Roda de Conversa
393 | CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA ESTIMULAÇÃO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA CRIANÇA: CONSIDERAÇÕES PARA O ENSINO DA ENFERMAGEM | Autores: Jeanine Porto Brondani (Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT) ; Cármen Marilei Gomes (Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT) ; Edemilson Pichek dos Santos (Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT) |
Resumo: Introdução: As intervenções nas funções executivas das crianças caracterizam-se por atividades de estimulação específicas à atenção, autorregulação, memória de trabalho, planejamento, entre outras. São funções extremamente importantes para o aprendizado escolar, regulação emocional, social e também na reabilitação, sendo por esses motivos, estudadas em um primeiro momento, pela área neuropsicológica e mais recentemente por outros profissionais ligados à educação1. Assim, a partir de 2013, visando incentivar e estimular o estudo mais aprofundado das funções executivas foi criado um programa de atividades para crianças de cinco e seis anos que contemplam diversas tarefas a serem aplicadas por professores, psicólogos, psicopedagogos e profissionais ligados à educação, o PIAFEX1. O manual organiza as tarefas de forma lúdica, em dez módulos e oferece, portanto, diversas oportunidades de convivência com as crianças, com os professores e com a escola. Dessa forma, desde 2015, o PIAFEX1 é utilizado numa escola de educação infantil do município de Taquara-RS, como atividade de pesquisa dos cursos de Psicologia e da Enfermagem da Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT. O projeto busca intervir com estimulação precoce nas crianças e capacitação de professores para uso do material, para posterior avaliação por meio de testes psicológicos e estudo neuropsicológico da aprendizagem. O módulo final do método é descrito como atividade de contação de histórias, sendo essas, as atividades da enfermagem. Objetivo: relatar a experiência de atividades de contação de histórias e discutir o aprendizado de enfermagem no cuidado à criança em âmbito escolar. Descrição Metodológica: As atividades de contação de histórias de forma direcionada foram realizadas em dois momentos com quatro turmas de 15 crianças utilizando a temática da higiene. Todos os encontros tiveram a mesma metodologia. iniciando com momento de apresentação e direcionamento das atividades, contação das histórias "Quem nunca teve diarréia?"a e "Porque devo me lavar?"b, e após, as crianças construíram painéis e apresentaram as informações mais relevantes de cada história. Essas atividades foram planejadas a fim de estimular a atenção, organização, memória e reflexão sobre alguns cuidados com a saúde e percepção do acadêmico sobre as funções executivas e o olhar da criança em relação ao seu corpo, e ao seu momento de desenvolvimento cognitivo. Destaca-se que essas não são as histórias do PIAFEX, mas considerou-se importante como atividade de preparação do acadêmico para posterior aplicação da História da Nina1. Resultados: Contar histórias para crianças é uma estratégia que oportuniza benefícios para a criança e para o acadêmico de enfermagem. São momentos de encontro que incentivam a educação em saúde em âmbito intersetorial, que promovem o desenvolvimento de vínculo entre o estudante e as crianças e também a vivência na coordenação de grupos. Além disso, é uma atividade que promove o aprendizado de ambos - criança e acadêmico, sendo essa, de extrema relevância para o processo de ensino-aprendizagem na formação em saúde, pois valoriza todos os atores envolvidos, o que vai ao encontro das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)2 e das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)3 sobre o ensino de Enfermagem. A educação em saúde se insere em todas as práticas que envolvem SUS. O princípio da integralidade, além de atribuir cuidado em todos os âmbitos de atenção, também tem relação com os saberes, práticas e vivências nos espaços de cuidado. Desse modo, é relevante o desenvolvimento de ações de educação em saúde em uma perspectiva dialógica, que estimule a autonomia das pessoas no que diz respeito a sua condição de sujeitos de direitos e autores de sua trajetória do processo saúde-doença e de profissionais no ato de reinventar suas práticas2. Conviver com a criança em ambiente escolar, planejar atividades grupais e avaliar tais atividades permite o desenvolvimento da comunicação terapêutica, da segurança na abordagem com criança, da criatividade e do estímulo ao desenvolvimento de novas estratégias de intervenção para o cuidado de enfermagem3. O uso de histórias no cuidado oferece subsídios para conversar com a criança a fim de conhecê-la mais profundamente e com isso, poder identificar necessidades que valorizam as subjetividades que muitas vezes não são percebidas por meio de outras brincadeiras ou atividades. Em relação à curiosidade - entendendo-a como um sentimento capaz de gerar vontade de saber algo - as histórias infantis têm papel importante, pois podem provocar na criança o desejo de buscar determinado conhecimento que pode ou não estar contido no enredo da história, e para o estudante de enfermagem, estimula o aprender a cuidar de forma a aprender-fazendo, num contexto de saúde e não de doença, favorecendo a busca pelo saber à sua maneira e no seu tempo. Desse modo, estabelecer uma relação no ato de contar histórias e pensar junto com as crianças caracteriza-se como uma importante conexão para intervir no mundo, criando habilidades diferenciadas na promoção da saúde. São momentos de encontro visando produção de cuidado, pois o contador e a criança interagem de modo que, juntos, possam chegar a importantes conclusões para ambos, construindo diferentes maneiras de cuidar e ser cuidado(a). A história, produz, ainda, a contribuição direta para a prática da enfermagem junto à criança, pois sua utilização pode levar a criança a informações que auxiliam no seu crescimento e desenvolvimento, tornando-se, assim, uma ferramenta de intervenção, educação em saúde e cuidado5. Conclusões: A proposta interdisciplinar desse trabalho agrega profissionais da enfermagem, psicologia, biologia e educação em atividades que se complementam e oferecem aprendizado para todos os envolvidos. Considerando a necessidade do trabalho em equipe durante a vida profissional, atividades desenvolvidas em parceria durante a formação podem contribuir positivamente para um fazer em enfermagem de maior qualidade. Conhecer as funções executivas da criança utilizando de histórias infantis faz com que os estudantes relacionem conhecimentos do crescimento e desenvolvimento infantil, de cuidados de enfermagem, de educação em saúde na infância e busquem estratégias que favoreçam a participação da criança no seu processo saúde-doença. Contribuições para a enfermagem: Aprender a cuidar da criança por meio da contação de histórias que abordem o processo saúde-doença é uma abordagem inovadora na área da saúde e da enfermagem. É capaz de oferecer subsídios à prática, ao ensino e à pesquisa. Na prática, é um instrumento de intervenção que oportuniza a percepção da linguagem verbal e não verbal da criança, educação, vínculo terapêutico, sendo esses elementos que se configuram como tecnologias leves em saúde e permitem a produção de cuidados de enfermagem de forma a valorizar as necessidades de cada criança e identificar vulnerabilidade. Na pesquisa em enfermagem, a contação de histórias é uma excelente estratégia de coleta de dados, pois permite uma comunicação eficiente e respeita o tempo da criança. No ensino-aprendizagem, é capaz de permitir a reflexão, o raciocínio crítico e agregar diferentes conhecimentos de diferentes áreas para a produção de cuidado, tais como: fisiologia, intervenções não farmacológicas, crescimento e desenvolvimento, promoção da saúde, entre outros. |