Roda de Conversa
411 | FAZENDO ARTE: CINEMA E MÚSICA COMO FERRAMENTAS PARA O DEBATE SOBRE QUALIDADE DE VIDA E DIREITOS DO IDOSO | Autores: Norhan Sumar Silva (Faculdade Arthur Sá Earp Neto (FASE)) ; Camila Mendoza Fraga Nunes (Faculdade Arthur Sá Earp Neto / SMS Petrópolis) ; Lívia Teixeira (Faculdade Arthur Sá Earp Neto / SMS Petrópolis) ; Aline Furtado (Faculdade Arthur Sá Earp Neto) ; Ana Beatriz Artigues (Faculdade Arthur Sá Earp Neto) |
Resumo: Introdução: Sabe-se que a transição demográfica vem promovendo transformações relevantes na sociedade brasileira desde a segunda metade do século passado. Nesse contexto, o aumento da expectativa de vida, impulsionado pela melhoria das condições de vida e trabalho da população e pelo avanço tecnológico, traz consigo a necessidade de formulação e manutenção de políticas públicas específicas para garantia do envelhecimento com qualidade, como acesso integral aos serviços de saúde e formação específica do trabalhador em saúde1-2. Atualmente, dados oficiais sinalizam que, cerca de 12% da população brasileira tem sessenta anos ou mais, dos quais, aproximadamente 70% é exclusivamente dependente do Sistema Único de Saúde. Somam-se a esses dados as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estimam para 2050, que 30% da população brasileira será constituída de idosos2. É preciso considerar, no entanto, que apesar das limitações naturais decorrentes da idade, esta é uma etapa da vida que permite também a busca pelo bem-estar e a qualidade de vida1. A Organização Panamericana de Saúde (OPAS) reverbera esse ideário ao recomendar que os conteúdos específicos para o curso de Enfermagem abordem primeiramente idosos sadios para então, à posteriori, discutir suas principais enfermidades3. Nessa perspectiva é mantido o Grupo de Convivência da Vila Operária, como espaço para manutenção do bem-estar e qualidade de vida das idosas, além da possibilidade de forjar um cenário profícuo para a formação de estudantes de graduação e pós-graduação em saúde. Objetivos: promover a educação em saúde como um espaço para construção de alternativas que buscam bem-estar e qualidade de vida e; Objetivos específicos: oferecer espaço para os estudantes de graduação e pós-graduação em Enfermagem discutirem e implementarem ações referentes à saúde da pessoa idosa. Descrição metodológica: trata-se de um relato de experiência acerca da vivência dos enfermeiros pós-graduandos da Residência Multiprofissional em Atenção Básica em uma das atividades propostas para o Grupo de Convivência da Vila Operária. O Grupo, por sua vez, é constituído exclusivamente por idosas assistidas por uma equipe de Saúde da Família (eSF) vinculada à uma Instituição de Ensino Superior do município de Petrópolis, Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um espaço construído de forma coletiva e se aproxima da perspectiva da Educação Popular em Saúde4, uma vez que as idosas participam ativamente do processo de definição dos temas de cada encontro junto à eSF, da condução das conversas, pautam as respostas esperadas por parte da eSF e contribuem - considerando as limitações e potencialidades de cada sujeito - no sentido de pensar e agir o próprio processo saúde-doença em busca da emancipação. A proposta principal é fortalecer as redes de apoio, o que permite falar sobre as questões do envelhecimento e da vida de maneira informal. É um momento de desconstrução para todos, onde as idosas contam com a presença de profissionais e graduandos de Enfermagem, Medicina e Nutrição sem seus jalecos brancos e os rótulos pré-definidos, assim como os profissionais e estudantes se percebem integrantes do grupo, ancorados em uma relação horizontal. Este foi o cenário que nos estimulou durante a disciplina de Estratégia de Saúde da Família da Residência Multiprofissional em Atenção Básica, a articular com a eSF um encontro com o Grupo de Convivência da Vila Operária como possibilidade dos residentes perceberem o território em movimento, não delimitado à perspectiva estritamente geográfica e/ou administrativa. Resultado: Ao desenhar uma proposta de atividade com a enfermeira da equipe, aventamos a necessidade/possibilidade de pensar algo diferente, um encontro que rompesse com os muros da Vila e ganhasse outros espaços, construísse outros cenários. Planejamos o encerramento da disciplina para o mesmo dia do encontro e, em uma parceria com o Centro de Cultura do município, reservamos a sala de cinema pública para uma sessão de filme seguida de roda de conversa e apresentação musical de voz e violão. Apesar das dificuldades de locomoção, o encontro aconteceu graças à cooperação entre os membros da equipe e os residentes e as emoções descortinadas pelo filme "Canção para Marion" foram problematizadas na roda de conversa com a contribuição protagonista das enfermeiras, nutricionistas e psicólogas residentes em Atenção Básica. Falou-se sobre envelhecimento, adoecimento, morte, auto-estima e direito de acesso à arte e à cultura por parte da pessoa idosa. Cabe ressaltar que, os temas abordados na roda de conversa emergiram a partir das percepções delas sobre o filme e as emoções que acompanharam os discursos sinalizavam, entre outras coisas, décadas sem frequentar uma sala de cinema, a busca por uma postura ativa perante o envelhecimento e mudança de atitudes no relacionamento com familiares e pessoas próximas. Conclusão: é reconhecida a importância da educação em saúde com indivíduos e grupos para acompanhamento de determinados agravos e construção de alternativas exequíveis para a reorientação do modelo assistencial. Nestes espaços, é possível pensar a Saúde Coletiva e abordar os agravos e seus tratamentos considerando determinantes sociais que influenciam o processo saúde-doença em cada território. No Grupo de Convivência da Vila Operária, foi possível identificar um vínculo diferenciado entre a eSF e as idosas, seja pela estratégia adotada de transformar todos em "integrantes" do Grupo, seja pela perspectiva da Educação Popular, que dá voz de forma horizontal para todos os envolvidos. Esse conjunto de fatores nos parece favorecer a promoção da saúde, uma vez que na existência de maior vínculo e participação, caminhos podem ser trilhados coletivamente em busca de melhores condições de vida e saúde. Contribuições para a enfermagem: Essa experiência nos permitiu pensar a formação em Enfermagem no espaço do cuidado orientado para as famílias e voltado para a comunidade, atributos fundamentais da Atenção Básica Abrangente. Além disso, provocou a discussão acerca do envelhecimento como etapa da vida que, embora tenha particularidades, está repleta de caminhos possíveis para manutenção do bem-estar e da qualidade de vida². A possibilidade de ação-reflexão multidisciplinar agregou, tanto pelo aprendizado mediado pela troca, quanto no estímulo a capacidade de escuta e construção compartilhada das orientações. A ação permitiu ainda a discussão com os residentes sobre a práxis em saúde, traduzida em um movimento indissociável entre teoria e prática, na qual a educação em saúde pode ser o caminho possível para a emancipação dos sujeitos. Referências: 1- Lima CA, Tocantins, FR. Necessidades de saúde do idoso: perspectivas para a enfermagem. Rev. bras. Enferm, 2009; 62(3), 367-73. 2- Brito F. Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil. R. bras. Est. Pop., 2008; 25(1), 5-26. 3- Diogo MJD. Formação de recursos humanos na área de saúde do idoso. Rev Latino-am Enfermagem, 2004; 12(2), 280-2. 4- Falkenberg MB, Mendes TPL, Moraes EP de, Souza EM. Educação em saúde e educação na saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Ciênc. saúde coletiva, 2014; (19)3, 847-52. |