Comunicação coordenada
20 | MOVIMENTOS DA FORMAÇÃO EM SAÚDE NOS CENÁRIOS DE ENSINO E SERVIÇO: O CASO DO BRASIL | Autores: Carine Vendruscolo (Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)) ; Edlamar Katia Adamy (Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)) ; Denise Antunes de Azambuja Zocche (Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)) ; Marta Lenise do Prado (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)) ; Miriam de Abreu Almeida (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)) |
Resumo: Introdução: No Brasil, a Educação Permanente em Saúde (EPS), em nível de formação e qualificação dos trabalhadores, vêm sendo pensada a partir da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS). A EPS implica na construção de valores, métodos e práticas democratizantes, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), visando sua consolidação, mediante a integração ensino-serviço. A EPS constitui estratégia fundamental às transformações nos processos do trabalho para que este seja locus da atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e tecnicamente competente. Para isso, considera-se iniciativa fundamental descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os trabalhadores. Portanto, a EPS consolidaria o SUS através da ordenação da formação de recursos humanos em saúde, o que compromete o setor saúde e o setor educação, conforme previsto no artigo 200, inciso III da Constituição Federal do Brasil 1. Esse e outros movimentos de reorientação da formação para o SUS têm contado com iniciativas potentes, sobretudo em serviços e instituições de ensino com Enfermagem, no sul do Brasil. No que se refere à ação educativa, Paulo Freire argumenta sobre a necessidade de que educador e educando sejam sujeitos de sua prática, criando-a e recriando-a por meio da ação-reflexão-ação sobre o cotidiano. Nessa direção, a integração de teoria e prática determina a práxis, como possibilidade transformadora da realidade2. No sul do Brasil, como em outras regiões brasileiras, são muitas as iniciativas que tencionam aproximar o ensino e o serviço, como estratégia de fortalecimento da atenção a saúde, a partir de metodologias que qualifiquem também os sujeitos que produzem saúde. Objetivo: O presente estudo pretende analisar movimentos que acompanham a consolidação da PNEPS no sul do Brasil, a partir do protagonismo dos sujeitos da gestão, da atenção, do controle social e do ensino em saúde - "Prisma da Formação em Saúde"3. Método: Apresentaremos parte dos resultados de duas pesquisas de natureza qualitativa, realizadas mediante as modalidades: Teoria Fundamentada em Dados (TFD) e Estudo de Caso, ambas tendo como método de coleta de dados a entrevista gravada e como participantes representantes do Prisma, em cenários do ensino e do serviço em saúde. A TFD está sendo realizada no ambiente hospitalar e a análise dos dados e realizada por meio do software Nvivo-10 (fase conclusiva). O Estudo de Caso, realizado no ambiente de ensino, foi concluído em 2014 e a análise do conteúdo teve como suporte a proposta de Minayo4. Em ambos os estudos foram respeitadas todas as questões éticas que regulamentam as pesquisas realizadas com os seres humanos, no Brasil. Resultados e Discussão: Sem a possibilidade de reflexão sobre si mesmo e sobre seu estar no mundo, o homem não é capaz de transpor limites, que lhe são impostos e, assim, comprometer-se2. De fato, cada segmento representado nos movimentos de integração ensino-serviço, desempenha um papel importante no que tange à reorientação da formação e também das praticas em saúde. Assim, os sujeitos que compõem o prima da formação constituem um corpo interinstitucional e exercitam uma possibilidade mais democrática e participativa de gestão, na qual desfrutam do protagonismo e da produção coletiva3,5. Em relação aos movimentos de formação em serviço no ambiente hospitalar, observa-se um envolvimento significativo dos enfermeiros e professores, principalmente, de cursos de enfermagem. No ambiente de ensino, as ações de reorientação que envolvem representantes dos segmentos, contam com participação ativa do ensino (sobretudo, na figura do enfermeiro) e dos profissionais da Atenção Primaria (também com destaque ao enfermeiro). Em ambos os estudos, e insipiente a participação do segmento gestão e do controle social. Isso se repete em outros estudos dessa natureza. Semanticamente, o prisma pode ser utilizado como uma metáfora, para ilustrar estes movimentos que refletem os atores envolvidos e seus diferentes posicionamentos no processo. O prisma e uma figura que recebe luz branca e emite raios luminosos, a partir de um processo de transformação. Acredita-se que a interação efetiva entre os segmentos que fazem parte do complexo sólido que tentamos representar, produz nos sujeitos maior compromisso, por meio de relações de vínculo e responsabilização entre estudantes, usuários, professores, profissionais, gestores e outros parceiros na produção dos processos de educação e de cuidado em saúde.3. Nessa direção, observa-se que os sujeitos embricados nos processos de integração ensino-serviço se envolvem, gradativamente, com os objetivos de qualificação das praticas de saúde, transformando a si próprios e, por conseguinte, os espaços nos quais transitam. Por vezes, os papeis são confusos ou prevalecem interesses de uma ou de outra instituição (ensino ou serviço), contudo, a escuta, assim como a fala, é condição para a comunicação dialógica entre sujeitos sociais com diferentes opiniões e, portanto, acredita-se no dialogo como possibilidade de fortalecer a integração ensino-serviço em saúde nesses cenários. Conclusão: O reconhecimento dos papéis de cada segmento nos movimentos que integram ensino e serviço apresenta-se em um processo de construção lento em relação ao comprometimento de cada sujeito. Contudo, os interesses comuns parecem contribuir para que aos espaços de integração estruturem-se numa base sólida e enriquecedora, com vistas ao desvelamento do processo de formação na área da saúde. A interação entre os segmentos produz nos sujeitos um compromisso com a efetiva gestão da EPS em ambos os cenários de produção da saúde. Existem muitas arestas a serem ajustadas em relação a esses espaços de aprendizado da democracia, na direção da consolidação da PNEPS e do SUS. Implicações para a Enfermagem: Os movimentos de integração ensino-serviço representam um novo modo de olhar para a produção de saúde, semeando a vontade de compreender a maneira com que se formam os profissionais desta área, sobretudo, da Enfermagem. Referências: 1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS No 1.996, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as Diretrizes para a implementação da Politica Nacional de Educação Permanente em Saude e dá outras providências. Brasilia: Ministério da Saúde, 2007. Publicada no Diário Oficial da União no 162, de 22 ago. 2007; Seção 1. 2. Freire P. Pedagogia do oprimido. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 3. Vendruscolo C et al. Teaching-service integration and its interface in the reorientation context of health training. Interface (Botucatu), 2016;20(59). No prelo. 4. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2013. 5. Ceccim RB, Feuerwerker LMC. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. Physis Revista Saúde Coletiva. 2004;14(1):41-65. |