Roda de Conversa
388 | AÇÕES EDUCATIVAS DE SAÚDE DA MULHER NA ESF: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO TUTORIAL DO PET SAÚDE. | Autores: Valeria de Carvalho Araújo Siqueira (Universidade Federal de Mato Grosso) ; Bruce Daniel de Queiroz (Universidade Federal de Mato Grosso) ; Livia Alves da Silva (Secretaria Municipal de Saúde) ; Ludmilla Campos Fernandes Silva (Universidade Federal de Mato Grosso) ; Rafaella Villa Moraes (Universidade Federal de Mato Grosso) |
Resumo: O Programa de Educação pelo Trabalho para a saúde (PETSaúde) é um programa de articulação entre os Ministérios da Saúde e da Educação, destinado a fomentar grupos de aprendizagem tutorial(1). O PET Vigilância em Saúde é uma proposta a partir do PET-Saúde, que tem como objetivo promover a formação de grupos de aprendizagem tutorial para desenvolvimento de atividades em áreas estratégicas do Sistema Único de Saúde (SUS), incentivando a integração ensino-serviço-comunidade, por meio da inserção de docentes e estudantes de graduação na rede pública de saúde, de forma que as necessidades dos serviços sejam fonte de produção de conhecimento e pesquisa nas instituições de ensino(2), dentre os subprojetos do PET Vigilância em Saúde (VS), temos a Rede Cegonha, o qual trata-se esse estudo. A Rede Cegonha é uma estratégia implantada em 2011 pelo Governo Federal e integra a política de Estado para humanização do parto e nascimento(3). Consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério. Visa, também, assegurar à criança o direito ao nascimento seguro a ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. O objetivo do estudo foi relatar a experiência no planejamento e execução do projeto de intervenção proposto pelo grupo tutorial do PETSaúde-VS/Rede Cegonha. Descrição metodológica: Este relato é um produto concernente a esta atividade, que foi realizada na Equipe de Saúde da Família (ESF) João Bosco Pinheiro localizada na periferia do município de Cuiabá, MT com a duração de 24 meses entre junho de 2013 a maio de 2015. Atualmente a unidade atende uma população aproximada de 1040 famílias cadastradas (2013), com cerca de 3 a 4 mil pessoas e com 1.419 mulheres em idade fértil-15 a 49 anos. Esta ESF foi o espaço de vivências do grupo de discentes da graduação do curso de Enfermagem, Saúde Coletiva, Psicologia, Biologia sob a orientação da preceptora, enfermeira da equipe e da tutora, docente da UFMT, onde puderam dialogar com os usuários e os profissionais, possibilitando a observação de toda a rotina do processo de trabalho e das atividades desenvolvidas. Para a elaboração do projeto de intervenção, utilizou-se a Metodologia da Problematização, incorpora o esquema do Arco de Maguerez (4). Tal arco parte da realidade social e após análise, levantamento de hipóteses e possíveis soluções, retorna à realidade. As consequências deverão ser traduzidas em novas ações, desta vez com mais informações, capazes de provocar intencionalmente algum tipo de transformação nessa mesma realidade. Para o desenvolvimento dessa metodologia, é necessário seguir alguns passos: (1) observação da realidade (levantamento do problema); (2) pontos chaves; (3) teorização; (4) hipóteses de solução e a (5) aplicação à realidade (prática)(5). Após a utilização da metodologia adotada observou-se os problemas reais da ESF em relação às diretrizes da Rede Cegonha, foram: baixa adesão das mulheres ao exame de colpocitologia oncótica (CCO); diagnósticos por vezes tardio de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST's) na comunidade, incluindo gestantes, sendo este agravo ainda não notificado no sistema de informação (subnotificação); ausência de atividades educativas voltadas as adolescentes, mulheres e gestantes e, programa de planejamento familiar ineficiente. O projeto de intervenção foi nomeado como Vigilância à saúde sexual e reprodutiva da mulher e as atividades foram divididas em 3 etapas, sendo elas: 1ª etapa - realização de oficina de sensibilização da equipe de saúde, realizando 3 encontros, sendo um semanal com a equipe da ESF e o Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF), com o objetivo de integrá-los no projeto e promover a realização das ações de vigilância em saúde da mulher, conforme os problemas já identificados. Posteriormente, foi realizada uma atividade dividida em duas etapas aos profissionais da equipe, com o objetivo de discutir as temáticas apresentadas como problemas e inseri-los no processo, ressaltando a importância do papel deles enquanto profissional de saúde; 2ª etapa - criação de um grupo de mulheres na comunidade, com o objetivo de trabalhar com temáticas relacionadas a saúde sexual e reprodutiva, planejamento familiar, controle de IST's e sensibilizá-las sobre o empoderamento de seus direitos sexuais e reprodutivos. Nessas rodas de conversas do grupo de mulheres foram aplicadas dinâmicas relacionadas ao tema, instigando-as a participarem ativamente, compartilhando experiências pessoais, expondo suas dúvidas e as sensibilizando da importância da realização de exames preventivos e do planejamento familiar do que tange ao seu conceito da opção de escolha do momento de ter ou não ter seus filhos. Além disso, ao longo do desenvolvimento do projeto, realizou-se busca ativa de mulheres na comunidade para a realização do exame de CCO, o grupo de sala de espera de gestante, a melhoria dos dados de registrados nos relatórios, a busca pela notificação a cada caso do IST diagnosticado, a referência para outros serviços nos tratamentos de resultados com alterações celulares significativas, e ainda, a melhoria na qualidade da assistência prestada pela equipe no cuidado à mulher. observando-se consequentemente um aumento no número de coletas de CCO, bem como também um aumento de Neoplasia Intra-epitelial Cervical (NIC), sendo este diagnóstico um alerta para uma atenção maior para não evolução ao Câncer de Colo de Útero, evidenciando a importância de estar realizando a conscientização das mulheres da área de abrangência da USF para que elas procurem realizar o exame anualmente e deem sequência ao tratamento adequado ao diagnóstico apontado no resultado do exame. Essa vivência trouxe um enriquecimento único na formação do discente e um aprendizado para profissional da equipe de saúde, o que possibilitou melhorias significativas na atenção à saúde da mulher, além da aproximação da tríade ensino-serviço-comunidade, sendo o SUS espaço prioritário para que isso se efetive. As atividades propostas neste projeto incentivam e orientam para a continuidade das ações desenvolvidas no local. Descritores: Vigilância em Saúde. Saúde da mulher. Educação para a saúde. 1 Ministério da Saúde (BR). Programa nacional de reorientação da formação profissional em saúde (PET-Saúde). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde. Disponível em: http://www.prosaude.org/noticias/sem2011Pet/index.php. Acessado em: 03/05/15. 2 Ministério da Saúde (BR). Ministério da Educação (BR). Portaria Interministerial nº 1.802, de 26 de agosto de 2008. institui o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde- PET - Saúde. Brasília: 2008. 3 Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui a Rede Cegonha, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Brasília, 2011. 4 Berbel, NN. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface - Comunicação, Saúde, Educação 2(2):139-54, 1998. 5 Bordenave JD, Pereira AM. Estratégias de Ensino- Aprendizagem. 12ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1991. 9-11 p |