confecção mediante descrição de momentos de aprendizagem, bem como de situações que resgatassem a interdisciplinaridade em suas práticas. Dentre estas, estavam programados encontros integrativos entre as disciplinas, momentos nos quais eram discutidas experiências importantes vividas nos campos de prática, e que possibilitavam maior articulação com a teorização do trabalho desenvolvido, favorecendo a (re)significação dos conhecimentos. Além disso, todas as aulas, tanto teóricas como práticas, foram permeadas pelas experiências oportunizadas durante este momento de formação acadêmica, evidenciando a educação problematizadora[2]. A construção deste material possibilitou ao acadêmico de Enfermagem aprofundar o conhecimento ao relacionar suas atividades com o aprendido em sala de aula e, ainda, fixando isso ao discutir com os colegas as suas experiências, trabalhando sua capacidade de se relacionar com a equipe e comunidade, ao desenvolver estratégias de melhora da assistência. Para esta última, uma das propostas incluiu o diagnóstico situacional dos campos práticos, o qual retratava os cenários de cuidado e de trabalho em saúde, incluindo indicadores de saúde da população, acesso à rede de cuidados e práticas desenvolvidas pelos trabalhadores na região de abrangência dos serviços. A reflexão acerca deste diagnóstico permitiu a elaboração de possíveis estratégias a serem adotadas pelos profissionais enfermeiros quando de sua atuação futura, prevendo ações, articulações e intervenções nos cenários de cuidado, sendo este hospitalar ou de atenção básica. As atividades práticas permitiram momentos de encontro entre acadêmico e usuários do sistema de saúde, trabalhadores e também com a comunidade. Foi possível, inclusive, realizar articulação entre os acadêmicos e gestores, no sentido de traçar estratégias para aperfeiçoar o serviço de enfermagem em um dos campos de prática, promovendo assim o encontro ensino-serviço-gestão-controle social, como apregoado pelo quadrilátero da formação[3]. Durante o período de prática, foram promovidas interações com a comunidade, visando à prestação de serviços de enfermagem e construção de vínculo com a rede de atenção, além de encontros de educação para a saúde, planejamento e organização de ações de saúde e criação de grupos de educação em saúde. Estas atividades foram elaboradas pelos acadêmicos, com apoio docente e envolvimento das equipes de saúde, visando despertar a competência gerencial do enfermeiro. Esses são exemplos de atividades descritas no PIPPE e relacionadas com a literatura e com o aprendido em sala de aula, e posteriormente discutido com os colegas, dividindo as experiências e contribuindo para a formação de um enfermeiro crítico, reflexivo, com um olhar diferenciado para as necessidades dos usuários e comunidade. A partir da utilização do PIPPE para descrever vivências dos campos vinculados às disciplinas práticas e, ainda, vincular essas experiências com a teoria apreendida/discutida em sala de aula, foi possível perceber com mais clareza a ligação teoria-prática e a importância de realizar essa reflexão enquanto acadêmico de Enfermagem. Conclusão: Quando iniciam as atividades práticas nos cenários de cuidado, o acadêmico de enfermagem depara-se com a importância de interligar a teoria à prática, sendo uma tarefa que requer dedicação e compromisso com a sua formação e com o usuário que será atendido. O docente tem o papel importante de preparar e nortear o embasamento necessário para tal tarefa. Assim, instrumentos que facilitem essa ligação fazem refletir sobre onde se dá essa interlocução, transformando o modo de pensar e estimulando o senso crítico do ser enfermeiro. O material produzido, fruto da experiência relatada, será um instrumento de consultas futuras, no qual o acadêmico poderá retomar a leitura das atividades desenvolvidas durante o período de prática, explorando as considerações realizadas e elaborando estratégias de cuidado, a partir do descrito no PIPPE. Considera-se este instrumento como forma de recordação do período acadêmico, fazendo parte da história do discente e possibilitando retomar o que foi vivido e sentido durante a sua formação. Contribuições/implicações para a Enfermagem: O PIPPE, além de ser um dispositivo facilitador para o acadêmico visualizar/integrar as disciplinas, contribui para a formação de um enfermeiro crítico/reflexivo, autônomo e empreendedor, com visão para além dos muros da escola, e da assistência direta, pois, ao retomar a teoria, consegue associar com suas experiências, reavivando situações-problemas anteriormente vivenciadas, e facilitando a elaboração de estratégias que venham a contribuir para a melhoria das práticas de cuidado ao usuário e sociedade, na realidade em que está inserido. Ademais, a construção do PIPPE aproxima o acadêmico de Enfermagem do mundo do trabalho, possibilitando o exercício de tarefas gerenciais, assistenciais, educativas, políticas e científicas inerentes à profissão. É possível a intensificação do exercício do cuidado, que permite a imersão reflexiva no mundo do trabalho e a aproximação com as atividades concernentes à atuação do enfermeiro, bem como a avaliação da atuação deste profissional e do impacto das ações propostas na realidade em questão. A aproximação dos atores pertencentes à academia com aqueles pertencentes aos cenários de cuidado permite a transformação conjunta e elaboração de ações que respondam melhor às necessidades dos indivíduos e comunidade. Assim, considera-se o PIPPE um instrumento valioso, com potencial para despertar o compromisso do acadêmico, enquanto futuro profissional de saúde, com a consolidação de práticas favoráveis e transformadoras da realidade em saúde do país. Descritores: Educação em Enfermagem; Ensino; Aprendizagem Ativa. Referências: 1. Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem. Diário Oficial da União. 2001; nov 9, Seção 1, p.39. 2. Freire P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011. 3. Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis, 14(1): 41-65, 2004. |