Prêmio
609 | REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO CRÍTICA DO ENFERMEIRO: INTERFACE ENTRE EDUCAÇÃO E CULTURA | Autores: Elizabeth Soares Oliveira de Holanda Monteiro (Universidade Federal do Piauí) ; Államy Danilo Moura E Silva (Universidade Federal do Piauí) ; Jéssyca Stherllany Rosendo Lima (Universidade Federal do Piauí) ; Lourival Gomes da Silva Júnior (Universidade Federal do Piauí) ; Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes (Universidade Federal do Piauí) |
Resumo: Introdução: Dentro das dimensões que atualmente compõem a formação em enfermagem se insere o processo dinâmico de modificação de saberes e práticas ultrapassadas por processos inovadores, sendo fundamental identificar as atitudes e ações dos envolvidos nessa construção e a atmosfera sociocultural1. O Sistema Único de Saúde (SUS) como politica pública amparada por instrumentos legais e constitucionais reorientou os serviços e práticas profissionais de saúde e interferiu sobre a formação dos recursos humanos em saúde, para fortalecer esse sistema no Brasil. Portanto, o currículo universitário deve incluir os princípios e diretrizes do SUS, de modo que os graduandos de enfermagem sejam capazes de proporcionar um cuidado amplo e de boa qualidade para a população2.Entretanto, o panorama atual da educação em enfermagem demonstra que, mesmo com as iniciativas governamentais e da sociedade na busca de mudanças para atender os pressupostos do SUS, muitas Instituições de Ensino Superior (IES) ainda utilizam estruturas curriculares tradicionais, docentes despreparados, metodologias de ensino e materiais didáticos, que não estimulam o ato de pensar, refletir, criar e propor mudanças que atendam as necessidades e considerem os valores culturais dos educandos, que consequentemente poderão atuar também não considerando aspectos da cultura de sua clientela3. Objetivos: proporcionar uma reflexão acerca da formação crítica em enfermagem a partir de uma abordagem transcultural. Descrição metodológica: Trata-se de estudo reflexivo, produzido a partir de leituras correlacionadas com a área temática, disponíveis nos artigos científicos em bases de dados eletrônicos. Resultados: O processo de formação do enfermeiro vem passando por mudanças que trazem à nossa reflexão as abordagens tradicionais, não mais recomendadas na nossa realidade, e a produção do conhecimento crítico, necessário para as mudanças no ensino de enfermagem no contexto sociocultural e educativo. Atualmente, nos cursos de graduação já foram incluídas disciplinas que estimulam o desenvolvimento do pensar crítico e instigam os profissionais a questionar o meio em que estão inseridos, visto que, durante muito tempo, as ações eram executadas e não se compreendia o porquê das mesmas1.Não obstante, alguns currículos continuam defasados e as práticas de ensino permanecem focadas em um modelo reducionista, atrelado na técnica pela técnica, enfatizado nas afecções em vez da pessoa portadora da doença. Esse padrão de ensino vertical vai de encontro com o que existe de positivo para o processo de aprendizagem em enfermagem, que deve ser baseado na causa do pensamento crítico reflexivo no âmbito acadêmico, para efeito de profissionais autônomos no saber e proporcionar um cuidado holístico e transcultural. Para que o enfermeiro preste um cuidado holístico, o mesmo deve ter consciência das diferenças culturais nas intervenções de enfermagem, pois a gestão dos cuidados é formulada com base nas necessidades dos indivíduos e das suas culturas. Assim, a formação desses profissionais deve prezar pela manutenção da competência cultural na sua prática diária como indivíduos de um sistema de saúde complexo e uma sociedade diversificada culturalmente6. Para que a enfermagem continue crescendo e ancorando a grandeza de seu trabalho, se faz necessário que cada vez mais existam profissionais que questionem o meio ao qual estão inseridos, que participem dos processos e propiciem um meio de reflexão e aprendizagem, contribuindo de forma satisfatória com a qualificação coletiva9. Evidencia-se que os profissionais que atuam no sistema de saúde nacional têm conhecimento superficial dos princípios e diretrizes que regem o sistema de saúde, no entanto, reproduzem um modelo de concepção e atuação dicotômico, pontual e linear em suas práticas. Portanto, é imprescindível que se proponham novos referenciais teórico-práticos, para que os princípios e diretrizes sejam traduzidos na atuação10. É fundamental que os enfermeiros tenham uma percepção sobre o cuidado de acordo com as diversas culturas, pois entende-se que a prática dos futuros profissionais da enfermagem é espelho do que é transmitido, compartilhado e apreendido durante a graduação, sendo esse um espaço importante para a construção de saberes e competências críticas que atendam à diversidade cultural. O processo de formação crítica e reflexiva em enfermagem para atuar no SUS, deve basear-se na compreensão dos significados culturais dos seres envolvidos, tanto do educando quanto de quem receberá os cuidados dos futuros profissionais. É responsabilidade do enfermeiro, enquanto docente e/ou assistente, a capacitação de seus educandos e de sua equipe sobre a importância de considerar e conhecer as dimensões do ser humano, para que seja possível a realização de um cuidado de enfermagem de modo integral, humano e eficaz. Torna-se primordial que, numa sociedade transcultural, os enfermeiros tenham competência para trabalhar com todos os usuários, procurando estabelecer uma relação de interdependência, compreensão e aceitação das diferenças de crenças e encontrando as semelhanças entre si. Isso sugere que na formação dos enfermeiros se adotem estratégias de ensino que viabilizem a cooperação, reflexão, adaptação à mudança, à diversidade e ao imprevisto6. Precisa-se refletir sobre as condutas e contribuições da enfermagem sobre as formas em que os profissionais se dispõem à execução do cuidado e de que forma tais ações refletem na melhoria da qualidade de vida da sociedade. Portanto, todo o processo de formação da identidade do "ser enfermeiro", aliados ao seu poder de percepção, de comunicação e interligação favorece a detecção dos problemas, objetivando ações para o controle, resolubilidade e consequentemente favorecem a meta primordial da Enfermagem: o cuidado com sapiência. A geração de conhecimento científico, mormente no campo da saúde e da enfermagem, exige que se aplique a inteligência em prol do bem comum, que se tenha formação acadêmica adequada em que a pesquisa emerja como estratégia, procedimento de aprendizagem e/ou princípio educativo; exige que se ampliem os movimentos de qualificação acadêmica para que se problematizem o mundo real das pessoas e de suas famílias, se revisem, questionem, critiquem, se discutam os saberes e os fazeres da saúde1;9. Conclusão: Para mudar o tecnicismo que rodeia a prática profissional do enfermeiro, é preciso repensar a formação deste profissional. O êxito do cuidado transcultural é reflexo de uma formação que estimula o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para fornecer cuidados de enfermagem culturalmente adequados. Contribuições para a Enfermagem: Para que a enfermagem avance como ciência do cuidar é preciso que ela se fortaleça como profissão exercida por profissionais conhecedores das diversidades culturais e que lutem para que seus agentes se tornem protagonistas de iniciativas voltadas à excelência da qualidade, finalidade precípua de seu trabalho. Palavras-chave: Enfermagem; Educação em enfermagem; Cultura. REFERÊNCIAS: 1. Lopes RE, Da Costa Silva A, Nóbrega-Therrien SM. Formação reflexiva no ensino da enfermagem: discussão à luz de Schön. Cadernos de Pesquisa. 2015; 22(1): 47-58. 2. Costa KSC, Miranda FAN. Opinião do graduando de enfermagem Sobre a Formação do Enfermeiro para o SUS: Uma Análise da FAEN / UERN. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2010; 14(1): 39-57. 3. Góes FSN, Côrrea AK, Camargo RAA, Hara CYN. Necessidades de aprendizagem de alunos da Educação Profissional de Nível Técnico em Enfermagem. Rev Bras Enferm. 2015; 68(1): 20-5. 4. Monticelli M, Boehs AE, Guesser JC, Gehrmann T, Martins M, Manfrini GC. Aplicações da teoria transcultural na prática da enfermagem a partir de dissertações de mestrado. Texto Contexto Enferm. 2010; 19(2): 220-8. 5. Maia MNFS, Nunes, BMVT, Moura MEB. Student's participation in the development of the pedagogical project in a Nursing program. Invest. educ. enferm. 2013; 31(2): 183-90. |