Roda de Conversa
374 | Violência Doméstica Contra a Mulher: Contribuição do Curso de Enfermagem na Educação Básica do Rio de Janeiro | Autores: Rodrigo Antônio Moreira Tenório (Universidade Federal Fluminense) ; Alice Akemi Yamasaki (Universidade Federal Fluminense) ; Rafaela Alves Barbosa (Universidade Federal Fluminense) ; Rayanne Leal Dias da Silva (Universidade Federal Fluminense) ; Stephanie Maciel de Gois Costa Homem (Universidade Federal Fluminense) |
Resumo: Introdução: A violência doméstica contra a mulher rompe os direitos humanos e constitui-se na ação ou omissão que cause dano moral, sofrimento físico, sexual e psicológico, no âmbito da unidade de convívio contínuo, com ou sem vínculo familiar da mulher (BRASIL,2006). Objetivos: O objetivo deste estudo é compartilhar as percepções e as reflexões sobre a interação do curso de Enfermagem da UFF com a Educação Básica com temas importantes da Saúde da Mulher/Coletiva, por meio de uma proposta curricular. A apresentação do tema, nas escolas da Educação Básica, teve como objetivo específico alertar e estimular a não aceitação da violência doméstica, problematizando, com a promoção de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica contra a mulher (BRASIL,2006). Descrição metodológica: Esse trabalho é fruto de relato de experiência de uma atividade prática vivenciada pelos autores em escolas públicas da Educação Básica do Rio de Janeiro, a partir da disciplina de Didática, do currículo de licenciatura da Escola de Enfermagem Aurora Afonso de Costa da Universidade Federal Fluminense, Niterói - RJ. As apresentações foram realizadas dia 23 e 30 de março e 6 de abril, em quatro escolas públicas, com uma turma de 9º ano, três turmas do ensino médio e sete turmas do Núcleo de Estudos de Jovens e Adultos (NEJA), abrangendo rede municipal e estadual de ensino. Todos os alunos vivem e estudam na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, em áreas que fazem parte do Complexo da Maré, uma grande comunidade da zona norte do Rio de Janeiro, onde a violência é presente e constante. Os materiais didáticos sobre violência contra a mulher foram slides e vídeo, com conteúdos disponibilizados, principalmente, pelo Ministério da Saúde e pela legislação vigente. Após a apresentação do vídeo, os alunos eram instigados a falar sobre o que acharam do mesmo e o que fariam se deparassem com a situação. Houve a transição de slide na sequência a essa primeira conversa, onde tópicos sobre o conceito de violência, tipos de violência, consequências físicas e psíquicas à vítima, Lei Maria da Penha e estatísticas mundiais e nacionais sobre a violência doméstica contra mulher eram debatidas. Com a diversidade das turmas e das escolas, houve alterações na abordagem metodológica do ensino, trocas de informação de forma diferenciada e abordagens diversas. Resultados: Os alunos do 9º ano relataram que vivenciam a violência doméstica, tendo a mãe, pai, padrasto como agressor principal. A prática da violência é adotada diante de situações de não respeito às regras da casa ou por estresse dos pais. Em alguns casos as agressões eram realizadas em mais de um membro da família por diferentes agressores, como uma forma de punição e "aprendizado". Inicialmente, após o vídeo, a maioria dos alunos do Ensino Médio mostrou-se desacreditada na intercepção da violência contra mulher, relatando insegurança para agirem diante do ato cometido. Os alunos que já haviam sido submetidos à violência doméstica, repudiavam esse tipo de agressão, mas relataram que é uma situação difícil de combatida, devido à submissão e medo da mulher perante o agressor. Os alunos do NEJA deram seus relatos pessoais e de familiares espontâneos, ao abordarmos o tema. Os motivos mais evidenciados da agressão estavam relacionados ao nível de estresse e imposição do agressor. A principal figura do agressor das alunas do Ensino Médio e do NEJA eram o companheiro, dentro de uma relação conjugal. Muitos relataram que as agressões sofridas foram verbais e físicas, como xingamentos, exposição dos seus defeitos e falhas cometida. Os sentimentos de quem sofria a violência indiretamente eram principalmente de ódio e impotência, por não conseguirem interferir contra a violência prestada. Aos que sofriam diretamente, os sentimentos variavam de medo à culpa, depressão e vingança, insegurança amorosa e financeira, falta de coragem, ódio e raiva. Em alguns casos foram relatados a esperança em um relacionamento saudável, por amar os companheiros e esperar a mudança do agressor. Esse era o maior motivo por manterem a relação, e por segundo motivo, a dependência financeira do agressor como único vínculo de apoio. Relatou-se que o ambiente era desconfortável e insuportável diante da situação, e apenas com apoio de outros que eles conseguiam suportar e solucionar a agressão de forma não prejudicial a eles e a família, sem recorrer a Lei Maria da Penha, já que não acreditavam na efetividade da Lei, por residirem em uma área em que a justiça e as políticas públicas não atuam. Como possível solução contra a violência contra a mulher, foi discutida a relação de confiança e reciprocidade que se deve ter no ambiente familiar, a discussão dos valores retrógrados que são ditados durante as gerações familiares. Considerações Finais: A violência doméstica contra a mulher é muito presente e ainda está impregnada de forma cultural na sociedade, como uma válvula de escape e "aprendizado" para mulher de forma inaceitável. É perceptível que os alunos, como moradores de uma comunidade de baixa renda, são levados a incorporar a violência como "algo normal", por valores culturais e familiares conservadores e por viverem essa realidade em seu cotidiano. Os papeis e as funções sociais, principalmente ligados ao gênero, estão solidamente construídos de modo tradicional nessa realidade e a formação de um pensamento que enfrente e critique a tradição nas relações é escasso. A violência rompe com a dignidade humana e toda mulher deve ser assegurada a condição básica para preservar sua saúde física e mental, para viver livremente, gozando dos direitos humanos e de segurança. O apoio é fundamental, e deve ser concedido pelos amigos, familiares ou pela Lei e justiça, apoiando à agredida, e não a agressão. A discussão sobre a violência doméstica contra a mulher levou-nos a refletir e a trocar experiências científicas e empíricas enquanto futuros Enfermeiros, e revelando que a violência contra a mulher é injustificável e não deve ser disseminada em nenhum tipo de cultura e sociedade. Contribuições/implicações para a Enfermagem: Quando se afirma que repassar conhecimento é a melhor fonte de obtê-lo, faz-se uma alusão ao reafirmar, na própria mente o conteúdo aprendido e, consequentemente, aprender novos pontos de vista de acordo com o universo no qual se está inseridos. A inserção da Educação em Saúde nas escolas através do enfermeiro proporciona a troca de experiências por indivíduos de diferentes valores, levando-nos a construção social e proporcionando a inserção do respeito, humanidade e integralidade do ser humano. Descritores: Saúde da Mulher; Violência doméstica; Agressão. Eixo 1: Processo de ensino-aprendizagem na formação em Enfermagem. Áreas Temáticas: Integração Ensino Serviço - Quando o Trabalho e a Escola se integram. Referências:LEI MARIA DA PENHA. Lei N.°11.340, de 7 de Agosto de 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.html Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço / Secretaria de Políticas de Saúde. - Brasília: Ministério da Saúde, 2001. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd05_19.pdf |