Roda de Conversa
83 | Estágio Curricular Interprofissional: Inovação na formação em Enfermagen | Autores: Ana Wládia Silva de Lima (Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico de Vitória) ; Nathália Paula de Souza (Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico de Vitória) ; Ana Paula Lopes de Melo (Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico de Vitória) ; Amanda Maria Tavares dos Santos (Secretaria Municipal de Saúde da Vitória de Santo Antão) ; Luciane Soares de Lima (Secretaria Municipal de Saúde da Vitória de Santo Antão) |
Resumo: Introdução: As Diretrizes Curriculares Nacionais da formação superior, promulgadas em 2001, orientam para a construção de perfis profissionais adequados ao contexto sócio histórico atual, de forma a atender as demandas da sociedade enquanto profissionais de um novo século. A partir de 2001 as diretrizes curriculares dos cursos de graduação de saúde afirmam que o sistema de saúde vigente no país deve fazer parte da construção da formação dos profissionais da saúde, trabalhando e fortalecendo questões como o trabalho em equipe e a atenção integral à saúde do usuário1. A formação do profissional de saúde no Brasil acontece na grande maioria das instituições em formato uniprofissional, conteudista, centrado no professor, com atividades práticas em restritos cenários de atuação profissional 2. A Educação Interprofissional, realidade em vários países, é apontada com significativa contribuição na mudança do modelo de atenção à saúde contemplando a integralidade do cuidado e o trabalho colaborativo 2-3. Oportunidades de educação interprofissional (EIP) ainda na graduação, contribuem para a atuação em equipe onde o desenvolvimento de práticas colaborativas e a percepção de interdependência entre as profissões rompe com a fragmentação do conhecimento e o corporativismo 2-4. Esse modelo de formação, entretanto exige inovações pedagógicas que busquem o aprimoramento da docência comprometida com a formação profissional voltada ao fortalecimento da integralidade do cuidado às demandas complexas da sociedade 2,5. Objetivos: Integrar os discentes dos cursos de graduação do Centro Acadêmico de Vitória - CAV/UFPE: Bacharelado em Enfermagem, Bacharelado em Nutrição e Bacharelado em Saúde Coletiva, em parceria com profissionais da Estratégia de Saúde da Família e Núcleo de Apoio a Saúde da Família, no desenvolvimento do projeto piloto de Estágio Curricular Interprofissional (ECIP). Método: Relato de experiência de pesquisa-ação, desenvolvido no campo de formação prática em Atenção primária (ESF e NASF) dos cursos de saúde do CAV/UFPE no município de Vitória de Santo Antão - PE. O período da experiência foi de março a julho de 2015. Participaram do estudo nove discentes de graduação sendo três de Enfermagem, três de Nutrição e três de Saúde Coletiva. Os discentes formaram três equipes interprofissionais com um discente por curso de graduação que foram vinculados a três Equipes de Saúde da Família. O relato da experiência se deu por meio de grupo focal com os discentes, sendo as falas registradas com prévia permissão dos participantes do grupo e assinatura de termo de consentimento. Realizou-se a análise de conteúdo de Bardin. Inicialmente realizaram-se três oficinas para integração dos discentes, discussão da temática de formação interprofissional e integralidade do cuidado e planejamento das ações em comum. Foi pactuado que cada equipe discente interprofissional realizasse o diagnóstico situacional de uma família do território da ESF. Utilizou-se análise do prontuário da família, visita domiciliar, dialogo com a família, discussão das necessidades de cuidado, construção e implementação do plano terapêutico interprofissional à família, sob supervisão dos preceptores da ESF e NASF. O ECIP correspondeu à carga horária de 50 horas do Estágio Curricular Uniprofissional de cada curso. A intervenção foi desenvolvida em um turno semanal previamente agendado entre os discentes a equipe do serviço (ESF e NASF) e os docentes supervisores. As visitas domiciliares eram facilitadas pela preceptoria do agente comunitário da família selecionada. Resultados: Através do diagnóstico coletivo situacional, a Equipe Discente Interprofissional interagiu com as famílias e território planejando ações clínicas e educativas dentro de uma linha de cuidado colaborativa comum e também especifica adequada a realidade objetiva das famílias. Nos relatos buscou-se identificar a percepção do discente em relação à experiência interprofissional vivenciada. Evidenciaram-se os momentos de interação entre os discentes com a realidade levando-os a problematizar a situação observada possibilitando a reflexão individual e compartilhada o que gerou nestes a vivência do trabalho colaborativo e a percepção do papel do outro. Através da análise das falas foi possível identificar três linhas de discurso: A percepção da complementaridade dos conhecimentos com diferentes olhares; O reconhecimento do trabalho em equipe para a integralidade do cuidado; A percepção da complexidade social e do papel humanístico do profissional. Conclusão: A proposta de integrar diferentes discentes das graduações em saúde durante o Estágio Curricular, oportunizando a experiência de uma intervenção sob a perspectiva da formação interprofissional se mostrou factível em nossa realidade possibilitando uma melhor compreensão das competências profissionais fortalecendo a identidade profissional e o desenvolvimento da autonomia na aprendizagem e no fazer colaborativo. Para os discentes, a experiência do ECIP foi significativa e particular. Em suas falas percebemos que a atuação em conjunto com estudantes de outras formações permitiu um melhor cuidado aos usuários quando estes são assistidos por uma equipe interprofissional. O contato com a vida real, com pessoas reais, problemas reais e demandas não padronizadas, protocoladas, mobilizou competências e habilidades que os discentes não achavam que possuíam e ou achavam desnecessários para sua atuação. Sensibilidades, afetamentos, implicar-se foi à consequência de se expor a esse modelo de construir e produzir conhecimento, mobilizando um conjunto de saberes para o desenvolvimento de um plano terapêutico e tomada de decisões compartilhadas. Com a experiência os discentes demonstraram reconhecer a importância da atuação em equipe para a construção do saber comum podendo este ser compartilhado e acionado por todos para melhor atender ao usuário. Esse aprender-fazer-aprender é o que torna a atuação interprofissional colaborativa, fortalecendo a identidade profissional as competências em comum qualificando a formação e a assistência ampliando a possibilidade para reflexão, construção e execução de estratégias que favoreçam o cuidado colaborativo em equipe e a atenção integral em saúde. Contribuições para Enfermagem: A proposta do estágio curricular Interprofissional situa-se como uma inovação curricular na UFPE, concretiza o que está preconizado nas DCN da formação do Enfermeiro no que diz respeito a: aprender a aprender, problematizando as situações reais e refletindo sobre a realidade; aprender a fazer e a conviver, atuando em equipe com outras formações possibilitando o exercício colaborativo e o desenvolvimento de capacidades de comunicação e inter-relações possibilitando a efetividade do cuidado integral. Observou-se nos discursos que o papel do enfermeiro se fortalece na equipe interprofissional, onde este é percebido como agregador das linhas de cuidado. Este perfil demanda ampliação na percepção da complexidade social necessitando o desenvolvimento da consciência reflexiva e prepositiva, como também de ferramentas de comunicação e liderança. |