Comunicação coordenada
150 | POLARIDADES VIVENCIADAS POR ESTUDANTES DE ENFERMAGEM NO ENSINO DA COMUNICAÇÃO | Autores: Andréia Bendine Gastaldi (Universidade Estadual de Londrina) ; Camila Dalcól (Universidade Estadual de Londrina) ; Mara Lúcia Garanhani (Universidade Estadual de Londrina) ; Brígida Gimenez Carvalho (Universidade Estadual de Londrina) ; Lígia Fahl Fonseca (Universidade Estadual de Londrina) |
Resumo: Introdução: A enfermagem é uma ciência humana que tem como fundamento prestar cuidados aos indivíduos, sendo necessárias neste processo, a interação humana e a comunicação.1 Uma vez que o ser humano é complexo, o cuidar em enfermagem torna-se igualmente complexo, devendo o enfermeiro alcançar competências para desempenhar seu papel da melhor maneira possível. A formação do enfermeiro tem passado por transformações e mudanças no decorrer dos últimos anos, principalmente pautadas nos direcionamentos das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino de graduação em Enfermagem, que elege a comunicação como uma das cinco competências gerais a serem alcançadas.2 Sendo assim, o desenvolvimento da competência comunicação no processo de formação do enfermeiro deve incluir a reflexão sobre as polaridades presentes no ato de comunicar-se.3 Considerando a importância dos processos comunicacionais na formação do enfermeiro, torna-se relevante compreender o processo de ensino-aprendizagem da comunicação em um Currículo Integrado de enfermagem, que aborda este tema de maneira transversal, durante as quatro séries do curso. Os temas transversais neste currículo integrado são denominados como seivas, compreendidos como aquilo que transpassa as disciplinas. No processo de ensino-aprendizagem, as seivas dinamizam as atividades, uma vez que são abordadas, no decorrer dos módulos, em momentos pertinentes aos conteúdos específicos, de maneira gradativa e crescente, estando vinculadas aos desempenhos a serem alcançados pelos estudantes.4 Objetivo: O objetivo do estudo foi compreender as polaridades vivenciadas pelos estudantes de enfermagem, no desenvolvimento da competência de comunicação. Descrição metodológica: Estudo qualitativo, compreensivo, do tipo estudo de caso. Justifica-se o tipo de pesquisa estudo de caso ao optarmos por um curso de enfermagem que desenvolve um Currículo Integrado há 15 anos, possuindo alguns diferenciais de outras instituições, entre eles o fato de adotar temas transversais em seu processo de ensino-aprendizagem, sendo a comunicação um desses temas. Assim, o local de estudo foi em um curso de enfermagem de uma universidade pública do sul do Brasil que utiliza o Currículo Integrado em um sistema anual, ofertando 60 vagas por meio de vestibular, com duração de quatro anos em período integral, totalizando 4.152 horas. A coleta de dados deu-se por meio de seis grupos focais realizados com 55 estudantes, em outubro de 2014 e em agosto de 2015. As discussões resultantes dos grupos focais foram transcritas na íntegra e submetidas à análise de conteúdo proposta por Bardin, e posteriormente discutidos na perspectiva do pensamento complexo de Edgar Morin. Os participantes foram informados quanto aos objetivos da pesquisa, a audiogravação, o anonimato, e, por fim, foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo contemplou a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de ensino à qual está vinculada a autora principal, conforme Resolução 466/12, com CAAE nº 18931613.5.0000.5231, em 15 de novembro de 2013. Resultados e discussão: Os resultados abrangeram polaridades presentes no processo de ensino- aprendizagem do tema comunicação em um Currículo Integrado de enfermagem: relação teoria e prática; comunicação verbal e não verbal; o silêncio e a fala. Na relação entre teoria e prática, os estudantes destacaram a necessidade de refletirem sobre questões da realidade prática durante os momentos teóricos, percebendo o ensino da comunicação mais eficaz durante as atividades práticas. Os estudantes conseguiram perceber a integração entre teoria e prática no quarto ano do curo, vindo de encontro aos pilares propostos para a nova estruturação acadêmica na formação do enfermeiro que incentiva a interação teoria e prática. Em relação aos dois tipos de comunicação, os estudantes identificaram a comunicação verbal como elemento fundamental no processo de cuidar, porém a comunicação não verbal foi citada com maior ênfase pelos discentes. Ao vivenciarem suas experiências comunicativas com o outro, também perceberam a integração entre os dois tipos de comunicação. Ao se comunicarem com os pacientes durante os procedimentos, por meio verbal, receberam feedback não verbais dos mesmos, trazendo significado para o processo comunicativo. No que se refere á fala e o silêncio, os estudantes evidenciaram a importância da comunicação por meio da fala, sendo necessário no processo comunicativo saber quando e o que falar, entretanto ao vivenciarem situações delicadas, como a de morte, os estudantes relataram que não sabiam como falar ou agir, entrando em cena o silêncio. De acordo com o pensamento complexo de Edgar Morin, o princípio dialógico é marcado pelo antagonismo e pela complementaridade, referindo-se à dualidade, utilizando conceitos que inicialmente parecem opostos, porém se complementam3. Nesta perspectiva, o pensamento complexo busca o aprofundamento e a contextualização de determinado fenômeno, bem como o entrelaçamento de conceitos aparentemente contraditórios, para o alcance da compreensão do todo. A compreensão e as vivências em relação às polaridades se fizeram presentes nos discursos, porém devemos destacar a integração entre eles. Integrar saberes que inicialmente são apresentados de maneira descontextualizada, desconectada e fragmentada é o grande desafio para a educação do futuro enfermeiro, englobando e responsabilizando os agentes desta construção - educador e educando. Conclusão, contribuições / implicações para a Enfermagem: Os estudantes de enfermagem vivenciaram dualidades nas experiências de ensino da comunicação que colaboraram para o desenvolvimento da competência almejada. A maneira como estas dualidades são abordadas no processo de formação deve ser repensada. É preciso integrar a teoria e prática desde o começo do curso, explicitando a realidade de forma clara e verdadeira, explorando os conceitos dos tipos de comunicação de forma complementar e indissociável, ensinando o estudante a se comunicar em situações adversas e delicadas, ressaltando o momento oportuno para a linguagem e para o silêncio. Na perspectiva do pensamento complexo e do princípio dialógico, as dualidades apresentadas neste estudo, mesmo sendo aparentemente contraditórias, devem ser compreendidas como inseparáveis e complementares, de modo que seu entrelaçamento torne o ensino da comunicação mais abrangente e integrado. Contribuições: Para que ocorra a complementaridade e o entrelaçamento dos saberes, é necessário que haja transformação na forma de pensar, primeiro do educador e depois do educando. Para que os futuros enfermeiros desenvolvam competência em comunicação torna-se desejável que os professores apontem o caminho, ensinando o tema de forma aberta e contextualizada. Torna-se um desafio deste estudo a aproximação desses resultados com os docentes do curso de enfermagem em estudo e de outras instituições de ensino, possibilitando reflexões e possíveis reformulações no processo de ensino-aprendizagem da comunicação na formação do enfermeiro, bem como de outros profissionais. Referências: 1. Ferreira MA. A comunicação no cuidado: uma questão fundamental na enfermagem. Rev. Bras. Enferm.; maio-jun. 2006; 59(3): 327-30. 2. Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmara da Educação Superior. Parecer nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Enfermagem. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 2001. 3. Morin E. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 22ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; dez. 2015. 4. Garanhani, ML; et al. In: Kikuchi, EM; Guariente, MHDM. Currículo integrado: a experiência do curso de enfermagem da universidade estadual de londrina. Londrina. Eduel. 2014. Palavras-chave: comunicação; educação em enfermagem; currículo. |