Comunicação coordenada
548 | PERCEPÇÃO DE DOCENTES SOBRE O ENSINO DOS CUIDADOS CLÍNICOS NA GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM | Autores: Maria Socorro de Araújo Dias (Universidade Estadual Vale do Acaraú) ; Jamille Forte Viana (Faculdade Terra Nordeste) ; Lucilane Maria Sales da Silva (Universidade Estadual do Ceará) ; Raimundo Augusto Martins Torres (Universidade Estadual do Ceará) ; Maria Rocineide Ferreira Silva (Universidade Estadual do Ceará) |
Resumo: INTRODUÇÃO: No Brasil, a formação em Enfermagem passou por diversas transformações ao longo dos anos, tendo como reflexo o modelo de atenção à saúde vigente em cada época. Essas características influenciaram diretamente no seu ensino, principalmente a partir de 1940 quando assume o caráter universitário.1 Sob a ótica curricular, ressalta-se que essas transformações conduziram a quebra acentuada do modelo hegemônico na saúde. Desta forma, destaca-se que a formação em Enfermagem pretende ofertar um perfil profissional de aspectos generalista e humanístico, onde se inseri a necessidade de discutir os cuidados clínicos em Enfermagem.2 Destaca-se que o ensino nesta área tem passado por várias (re)construções, incorporando as tendências teórico-práticas da saúde, para tanto, questiona-se: qual a percepção de docentes universitários sobre o ensino dos "cuidados clínicos" nos cursos de Enfermagem? Nesta premissa, pretende-se discutir neste estudo a importância da percepção docente para a consecução da disciplina de cuidados clínicos na formação dos enfermeiros. OBJETIVO: Analisar a percepção de docentes sobre o ensino dos cuidados clínicos em Bacharelados de Enfermagem do Ceará. METODOLOGIA: Estudo exploratório descritivo, orientado pela abordagem qualitativa. Ocorreu entre os meses de janeiro a dezembro de 2014 e teve como cenário o Município de Fortaleza, capital do Ceará, considerado polo econômico e educacional do Estado. Somente neste município são encontrados 17 cursos de Enfermagem, dos quais foram selecionados aqueles fundados até o fim da década de 1970, o que resultou em três cursos. Para a seleção dos participantes foram adotados os seguintes critérios: ser enfermeiro; professor efetivo; e lecionar disciplinas com abordagem clínica. Desta forma, participaram 30 docentes, que manifestaram interesse pela pesquisa a partir da aceitação dos ditames éticos. A coleta de informações aconteceu com a utilização de um instrumento formulado pelos autores, os quais contemplaram perfil docente e percepções sobre o ensino de cuidados clínicos em Enfermagem. Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo de Bardin.3 Esse estudo exigiu a anuência das Coordenações dos Cursos selecionados, e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Ceará com parecer nº 574.280/2014. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise das entrevistas permitiu identificar aspectos relevantes sobre o ensino dos cuidados clínicos, revelando a insuficiência do ensino e da formação dos docentes sobre o assunto. Para tanto, os resultados foram divididos e discutidos em duas categorias: perfil dos docentes e percepção dos docentes sobre o ensino dos Cuidados Clínicos em Enfermagem. Perfil dos docentes: Esta categoria foi estabelecida frente a atuação e aspectos intrínsecos a experiência profissional do docentes, as quais influenciam significativamente nas características de magistério no ensino superior. Desta forma, foi identificado que estes têm em sua maioria (n=14) um tempo de experiência profissional entre 20 e 30 anos nos cursos analisados, são na maior parte do sexo feminino (n=28), mestres (n=6) e doutores (n=24). O fato de que todos os docentes tenham graduação em Enfermagem permitiu identificar que o ensino dos cuidados clínicos, que incorporam os aspectos da clínica ampliada em contrapartida a atuação da clínica médica, foi pouco trabalhado no percurso de formação acadêmica destes, revelando um cenário insuficiente para o ensino dos cuidados clínicos nos cursos selecionados. Foram investigadas as estratégias pedagógicas, isto revelou que os docentes utilizam como metodologias de característica "bancária", influenciados por uma prática tradicionalista no magistério de exposição dialogada quando se discuti clínica na área da saúde. Poucos docentes destacaram a formação guiada pela interpretação dos problemas cotidianos e ressignificação da prática em Enfermagem. Percepção dos docentes sobre o ensino dos Cuidados Clínicos em Enfermagem: Alinhado ao perfil dos docentes, o ensino "bancário" influenciou diretamente na interpretação do dos Cuidados Clínicos em Enfermagem. Essa perspectiva de ensino direcionou consideravelmente a inobservância sobre a amplitude discursiva da clínica no campo da Enfermagem, destinando-se a condução de práticas alinhadas a clínica médica. Nos discursos evidencia-se a dificuldade dos docentes em contextualizar o assunto, assim demonstra-se a dificuldade de aplicar dos conteúdos relacionados em sala de aula. Não somente aos cuidados clínicos, evidenciou-se que a dificuldade interpretativa e discursiva vai além, quando se identificou que a própria interpretação do cuidado estava voltada para doença e para prática de caridade exercida pela Enfermagem. Os docentes percebem a clínica como a ação atrelada a procedimentos técnicos que incorporam a atuação do exercício da Enfermagem em conformidade com a clínica médica. Esta ótica, portanto, dificulta a interpretação da prática da Enfermagem e consequentemente a execução da Sistematização da Assistência, pois o profissional não se coloca como protagonista do cuidado e executor de uma ciência. Os cuidados clínicos em Enfermagem ainda foram interpretados como uma atividade de ação essencialmente hospitalar, o que destaca a interpretação e a influência dos modelos de ensino guiados para a formação do enfermeiro no cuidado hospitalar, o que destoa das tendências atuais de formação para o SUS. Portando, pode-se inferir que a formação do enfermeiro para a atuação nos cuidados clínicos ainda é pouco dimensionada nos espaços de formação, sendo caracteristicamente reduzida aos conceitos da clínica médica, sendo pouco destacados os preceitos de clínica ampliada. CONCLUSÕES: Este estudo revelou que o a formação em Enfermagem necessita ser constantemente (re)pensada e (re)construída, frente as constantes necessidades de atualização do ensino na saúde. De fato, a análise dos três cursos permitiu identificar que o ensino em cuidados clínicos ainda se configura como insuficiente a partir da percepção dos docentes. Esta característica é fortemente influenciada pelo perfil e percepção dos docentes que atuam no magistério superior. Para tanto, verifica-se a necessidade da reconstrução teórica alinhada aos princípios da clínica ampliada e a desconstrução das práticas de Enfermagem totalmente dependentes da clínica médica. Ainda, a condução deste estudo permitiu demonstrar o cenário deste campo de ensino da Enfermagem na realidade de um polo econômico e educacional do Ceará, o que direciona para a necessidade de outros estudos que incorporam o mesmo problema e permitam diferentes discussões da realidade nos demais Estados. CONTRIBUIÇÕES/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: A análise da percepção de docentes sobre o ensino dos cuidados clínicos permitiu identificar achados importantes para a educação em Enfermagem, haja vista que a complementariedade deste assunto envolve aspectos intrínsecos do fazer profissional do enfermeiro, e guiam para uma prática crítica-reflexiva. Os resultados ainda demonstram que os cursos analisados possuem um histórico na formação em enfermagem, o que representa significativamente as nuances da formação em enfermagem no Ceará. REFERÊNCIAS: 1. Vieira NA, Silveira LC, Miranda KCL, Franco TB. Formação em enfermagem enquanto dispositivo indutor de mudanças na produção do cuidado em saúde. Revista eletrônica de Enfermagem. 2011[cited 2016 jul 11];13(4):758-63. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/v13/n4/v13n4a22.htm. 2. Silveira LC, Vieira AN, Monteiro ARM, Miranda KCL, Silva LF. Cuidado clínico em enfermagem: desenvolvimento de um conceito na perspectiva de reconstrução da pratica profissional. Escola Anna Nery. 2013;17(3):548-54. 3.Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. Descritores: Cuidados de Enfermagem; Docentes de Enfermagem; Ensino Superior. Eixo temático: Inovações curriculares na formação profissiona |