Roda de Conversa
506 | PARADOXOS DE TRABALHO DA ENFERMAGEM: EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ABORDAGEM DO PRAZER E SOFRIMENTO | Autores: Adriana Cristina Hilleseheim (UNOCHAPECO) ; Karen Cristina Kades Andrigue (UNOCHAPECO) ; Adrean Scremin Quinto (UNOCHAPECO) |
Resumo: Introdução: Um dos princípios educacionais da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), consiste no ensino articulando a pesquisa e a extensão visando à consolidação da tríade: apreensão, produção e socialização do conhecimento, enquanto mecanismo pedagógico estratégico de formação. Deste modo, a definição de metodologias de ensino pauta-se nestes preceitos. Para isto, o curso de Enfermagem em seu Estágio Curricular Supervisionado I (ECS I), dentre suas ações prevê que os discentes desenvolvam atividades de extensão com Educação em Saúde em seus cenários de prática por ser um processo educativo dinâmico de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática, tornando-se um conjunto de práticas que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado.1 Na enfermagem emerge como um dos objetivos primordiais da prestação de cuidados, pois promove a saúde e a qualidade de vida das pessoas, cabendo a formação preparar os estudantes para estas ações.1 A escolha pela temática emergiu das vivências em campo que apontaram sobrecargas de trabalho dos profissionais da enfermagem. No Brasil, os trabalhadores de enfermagem representam o maior número dentre as categorias de trabalhadores inseridos nas instituições de saúde. Contudo, estudos apontam que esses trabalhadores estão expostos a múltiplas cargas de trabalho, geradoras de processos de desgaste, comprometendo assim a qualidade de vida no trabalho dos mesmos.2-3 Desta forma, no segundo semestre de 2015, a abordagem ocorreu com os trabalhadores de enfermagem de um hospital de grande porte, abordando o prazer e sofrimento relacionado ao trabalho. Objetivos: relatar a experiência da extensão universitária com ação de educação em saúde, vivenciada no ECS I pelos discentes de enfermagem, com intuito de abordar a temática para o enfrentamento do sofrimento psíquico no trabalho de enfermagem. Metodologia: os participantes da intervenção foram 18 trabalhadores de enfermagem das clínicas de internação cirúrgica, oncológica e médica, do turno matutino. O planejamento da atividade foi construído em conjunto com as enfermeiras coordenadoras de forma a envolver os sujeitos na identificação de problemas e elaboração de estratégias pertinentes para minimizá-los. Desta forma, foi elaborado um folder utilizado como ferramenta expositiva para intervenção, que contemplou informações a respeito do prazer no trabalho da enfermagem. Com o título "Trabalhando com Alegria" o material foi preparado, tendo como base artigos científicos que abordavam o tema e ilustrou aspectos que geram satisfação pessoal e profissional. A ação ocorreu nos turnos de trabalho, sendo que os colaboradores foram abordados aos pares para que verbalizassem sobre suas rotinas, satisfações, preocupações e stress, bem como o que faziam nos momentos de folga para análise das necessidades e em seguida o folder foi entregue e discutido. Como avaliação utilizou-se a escala Hedônica, método usado como um teste de aceitabilidade, em que há a necessidade de avaliação, permitindo posterior discussão da relevância e aproveitamento da atividade. A mesma possuía cinco rostos que significavam sucessivamente: muito ruim, ruim, indiferente, bom e muito bom e os profissionais assinalaram o rosto de acordo com sua satisfação quanto a ação. Resultados: em ambiente hospitalar, o trabalho é diversificado e estimulante, mas igualmente desgastante com atividades prejudiciais, sofridas e difíceis que atingem todos os profissionais que estão inseridos neste meio.4 O prazer é definido como o estado em que o trabalhador tem disposição e vontade de trabalhar produtivamente. Porém, a motivação é o impulso para o prazer e, em geral, visa ao crescimento e desenvolvimento pessoal e, como consequência, o organizacional, sendo vista como o grau de vontade e dedicação de uma pessoa na tentativa de desempenhar bem uma tarefa. O indivíduo só se motiva e sente prazer quando se sente estimulado para isso, sendo a necessidade que energiza o comportamento, a disposição ou vontade para trabalhar produtivamente. Já a vivência de sofrimento, é caracterizada pela presença de ao menos um dos seguintes sentimentos: medo, insatisfação, insegurança, estranhamento, desorientação, impotência diante das incertezas, alienação, vulnerabilidade, frustração, inquietação, angústia, depressão, tristeza, agressividade, impotência para promover mudança, desgaste, desestímulo, desânimo, sentimento de impotência, desgaste físico, emocional, desvalorização, culpa, tensão e raiva.2-4 A partir dessa opção de delimitar a intervenção para o prazer e sofrimento nos profissionais de enfermagem, optou-se por desenvolver um folder ilustrativo para aplicar a intervenção proposta. Esse folder apresentava informações ilustrativas de como ser feliz e ter prazer durante a sua jornada de trabalho e fora do ambiente hospitalar. Os pontos abordados no folder foram: Dê valor as pequenas coisas ao seu redor, ajude o próximo quando puder, leia mais, exercite-se com frequência, procure sempre pela inspiração, acredite em você mesmo, encare seus medos e ame seu trabalho. Compreende-se que a atividade foi acolhida de forma dinâmica pela equipe, na qual os trabalhadores mostraram-se interessados, satisfeitos e reconhecidos pelo seu trabalho. Obteve-se como resultado quinze rostos que representavam a aceitação de muito bom. Notou-se que as profissionais da equipe de enfermagem sentiram-se satisfeitas com a abordagem realizada, pois até então não havia sido feito nenhum trabalho tratando do tema. Sendo assim, houve uma abertura para destacarem alguns pontos do seu cotidiano. A abordagem no ambiente de trabalho vai de encontro com a Educação Permanente, que é a aprendizagem no trabalho, onde o ensinar e o aprender se unem ao cotidiano do trabalho e baseia-se na aprendizagem significativa e na oportunidade de modificar as práticas profissionais fundamentando-se na pedagogia da problematização, no trabalho reflexivo em grupo e na transformação das práticas dos serviços de saúde. Considerações: no trabalho a enfermagem está sujeita a desgaste emocional, ocasionados por: dores, perdas, morte de pacientes, bem como enxaqueca e distúrbios digestivos. Esses processos, consequentemente, resultam em absenteísmo, incapacidade temporária ou permanente, o que compromete a qualidade da assistência prestada aos pacientes e a própria qualidade de vida desses trabalhadores. Além desses, alguns aspectos que podem influenciar na queda de produtividade, no desempenho e na satisfação do profissional são: apatia, hipersensibilidade emotiva, desânimo, raiva, ansiedade e irritabilidade podendo provocar ainda muitos sintomas como a despersonalização e inércia.4 A realidade da enfermagem é caracterizada pela execução de atividades que demandam grande interdependência. Portanto, a motivação é algo fundamental para busca de maior eficiência e, por consequência, uma melhor qualidade na assistência de enfermagem, bem como a satisfação pessoal. Desta forma, percebe-se que atividades simples, no cotidiano do trabalho podem proporcionar a exposição de sentimentos que causam satisfação e motivam pelo reconhecimento e abordagem individual ou coletiva. 1 ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA FORMAÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM Dylmara Maria Prudêncio Cavalcante, Francisco Gilberto Fernandes Pereira, Francisco William Matias Rodrigues, Aline Alice Duarte de Sá, Ana Caroline Ximenes Gurge. 2 DEJOURS C. Addendum - da Psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. In: LANCMAN, Selma e SZNELWAR, Laerte Idal (orgs.) Cristophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro.Brasília:2004 (15). 3 MENDES, Ana Magnólia. Psicodinâmica e clínica do trabalho: temas, interfaces e casos brasileiros;/ Ana Magnólia Mendes, Álvaro Roberto Crespo Merlo, Carla Faria Morrone, Emílio Peres Facas (orgs.) 1 ed. (ano 2010), 2 reimpr. Curitiba: Juruá, 2012. 4 KESSLER, Adriane Inês; KRUG, Suzane Beatriz Frantz. Do prazer ao sofrimento no trabalho da enfermagem: um discurso dos trabalhadores. Revista gaúcha de enfermagem. Porto Alegre (RS), 2012. v. 33, n. 1, pp. 49-55. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rgenf/v33n1/a07v33n1.pdf> Acesso em: 24 set. 2014. |