Roda de Conversa
485 | A INTERDISCIPLINARIEDADE COMO ARTICULADORA DO ENSINAR E APRENDER: UMA REFLEXÃO DA PRÁTICA | Autores: Silmara da Costa Maia (Universidade do vale do Itajai- UNIVALI) ; Maria Isabel Fontana (Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI) ; Simone Regina Grando (Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI) ; Adriano da Silva Acosta (Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI) ; Pollyana Bortholazzi Gouvea (Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI) |
Resumo: Introdução: Discutir interdisciplinaridade no ensino superior requer, necessariamente, abordar mudanças nos paradigmas da educação, os quais envolvem questões políticas e principalmente metodológicas. No entanto, para que tais mudanças alcancem seus objetivos, é imprescindível uma transformação na concepção de construção do currículo, possibilitando metodologias interdisciplinares, isto porque, a maioria dos docentes, foram "formados" numa perspectiva cartesiana, a qual não vislumbrava a integração disciplinar. Face a esta perspectiva, faz-se mister a interconexão de quatro preceitos metodológicos, os quais consistem em dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas possíveis, a fim de melhor resolvê-las; além de conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e fáceis de se conhecer, para a seguir avançar gradativamente, até o conhecimento mais complexo. A concepção de construção de currículos deve ser entendida como algo a ser redefinido, tendo em vista as transformações profissionais emergentes, pois o currículo requer transformações consoantes às evoluções e mudanças vividas em cada época histórica. Desta forma, os novos currículos devem servir de instrumento norteador das práticas de formação, mudando as estruturas que sustentam esta prática, pois se observa na realidade atual uma modalidade educacional ainda preservada de princípios tradicionais, ocasionando um descompasso entre discurso, prática e demandas no âmbito da formação humana e profissional, principalmente no que se refere à interdisciplinaridade. Cabe destacar que o ensino superior no Brasil se apresenta frente a paradigmas, que envolvem mudanças na função social da universidade, na organização curricular, na ênfase metodológica e sua relação com a sociedade, os quais exigem uma mudança de concepção do funcionamento dos currículos. Estas transformações decorrem de modificações políticas, sociais e econômicas, as quais, indubitavelmente, refletem-se nas áreas de educação e saúde; cuja consequência envolve a necessidade de mudanças significativas em cada uma delas. Objetivo: analisar o porquê da interdisciplinaridade ser, ainda, obstáculo como metodologia no ensino superior. Metodologia: esta análise será feita pela busca de fundamentação filosófica, a partir de uma pesquisa bibliográfica-documental, principalmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Enfermagem, bem como de artigos relacionados aos temas interdisciplinaridade e currículo. Resultados: ao discutir o ensino superior no Brasil, esperava-se evidenciar uma mudança de paradigma; contudo, não existem mudanças significativas em suas práticas, pois o mesmo tem se guiado pelo paradigma linear e cartesiano, que desarticula o pensamento e a ação. Desta forma, dificulta, sobremaneira, o desenvolvimento do pensamento crítico do acadêmico, a articulação da teoria com a prática, a utilização de metodologias interdisciplinares, mantendo o professor como transmissor e o acadêmico como receptor de "conteúdos". O "modelo cartesiano" repercute numa visão fragmentada do conhecimento, o que na escola evidencia-se pela disciplinaridade dos conteúdos, sendo que cada professor trabalha isoladamente seu "conteúdo", sem perspectiva do alcance de um novo conhecimento e/ou uma competência, ou seja, desarticula o saber e o fazer. Assim, uma das mudanças necessárias implicaria na superação da fragmentação do conhecimento, na medida em que a interdisciplinaridade necessita de mudanças causadas pela tendência positivista, cujas raízes são o empirismo, o naturalismo e o mecanicismo científico do início da modernidade. Conclusões: O trabalho disciplinar, historicamente construído, propicia uma fragmentação dos saberes, o qual favorece sobremaneira as especialidades, instaurando um ciclo vicioso nas estruturas curriculares. A realidade demonstra que o educador, ao iniciar como docente no ensino superior, na sua maioria, não apresenta experiência, nem de formação, nem de práxis. Assim, a exigência interdisciplinar impõe a cada especialista que transcenda sua própria especialidade e tome consciência de seus próprios limites para acolher a contribuição das outras disciplinas. É necessário instrumentalizar o docente e criar estratégias progressivas de articulação de conteúdo. Alguns desafios estão sendo encontrados, os quais envolvem: mudar o ensino centrado no professor para a aprendizagem centrada no aluno; modificar a fragmentação do modelo disciplinar para a construção de um currículo integrado; modificar a lógica de primeiro a teoria e depois a prática, articulando teoria/prática; modificar a visão individual/coletivo e biológico/social para uma consideração de interpenetração e transversalidade; modificar a concepção de avaliação como processo punitivo para a de avaliação como instrumento do processo ensino/aprendizagem. Desta forma, os cursos foram incitados a redefinir ações e estratégias, principalmente a partir de mudanças de paradigma, os quais envolvem, principalmente: fortalecer a articulação entre teoria e prática, numa contínua aproximação entre universidade e serviço; utilizar metodologias ativas que possibilitem aos estudantes construir sua aprendizagem num processo ativo, colocando o professor como facilitador e orientador desse processo; aprofundar a articulação da pesquisa, ensino e a extensão, favorecendo o desenvolvimento da capacidade de produzir conhecimento próprio e inovador; desenvolver a flexibilidade curricular, minimizando a rigidez dos pré-requisitos e de conteúdos obrigatórios; integrar diferentes campos de conhecimento, possibilitando uma visão global da realidade e admitindo a ótica pluralista das concepções de ensino, adotando o princípio da interdisciplinaridade como forma de superar o pensar simplificado e fragmentado da realidade; incorporar atividades complementares no processo de formação, criando mecanismos de aproveitamento de conhecimentos adquiridos através de estudos e práticas independentes, presenciais e a distância; colocar em prática a avaliação da aprendizagem como um processo formativo e permanente de reconhecimento de saberes, competências, habilidades e atitudes. Contribuições/implicações para a Enfermagem: ao analisar o porquê da interdisciplinaridade ser, ainda, um obstáculo como metodologia no ensino superior, pode-se constatar que o desenvolvimento do currículo, utilizando a interdisciplinaridade, é hoje um dos suportes metodológico importantes no processo educacional como um todo e, em especial, para o acréscimo de novos valores mais condizentes com as necessidades atuais. Estes impulsionam as transformações no pensar e agir em diferentes sentidos, resgatando a complexidade da realidade existente e minimizando a fragmentação do saber. Este é sim, um importante articulador entre o ensinar e o aprender, porque necessita de mudanças na lógica do processo ensino/aprendizagem, pois o ensino cartesiano utilizado na formação do docente cria obstáculos à construção do ensino interdisciplinar, fragmentando os conhecimentos em módulos disciplinares isoladas em si. Desta forma, para que as diretrizes curriculares possam ser, efetivamente, incorporadas nos currículos, necessita-se articular todos os aspectos até aqui destacados, enfocandos-os à prática curricular, suscitando uma mudança epistemológica na prática do docente universitário. Deve-se desenvolver o processo de construção de conhecimento utilizando as experiências reais, em suas mais variadas formas e dimensões. Assim, a interdisciplinaridade deve ser entendida como base teórica adotando-se uma atitude diferenciada por parte do docente e discente no processo. Neste ínterim, deve-se introduzir estratégias progressivas, tendo em vista a necessidade de mudança de comportamento dos docentes. Estas devem desenvolver no docente, paulatinamente, uma mudança no modo de ver o ensino e sua própria construção do conhecimento, reconhecendo as fragilidades existentes, desenvolvendo novas experiências a favor da construção do conhecimento mais significativo para todos os envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem. FERNANDES, Josicelia dumêt; REBOUÇAS, lyra Calhau. Uma década de diretrizes Curriculares Nacionais para a graduação em enfermagem: avanços e desafios. Revista Brasileira de Enfermagem. 2013. SORIANO, Elaine Cristina Lacida et al. Os cursos de enfermagem frente às diretrizes curriculares nacionais: revisão integrativa. Revista de enfermagem UFPE online. Recife, 9(Supl. 3):7702-9, abr., 2015 TELLES, BeatrizMarcos; GUEVARA, Arnoldo José de Hoyos. Interdisciplinaridade: facilitadora da integração da sustentabilidade no Ensino Superior.Interdisciplinaridade, São Paulo, v.1, n. 1, out. 2011. |