Roda de Conversa
43 | PROTOCOLO DE TROMBÓLISE: DESAFIOS À IMPLANTAÇÃO | Autores: Ana Paula Gaspari (Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. E-mail: anagasper@hotmail.com) ; Josemar Batista (Enfermeiro, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. E-mail: josemar.batista@hotmail.com) ; Francine Taporosky Alpendre (Enfermeira, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. E-mail: franalpendre@gmail.com) ; Elaine Drehmer de Almeida Cruz (Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora da Graduação e Programas de Pós-graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. E-mail: elainedrehmercruz@gmail.com) |
Resumo: Introdução: As doenças cerebrovasculares ocupam o segundo lugar no ranking mundial de vítimas com óbitos, sendo superadas apenas pelas enfermidades cardiovasculares, situação esta que deve perdurar até o ano de 2030.(1) O Acidente Vascular Encefálico (AVE) isquêmico representa 80% dos casos e o hemorrágico, embora corresponda a apenas 20% deste tipo de agravo à saúde, é o mais agressivo com taxa de mortalidade entre 30% e 50%. Ambos os agravos constituem emergência clínica.(2) Alteração no nível de consciência e motora, modificação da fala, e queixa de cefaleia intensa de forma súbita são os principais sintomas apresentados.(1) Sequelas motoras, cognitivas, emocionais e de comunicação são consequências que repercutem na vida do paciente e familiares.(2) Neste contexto, o reconhecimento e intervenção precoces contribuem para melhores resultados no tratamento e favorecem a evolução satisfatória.(3) Em 2012 o Ministério da Saúde estabeleceu, por meio da Portaria MS/GM n° 665, a Linha do Cuidado do AVE, redefinindo estratégias que contemplam suas necessidades específicas.(1) A terapia com trombolítico, indicada a pacientes acometidos por AVE isquêmico e que preencham os critérios estabelecidos, tem a finalidade de desobstruir a artéria e restabelecer o fluxo sanguíneo cerebral na área afetada, resultando em diminuição das sequelas,(4) refletindo em melhores prognósticos. A infusão do trombolítico (rt-Pa) deve ser feita em até 4,5 horas do início dos sintomas e por uma equipe capacitada. A terapia tem como principal complicação a hemorragia intracraniana, podendo ocorrer em até 24 horas da administração.(4) Objetivo: relatar a vivência da implantação do protocolo de trombólise em um Hospital da Região Sul do Brasil. Descrição metodológica: Trata-se de um relato de experiência realizado no Serviço de Neurologia o qual destinou 10 leitos exclusivos para o Atendimento Integral do Paciente com AVE, tornando-se Centro de Referência para a capital e região metropolitana. A assistência integral, norteada por protocolos, escalas e orientações é prestada por médico neurologista, residentes em neurologia, fisioterapeuta, nutricionista, terapeuta ocupacional, assistente social, enfermeiro e equipe de enfermagem. Resultados: O Protocolo de Trombólise inclui a admissão do paciente, punção e manutenção de dois acessos venosos, realização de eletrocardiograma, aferição de glicemia, monitorização multiparamédica, verificação do nível de consciência, registro e documentação da terapia e acompanhamento da infusão, essa realizada pelo médico neurologista. Nos últimos três anos foram admitidos 720 pacientes com AVE, destes, 222 foram submetidos à trombólise. Inicialmente, a falta de comunicação e a ausência de uma rotina específica para o atendimento do paciente submetido ao protocolo geraram insegurança e estresse nos profissionais envolvidos, tumulto no atendimento e déficit na qualidade assistencial. Considerando a janela terapêutica, com frequência os pacientes chegavam no limite do tempo para a infusão do trombolítico, exigindo rapidez e trabalho em equipe. Deixamos de ser uma enfermaria clínica de neurologia geral e passamos a agregar uma Unidade de Atendimento Integral ao paciente vítima de AVE. O grau de complexidade do paciente e ainda, a necessidade de agilidade na sua assistência, demandaram especial capacitação dos profissionais. O processo e a estrutura de trabalho precisaram ser revistos e adequados aos desafios postos. Dessa forma, a equipe passou por treinamento sobre a trombólise, eletrocardiografia e atendimento emergencial. A sala de trombólise foi suprida com material educativo sobre as etapas do protocolo, carrinho de emergência e ventilador mecânico. Na escala de trabalho foi estabelecido um profissional de enfermagem responsável pela verificação dos materiais e apoio ao enfermeiro e ao médico na aplicação do trombolítico. A comunicação - estratégia chave para a qualidade do atendimento - foi refinada, estabelecendo-se as etapas do processo, desde o primeiro contato do neurologista com a equipe de enfermagem sobre a vinda de um paciente candidato ao protocolo, e posterior confirmação da terapêutica; no primeiro contato a sala e materiais são checados e no segundo momento a equipe se prontifica a recepcionar e atender este paciente. Frente a isso, destaca-se a complexidade do atendimento ao paciente com AVE, o qual pode necessitar de tratamento intensivo devido suas múltiplas necessidades de cuidados e potencial comprometimento motor, cognitivo, sensorial e emocional, condições que exigem estrutura organizacional e técnico-científica para o provimento de assistência planejada e sistematizada.(5) Conclusões e Implicações para Enfermagem: Foi possível acompanhar o desenvolvimento da equipe e do processo assistencial durante os três anos da implantação do protocolo de trombólise. As medidas adotadas favoreceram o alinhamento do atendimento ao paciente submetido à trombólise e minimizaram possíveis eventos adversos decorrentes de assistência inadequada. A organização e planejamento da assistência, com atribuições específicas de cada profissional, consubstanciado à qualificação técnica resultaram em entrosamento da equipe multiprofissional. A rápida identificação do início dos sintomas pela anamnese e o diagnóstico assertivo são relevantes para o tratamento com o trombótico, diminuindo sequelas e sendo determinantes do prognóstico destes pacientes. A eficácia dos fatores operacionais e humanos, no atendimento ao paciente de AVE frente ao protocolo, suscita melhores indicadores assistenciais, contribuindo para o delineamento do processo de enfermagem. Descritores: Acidente Vascular Cerebral; Protocolos; Terapia Trombolítica. Eixo 2 - A formação em Enfermagem: da política à prática profissional Área temática: Integração Ensino Serviço - Quando o Trabalho e a Escola se integram Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Rotinas para Atenção ao AVC. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada, Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 2. Souza RCS, Arcuri EAM. Estratégias de comunicação da equipe de enfermagem na afasia decorrente de acidente vascular encefálico. Revista Escola Enfermagem USP [internet] 2014 [acesso em 10 jun 2016] 48(2):292-8. Disponível:http://dx.doi.org/10.1590/S0080-6234201400002000014. 3. Brasil. Ministério da Saúde: Portaria 665- GM/MS. Dispõe sobre os critérios de habilitação dos estabelecimentos hospitalares como centro de atendimento de urgência aos pacientes com acidente vascular cerebral (AVC), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)- Institui o respectivo incentivo financeiro e aprova a linha de cuidado em AVC. Brasília (DF), 2012. 4. Andrioli MS, Kihara EM, Minett TSC. Trials do tratamento agudo do AVCI. In: Acidente Vascular Cerebral Protocolos Gerenciados do Hospital Israelita Albert Einstein. 1. ed. São Paulo, 2010. 5. Cavalcante TF, Moreira RP, Guedes NG, Araujo TL, Lopes MVO, Damasceno MMC, Lima FET. Intervenções de enfermagem aos pacientes com acidente vascular encefálico: uma revisão de literatura. Revista Escola Enfermagem USP, [internet] 2011 [acesso em 01 jun 2016] 45(6):1495-1500. Disponível: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n6/v45n6a31.pdf. |