Comunicação coordenada
4 | PERCEPÇÕES, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES VOLTADAS À PESSOA IDOSA: ENFERMAGEM GERONTOGERIÁTRICA NA GRADUAÇÃO | Autores: Karina Silveira de Almeida Hammerschmidt (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Angela Maria Alvarez (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Maria Fernanda Baeta Neves Alonso da Costa (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Rafaela Vivian Valcarenghi (Universidade Federal de Santa Catarina) ; Danieley Cristini de Lucca (Universidade Federal de Santa Catarina) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A enfermagem brasileira congruente com os movimentos políticos e sociais mundiais sobre o envelhecimento populacional e fortalecida pela transição demográfica foi impulsionada a desenvolver estudos para o atendimento às especificidades do idoso. Esses esforços se intensificaram nas últimas três décadas, concomitantemente com o Plano Internacional de Ação para o Envelhecimento (1982), e mais significativamente com a promulgação da Política Nacional do Idoso (1996)1,2. A proposta de inserção do ensino da saúde do idoso na graduação é recente e converge com as adequações curriculares propostas pelo Ministério da Educação3. É essencial que o Curso de Graduação em Enfermagem, apresente proposta curricular adequada às necessidades demográficas, sociais e de interesse para a saúde do futuro, neste sentido a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, orienta novas diretrizes curriculares dos cursos de graduação da área da saúde: estimular o abandono das concepções antigas e herméticas das grades curriculares; atuar com proposta superior a execução de meros instrumentos de transmissão de conhecimento e informações; garantir sólida formação básica, preparando o futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional4. Sendo assim o OBJETIVO de pesquisa foi: comparar a percepção inicial e final do aluno que vivenciou a Disciplina de Enfermagem Gerontogeriátrica em relação à pessoa idosa. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA: Trata-se de pesquisa com abordagem qualitativa do tipo exploratória-descritiva. Os sujeitos do estudo foram os alunos matriculados na Disciplina de Enfermagem Gerontogeriátrica. O local para a realização das entrevistas foi na sala de aula junto ao Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI), onde ocorre a disciplina de enfermagem Gerontogeriátrica, a qual é optativa e se propõe ao desenvolvimento de competências para o cuidado de enfermagem junto aos idosos com ênfase na promoção do envelhecimento ativo e saudável da família e comunidade, além disso, possibilita a inclusão dos idosos nas metodologias desenvolvidas em sala de aula, a partilharem suas experiências, vivências e considerações sobre o ser idoso. Realizou-se coleta de dados durante três semestres letivos, nos anos de 2013 e 2014, no início e no final de cada um dos semestres. Foi solicitado aos alunos no segundo dia de aula que respondessem a seguinte questão: O que é ser idoso? Esta mesma questão foi realizada no último dia de aula do semestre. A coleta de dados foi gravada e transcrita na íntegra, para análise e interpretação dos dados utilizou-se análise de conteúdo5. Os dados estão apresentados e discutidos inicialmente através do conteúdo das entrevistas, bem como comparação das falas dos sujeitos, no início e final de cada semestre. O projeto de pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina e autorização ao Departamento de Enfermagem. RESULTADOS: Participaram da pesquisa 29 discentes de diversas fases do curso de graduação em enfermagem, que cursaram a disciplina de enfermagem gerontogeriátrica, emergiram cinco categorias, apresentadas a seguir: 1) Sedentarismo e atividade: a percepção inicial dos acadêmicos de Enfermagem em relação aos idosos é que possuem vida sedentária, não realizam atividades físicas, devido às fragilidades e limitações que acredita-se acompanhar o processo de envelhecimento, com utilização de dispositivos auxiliares da marcha, como bengalas. Percebe-se o idoso residente em área rural, por ser ambiente tranquilo e inativo. Estes aspectos evidenciam as crenças e aspectos culturais do senso comum, arraigados na percepção do sedentarismo e inatividade. Em decorrência das aulas e principalmente da possibilidade de conhecer as experiências de idosos que frequentam as atividades do NETI (local onde as aulas são realizadas), os discentes reconsideraram esta percepção inicial, vislumbrando o idoso como ser em busca da sua promoção da saúde, que pode viver ativamente, inserindo-se em atividades físicas, lazer e em busca constante de aprimoramento de seus conhecimentos. 2) Solidão e relacionamento: os discentes em fase inicial da disciplina percebiam o idoso como carente e solitário, necessitando de carinho constante, isolado de sua família, residindo em ambiente rural ou ainda em Instituições de Longa Permanência para Idosos, sem interação com outras pessoas. Entretanto, pelas experiências vivenciadas ao longo do semestre, emergiu nova percepção, na qual o idoso compartilha seus conhecimentos, experiências e sabedoria adquirida ao longo da vida, podendo estar rodeado e interagindo com sua família/amigos, ênfase especial foi dada ao relacionamento intergeracional, sexualidade, convivência e companhia com o parceiro. 3) Dependência e autonomia: o idoso incialmente era percebido como (in)capaz para tomar suas próprias decisões. Após as aulas verificou-se reconsideração, percebendo a possibilidade do idoso realizar as atividades básicas e instrumentais de vida diária de forma independente, com autonomia. 4) Padrão e personalidade: no inicio os alunos percebiam o idoso com aquele ser humana possuidor de características padronizadas, sem heterogeneidade. Após as aulas verificou-se que o idoso deve ser compreendido em sua complexidade, individualidade, repleto de peculiaridades e especificidades, são pessoas com vasta experiência, capazes de ensinar aos mais jovens e aos enfermeiros em formação, através das interações. 5) Fragilidade e fortaleza: nesta categoria o idoso inicialmente era percebido como frágil, fraco, porém a percepção se alterou para a possibilidade do ser humano forte e resistente, não somente em relação a condição física, mas envolvendo as múltiplas dimensões do viver. Ao final da disciplina, os discentes destacaram que detalhes cotidianos são diferentemente valorizados pelos idosos, bem como necessidade de preparo para cuidar destas pessoas, segundo suas necessidades e peculiaridades. CONCLUSÃO: identificou-se mudança importante em relação à percepção inicial dos discentes, predominantemente negativa em relação ao idoso, porém com o decorrer da disciplina, principalmente com aproximação junto às pessoas idosas (que vivenciam o NETI, ou que foram convidadas para vir às aulas), vislumbrou-se possibilidades para o idoso como ser ativo, relacionando-se com sua família, amigos e companheiros, com autonomia e personalidade forte, rico em conhecimentos e resistente aos fatos vividos. Estas reconsiderações dos discentes podem refletir em aspectos diversos relacionados à pessoa idosa, mas principalmente na formação podem estimular o pensar no cuidado de enfermagem pautado em ações para a promoção da saúde do idoso ativo, com autonomia, independência e qualidade de vida. CONTRIBUIÇÕES/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: A construção pelos discentes de enfermagem de diferentes percepções sobre o ser idoso pode influenciar nos futuros profissionais, aptos para desenvolver o cuidado de enfermagem adequado e condizente as necessidades desta população. A percepção, além do conhecimento das especificidades do processo de envelhecimento, propicia atuação e planejamento profissional competente. Deste modo, se fortalece a necessidade de oferecer disciplinas específicas sobre gerontogeriatria nos Cursos de Graduação em Enfermagem, fortalecido pela demanda de aumento populacional, que pressupõe inclusive sugestão de obrigatoriedade desta nos currículos de graduação. REFERÊNCIAS: 1) BRASIL. Lei n. 8.842 de 4 de janeiro de 1994. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 5 Jan 1994. 2) BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.528, de 01 de outubro 2006. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 3) BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 20 Dez 1996. 4) BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução CNE/CES No 3 de 7 de setembro de 2001: diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 9 Nov 2001. 5) BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009. DESCRITORES: Enfermagem. Educação Superior. Idoso. |