Comunicação coordenada
525 | SISTEMATIZANDO UMA LINHA DE CUIDADO ORIENTADA PARA AVALIAÇÃO DE RISCO FAMILIAR | Autores: Eliane Aparecida Sanches Tonolli (Universidade Estadual de Maringá) ; Lilian Denise Mai (Universidade Estadual de Maringá) ; Grace Jaqueline Aquiles (Universidade Estadual de Maringá) ; Regina Lucia Dalla Torre Silva (Universidade Estadual de Maringá) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A reordenação da formação de profissionais de saúde para o SUS conformou-se, nos últimos anos, como dimensão de política pública a fim de possibilitar que o processo formativo nos cursos da saúde, fundamente-se na construção do conhecimento a partir da realidade e no comprometimento com a sua transformação, bem como na participação ativa do estudante no processo ensino-aprendizagem(1) . Busca-se, com a mudança no foco da formação e com a inserção do processo formativo no interior dos serviços de saúde, a realização de duas grandes mudanças para o SUS: alterar os processos de trabalho e o paradigma flexneriano da formação em saúde. Esta é uma temática de interesse amplo, discutida nas mais diferentes instâncias do ensino e do trabalho em saúde que reafirma a necessidade urgente de se alcançar a melhoria da conexão entre o ensino e a prática profissional(2). Cotidianamente, a mudança na formação impõe aos cursos de graduação em saúde, desafios na direção de se buscar alternativas que aproximem docentes e discentes com os serviços de saúde. Nessa reflexão, pensar a temática da família e sua inserção no cuidado à saúde apresenta-se como ferramenta de avanço na sistematização desse cuidado considerando que essas famílias possuem fragilidades e susceptibilidades que as levam a diferentes necessidades de saúde e suas vulnerabilidades geram riscos que as caracterizam ao mesmo tempo, como singulares e universais. Um componente curricular de um curso de graduação que consiga visualizar a família e seus riscos surge como uma possibilidade de pensar essa família como parte do processo de reorientação do modelo de cuidado, buscando construir ações de saúde a partir de seu contexto e necessidades. OBJETIVO: Relatar uma experiência formativa com enfoque na integração ensino-serviço na saúde da família. METODOLOGIA: Trata-se de um relato de experiência, centrado no processo de formação de um curso de graduação em Enfermagem de uma universidade pública do noroeste do Paraná. O período correspondente foi de 2008 a 2011, cuja fonte principal foi a vivência em uma disciplina curricular com caráter integrador, envolvendo docentes da área básica e clínica e os alunos da primeira, segunda e terceira séries do curso, respectivamente nas disciplinas de Seminários de Integração I, II e III. Vinculadas a uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) de uma determinada Unidade Básica de Saúde (UBS) do município, as turmas eram orientadas a centrar-se no âmbito familiar e comunitário, reconhecendo território e riscos em saúde, e a partir de um diagnóstico em saúde sustentado pelo método da estimativa rápida, essas turmas elegiam um problema central a ser abordado e planejado intervenções nos três anos subsequentes. Concomitantemente, eventos de formação foram sendo realizados para subsidiar a experiência curricular, envolvendo comunidade acadêmica e trabalhadores do serviço, além de dados coletados e sistematizados pela equipe de um projeto de pesquisa institucional de avaliação do novo projeto pedagógico do curso (processo nº 14171/08). RESULTADOS: Na perspectiva de uma sistematização da linha de cuidado nos componentes curriculares nas três series, as atividades foram desenvolvidas por meio dos programas e etapas do diagnóstico de risco familiar. Explicitar as especificidades do risco em saúde das famílias com a valorização de coleta de dados da ficha A, do mapa inteligente, da parceria com os profissionais de saúde na Atenção Básica relativo às ESF. Dessa forma, o processo de construção da linha de cuidado em torno da concepção de território-solo e território-processo mostrou-se positivo porque possibilitou a identificação dos riscos sob a lógica da vigilância em saúde. Além disso, comprometeu o ensino com os campos de prática no decorrer do desenvolvimento das ações, consubstanciando um novo papel para a formação de profissionais de enfermagem. Como o diagnóstico se processa em etapas sequenciais metodológicas com vias ao desenvolvimento aplicado do cuidado, parece aos sujeitos da experiência que o projeto terapêutico inicialmente incipiente se transforma em um saber com possibilidade prática de intervenção ao final do diagnóstico. O desenvolvimento de protocolos terapêuticos baseados no grau de risco das famílias atinge uma elevada resolutividade dos problemas de saúde, como é o caso de complicações ligadas às doenças crônicas ou à gestação de risco intermediário ou alto risco das gestantes. O que se passou nos três anos de ininterruptos trabalhos junto às comunidades adstritas pela ESF, na esfera do diagnóstico de risco familiar por meio dos componentes curriculares, nos coloca a certeza de que a abordagem tradicional da atenção básica já não tem aplicação plausível para a resolução dos seus problemas de saúde. CONCLUSÃO: Essa iniciativa aproximou a formação do enfermeiro às necessidades da atenção básica, pela vinculação à ESF. Houve a busca pelo rompimento com o distanciamento entre os mundos acadêmicos e o da prestação real dos serviços de saúde, desafio que vem sendo apontado em todo mundo inclusive como um dos responsáveis pela crise do setor da saúde. Sabemos que fizemos um acúmulo da experiência, que nos dá a certeza da importância do contexto em que os alunos, equipes de ESF e professores estão inseridos na construção de significados para o processo de aprendizagem. O campo de prática na atenção básica traz para o cotidiano, situações provocadoras do processo integrativo do ensino e do serviço neste processo e possibilita afirmar que, para implantar uma cultura de aprendizagem que imprima o desenvolvimento de competências, é necessária compreensão clara das novas diretrizes do processo de trabalho educativo voltado para aprendizagem. Percebe-se que houve uma transposição pedagógica em todos os eventos, debates, ações curriculares obrigatórias e não obrigatórias organizadas e implementadas desde 2008. Houve avanços, apesar da certeza de que sempre existem lacunas e problemas de natureza pedagógica que necessitam de enfrentamento contínuo no exercício da formação universitária. CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: De modo geral, compreende-se que as principais contribuições científicas ou tecnológicas previstas pela experiência formativa foram, senão em sua plenitude, em grande parte, de modo a fomentar as mudanças pretendidas e necessárias: melhoria na qualidade da assistência prestada pelos futuros profissionais de saúde formados pela universidade, especialmente, os enfermeiros, com ênfase na implementação da política do SUS; incremento na articulação ensino-serviço-comunidade; maior efetividade na resolução de problemas do processo saúde/doença das comunidades envolvidas a partir de uma linha de cuidado orientada para a avaliação do risco familiar e, incremento da produção do conhecimento sobre a temática. Descritores: Risco familiar; integração ensino-serviço; saúde da família Eixo temático: Ensino de Enfermagem. Referencias: 1. CECCIM, Ricardo B.; FEUERWERKER, Laura. Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, p. 1.400-1.410, 2002. 2. International Council of Nurses (ICN). Reducing the Gap and Improving the Interface between Education and Service: A Framework for analysis and solution generation. Geneva [on line]. 2009 [acesso em 08 jun 2012]. Disponível em: http://www.icn.ch/images/stories/documents/publications/freepublications/reducingthera.pdf * Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Enfermagem (disciplina Enfermagem em Centro Cirúrgico), Universidade Estadual de Maringá. ** Enfermeira. Doutora em Educação. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem (disciplina Fundamentos de Enfermagem no Cuidado Humano), Universidade Estadual de Maringá. ***Enfermeira. Doutora em Educação. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem (disciplina Saúde da Comunidade), Universidade Estadual de Maringá. **** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem (disciplina Saúde da Comunidade), Universidade Estadual de Maringá. |