Comunicação coordenada
151 | O CONCEITO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA DOCENTES DE UM CURRÍCULO INTEGRADO | Autores: Andréia Bendine Gastaldi (Universidade Estadual de Londrina) ; Mara Lúcia Garanhani (Universidade Estadual de Londrina) |
Resumo: Introdução: Apesar do grande desenvolvimento e de uma reorientação crescente no campo das reflexões teóricas e metodológicas da educação em saúde, há ainda grandes avanços a serem alcançados, principalmente na realidade dos serviços de saúde. Um dos maiores desafios, talvez consista na formação de recursos humanos orientada pela educação popular e respeito aos saberes da comunidade, em busca de uma verdadeira cidadania compartilhada.1,2 O curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina desenvolve desde 2000, o Currículo Integrado, utilizando metodologias ativas de ensino e aprendizagem. O projeto pedagógico propõe 12 temas transversais, compreendidos como dinamizadores das atividades acadêmicas, articulados de forma crescente aos conteúdos específicos e desempenhos essenciais dos diferentes módulos.3 A educação em saúde constitui um destes temas transversais. Objetivo: Este estudo teve por objetivo analisar os conceitos de educação em saúde dos docentes desse curso de enfermagem. Percurso Metodológico: Pesquisa qualitativa, exploratória, utilizando entrevistas com 11 docentes das quatro séries do curso de enfermagem em estudo. A coleta de dados se deu no período de janeiro e fevereiro de 2016. A amostra foi intencional buscando a representação de docentes por série, com implicação com educação em saúde identificadas em análise documental do projeto pedagógico do curso, observação e grupos focais realizados com estudantes anteriormente. Todos os sujeitos aceitaram participar da pesquisa, assinando o termo de consentimento livre e esclarecido. As entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra e submetidas à análise temática. A pesquisa seguiu todos os trâmites éticos. Resultados e discussão: Os resultados foram agrupados em três perspectivas: características do processo educativo; sujeitos envolvidos e finalidades da educação em saúde. Para os docentes a educação em saúde é um processo educativo de construção de conhecimento, para além da transmissão de informações, que envolve a co-responsabilização dos profissionais e dos clientes. O cliente é visto como potencial protagonista do seu próprio cuidado, em um processo de troca de saberes, diálogo, negociação, compartilhando experiências e estabelecendo pactos, sempre considerando a realidade dos mesmos. Estes resultados se aproximam da definição de educação em saúde que se entende como um recurso por meio do qual os saberes científicos produzidos nessa área atingem a vida cotidiana da população, possibilitando a melhoria da saúde e da qualidade de vida. Trata-se da prática em saúde que mais se aproxima do pensar e agir das pessoas, permitindo a construção de saberes por meio da interface entre usuários e profissionais, contextualizada pela cultura e afetividade. Deve estar, também, fundamentada nos aspectos emancipatório e político da constituição humana, não somente voltada para determinantes biológicos da saúde, mas incorporadora da formação para a cidadania.4 No entanto, os resultados também mostraram que alguns docentes ainda reforçaram a ideia de um processo de educação para levar conhecimentos fundamentados cientificamente, evidenciando uma contradição com o processo descrito anteriormente. Esse modelo tradicional hegemônico centraliza o poder nos profissionais de saúde, que são detentores de todo o saber necessário para se ter uma vida saudável, e não busca a autonomia, mas, ao contrário, enfraquece a população ao estabelecer a educação de forma vertical.1 A formação do enfermeiro, bem como dos demais profissionais da área da saúde para a prática da educação em saúde ainda é carente, não só de um conceito ampliado e aprofundado, mas também de ações estratégicas inovadoras que permitam desconstruir as imagens associadas a palestras, cursos, entre outras, que impõem verticalmente a relação entre os profissionais de saúde e o usuário. O conhecimento que compõe o aporte teórico desses profissionais, durante sua formação, não produz ainda a incorporação de teorias de educação em saúde como estratégias para a promoção da saúde na prática profissional. O assunto, na maioria das vezes, é abordado mais na forma de técnicas de grupo ou oficinas, do que na forma de pressupostos teóricos que deveriam norteá-lo.5 Nesse sentido, é indispensável a discussão sobre o conceito de educação em saúde do docente, responsável por mediar a construção do conhecimento dos futuros profissionais. Citaram a oferta de informações necessárias, orientações aplicadas a prática e mencionaram o treinamento em serviço como uma forma direta e indireta de educação em saúde. Concluíram que é um processo complexo e que ainda se encontra em desenvolvimento na área da enfermagem. A educação em saúde permeia todas as áreas de atuação da enfermagem envolvendo o cliente, sua família e comunidade. Tem como finalidades a compreensão das necessidades de saúde do cliente, a co-responsabilização, a autonomia e o empoderamento do ser cuidado, visando a promoção, prevenção, recuperação e manutenção da saúde. Reforçaram a importância de se despertar no outro a necessidade de mudanças de estilo de vida, de autocuidado, adesão ao tratamento e compromisso. Enfatizaram também o objetivo de buscar o equilíbrio entre o conhecimento do profissional e do cliente. Desta forma, é indispensável a apropriação de referenciais teóricos e reflexão sobre o tema educação em saúde na formação do enfermeiro, considerando que atividades como orientações de pacientes e familiares, e mesmo da própria equipe de saúde, observáveis tanto na atenção básica, quanto na assistência hospitalar e ambulatorial, são inerentes a atuação do enfermeiro e fazem parte do seu cotidiano, pois, apesar de as ações de educação em saúde, desenvolvidas nos serviços de saúde da família, serem da responsabilidade de todos, é o enfermeiro o profissional que mais se identifica e se compromete com a função, pois seu fazer está muito mais próximo dela do que dos outros profissionais.5 Além disso, a forma como tais referenciais são trabalhados na formação tem relação direta com o desempenho profissional e poderão contribuir de forma decisiva no alcance dos objetivos junto aos usuários. Conclusão, contribuições / implicações para a Enfermagem: Os resultados retrataram que os docentes têm uma concepção de educação em saúde que valoriza o cliente como protagonista do processo educativo, reforçando a troca de saberes, o compromisso e a responsabilidade compartilhadas, mas ainda permanecem concepções mais diretivas, reforçando o poder do conhecimento científico e a verticalidade na relação e, por vezes, apresentam algumas confusões conceituais. Desta forma, faz-se necessário propiciar momentos de reflexão e debate, buscando a construção de um referencial em educação em saúde sólido na formação do enfermeiro. Referências 1. Silva MCSC, Meneghim MC, Pereira AC, Mialhe, FL. Educação em saúde: uma reflexão histórica de suas práticas. Ciência & Saúde Coletiva, 2010; 5(15):2539-2050. 2. Moutinho CB, Almeida ER, Leite MTS, Vieira, MA. Dificuldades, desafios e superações sobre educação em saúde na visão de enfermeiros de saúde da família. Trab. Educ. Saúde, 2014; 12(2):253-272. 3. Garanhani ML, Vannuchi MTO, Pinto AC, Simões TR, Guariente MHDM. Integrated Nursing Curriculum in Brazil: A 13-Year Experience. Creative Education. 2013 dec; 4(12b):66-74. doi: 10.4236/ce.2013.412A2010 4. Alves VS. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. 2005; 9(16): 39-52 5. Rosa RB, Maffacciolli R, Nauderer TM, Pedro ENR. A educação em saúde no currículo de um curso de enfermagem: o aprender para educar. Rev Gaúcha Enferm. 2006; 27(2): 185-92. Descritores: educação em saúde, currículo, educação em enfermagem; |