Roda de Conversa
585 | RECONHECENDO TERRITÓRIOS DA ATENÇÃO BÁSICA COMO CAMPO DE ATUAÇÃO MULTIPROFISSIONAL NA ÁREA DA SAÚDE | Autores: Maira Tellechêa da Silva (Universidade Comunitária da região de Chapecó - Unochapecó) ; Maria Elisabeth Kleba (Universidade Comunitária da região de Chapecó - Unochapecó) ; Adriana Cristina Hillesheim (Universidade Comunitária da região de Chapecó - Unochapecó) ; Aline Rohden (Universidade Comunitária da região de Chapecó - Unochapecó) ; Bianca Joana Mattia (Universidade Comunitária da região de Chapecó - Unochapecó) |
Resumo: Introdução: A Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) em parceria com Secretarias de Saúde da região de Chapecó desenvolve o Projeto Vivências Interdisciplinares e Multiprofissionais (VIM) que integra o Programa de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde). O Curso de Enfermagem da Unochapecó tem participado ativamente do VIM, que tem como objetivo fomentar atividades de aprendizagem, promovendo o exercício da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade, para (re)conhecimento e discussão do sistema de saúde e a inserção no território, sensibilizando estudantes, docentes e profissionais dos serviços de saúde sobre a importância do trabalho multiprofissional voltado às necessidades de saúde da população. Os estudantes de enfermagem têm, por meio dessa vivência, o desafio de compreender a realidade como algo que é produto da construção social e histórica e dinâmica, passível de transformação, dependendo de opções e iniciativas desenvolvidas pelos sujeitos nela inseridos. O Curso tem buscado implementar estratégias pedagógicas que promovam maior capacidade de compreensão do papel do enfermeiro, enquanto profissional de saúde, como protagonista nos processos de tomada de decisão inerente ao processo de cuidado, atendendo as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem (DCN/ENF) que referem como competência específica do enfermeiro "ser capaz de diagnosticar e solucionar problemas de saúde, de comunicar-se, de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho, de trabalhar em equipe e de enfrentar situações em constante mudança"1. Objetivo: Apresentar a experiência do VIM desenvolvida no primeiro semestre de 2016, enfatizando a inserção dos estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem. Procedimentos metodológicos: A construção da proposta começou em oficinas de formação docente no ano de 2015 e transcorreu durante a vivência em 2016. Após as oficinas os articuladores do VIM realizaram visitas aos municípios da região convidando para serem espaços de vivência, pactuando ações de interesse de ambos. Houve a participação de 330 estudantes de cursos da área da saúde. Do Curso de Enfermagem participaram 25 estudantes vinculados ao Núcleo "Cuidado e educação em saúde", que integra a terceira fase do Curso. Ocorreram quatro encontros, uma vivência de oito horas nos territórios e uma intervenção a partir da vivência. Posterior às vivências os estudantes fizeram a avaliação do VIM. A partir das avaliações dos estudantes de enfermagem construímos os resultados deste. Resultados: Como recorte para o debate, trazemos um dos objetivos do VIM, "Reconhecer-se como um futuro profissional da saúde participante de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, dando ênfase ao princípio da utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática". No primeiro momento os estudantes de enfermagem, divididos em pequenos grupos estudaram o conceito de território. Ao final da aula foi acordado um estudo dirigido sobre as Leis 8080/90 e 8142/90 para reconhecimento e aprofundamento dos objetivos e princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), destacando a Epidemiologia. Posteriormente, os estudantes dos diferentes cursos foram organizados em grupos de 12, facilitados por dois tutores docentes e/ou estudantes do Stricto Sensu, promoveram discussões a partir do primeiro momento e definiram metas e estratégias para a vivência no território, elaborando um roteiro de perguntas e observação. As vivências acontecerem em espaços de saúde de três municípios. No território, os estudantes observaram o funcionamento da unidade, equipe de saúde e realizaram a territorialização. Como potencialidades, em relação a vivência, os estudantes do Curso de Enfermagem referem que o acolhimento por parte dos profissionais dos serviços foi fundamental para a realização da experiência. Os profissionais tiraram dúvidas, conversaram sobre o trabalho diário, a assistência à população e repassaram informações sobre os indicadores de saúde do território. Os estudantes percebem que o acolhimento e o vínculo são fundamentais para reconhecimento do território. O vínculo tem grande significado para a aprendizagem, sendo definida como uma estrutura complexa, composta pelo sujeito, o objeto e a sua interação com os processos de comunicação e aprendizagem2. A partir da vivência no espaço, elaboraram-se estratégias de intervenção atendendo às necessidades do cenário e levou-se em conta o proposto pelas Secretarias Municipais de Saúde, que solicitaram intervenções em um ponto central, como forma de atender a toda a comunidade. O fato da intervenção não ocorrer no mesmo território vivenciado, acabou fragilizando a construção e dificultando o desempenho da intervenção. Os estudantes percebem a importância do reconhecimento do território e da epidemiologia para o desenvolvimento das ações nos serviços de saúde, corroborando com o princípio da epidemiologia disposto na Lei 8080/90, salientando que a epidemiologia deve ser utilizada para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática3. Os estudantes enfatizaram como potencialidade para a vivência, as tutorias realizadas, e o papel do tutor como facilitador na construção do roteiro de perguntas e observação que auxiliaram no reconhecimento do território. Tratam tutores como fundamentais no debate e estabelecimento das ações com base na epidemiologia. A formação de profissionais de saúde deve pensar uma metodologia libertadora, em que os estudantes devem aprender a conhecer, a fazer e a ser, como forma de garantir a integralidade da atenção em saúde, possibilitando que tornem-se sujeitos sociais capazes de intervir em contextos de incertezas e complexidades4. Os estudantes destacaram a importância do acompanhamento dos profissionais e das visitas nos territórios para o reconhecimento da realidade e estabelecimento de prioridades. Reconhecem a importância do suporte teórico que permeia a vivência prática e possibilita o olhar dos profissionais da saúde no desenvolvimento das ações. Destacam a importância do trabalho em equipe, da comunicação e dos diferentes olhares e contribuição de todos para a realização das atividades. Freire chama a esse processo de dialogicidade. Por meio do diálogo os homens ganham significação, refletem sobre seu agir, possibilitando a transformação do mundo. Somente o diálogo permite o pensamento crítico, sem ele não existe comunicação e sem esta não existe educação5. Os estudantes citam que o VIM possibilitou a desconstrução de alguns preconceitos em relação aos serviços de saúde e facilitou a aproximação com a realidade. Auxiliou no processo de ensino-aprendizagem por agregar conhecimentos em relação ao SUS. Possibilitou a integração entre os cursos, entre os estudantes e o exercício do trabalho em equipe multiprofissional. Como aspectos que dificultaram o desenvolvimento das vivências citam a falta de comunicação. Sugerem melhorias na organização das vivências, como o planejamento das atividades e o desenvolvimento da intervenção no local da vivência, possibilitando inferir que eles compreendem a necessidade do reconhecimento do território para o desenvolvimento das ações prioritárias. Conclusão: O Curso de Enfermagem no VIM fomenta reorientação da formação, reunindo sujeitos em espaços dialógicos, acolhendo e produzindo movimentos de troca, de interação, de estudos e de compromissos quanto ao ensino, cuidado e gestão coerentes com os princípios do SUS. A proposta almeja sensibilização para mudanças de atitudes, a compreensão do conceito ampliado de saúde, promovendo no estudante a participação em novas metodologias e formas de ensino e utilização da interação ensino-serviço dando prioridade aos espaços do SUS para a formação. O processo o VIM foi um estímulo a propostas de incluir nas práticas pedagógicas instrumentos diversos como o reconhecer e estimular a autonomia dos sujeitos e as relações dialógicas. Na avaliação foi possível perceber que pensar e exercitar metodologias ativas, grupos tutoriais e praticas pedagógicas é uma alternativa para a formação na enfermagem. |