Comunicação coordenada
418 | CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA, LABORAL E DE SAÚDE DE DOCENTES DE ENFERMAGEM | Autores: Camila Arantes Ferreira Brecht Doliveira (Enfermeira. Mestranda do programa de Pós-Graduação Stricto Senso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) ; Luiz Carlos Veiga Madriaga (Enfermeiro. Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).) ; Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza (Diretora da faculdade de enfermagem da UERJ. Professora associada do departamento médico-cirúrgica da faculdade de enfermagem da UERJ. Professora permanente do programa de Pós-Graduação Stricto Senso da UERJ.) |
Resumo: Introdução: O presente estudo teve como objeto a caracterização sociodemográfica, profissional e de saúde de docentes de enfermagem. Foi evidenciado que a atividade laboraldesempenhada por este grupo profissional tem se configurado como penosa, principalmente no que diz respeito à precarização das condições e das relações de trabalho. Atualmente, evidencia-se, entre os docentes, a polivalência e a multifuncionalidade do trabalhador, característica de uma organização neoliberal, que pressiona por produtividade e por resultados, mesmo que o professor fique desgastado e doente. Além disso, expostos à condições de trabalho que podem comprometer a qualidade do ensino, a produção do conhecimento e, sobretudo, a saúde desse coletivo profissional1. Objetivos: Este estudo almejou identificar e analisar as características sociodemográficas, laborais e de saúde dos docentes de enfermagem de uma universidade pública no estado do Rio de Janeiro. Descrição metodológica: Trata-se de uma pesquisa quantitativa, observacional e do tipo transversal realizada numa faculdade de enfermagem de uma universidade pública no estado do Rio de Janeiro. Os participantes do estudo foram docentes que atuavam nesta instituição há mais de 2 anos, com vínculo estatutário, que não estivessem licenciados ou de férias e estivessem em pleno exercício de suas funções, e que atuassem em um dos quatro departamentos da faculdade. A população total era de 125 docentes, no entanto, após serem aplicados os critérios de inclusão e exclusão, este quantitativo totalizou 72 docentes. Na impossibilidade de se atingir toda a população, realizou-se um cálculo amostral cujo erro amostral era de 4% e a confiança de 95%. Com isso, a população final foi de 65 docentes. O instrumento de coleta de dados foi aplicado de março a junto de 2016, e tratava-sede um questionário contendo perguntas abertas e fechadas que abordou três modalidades de variáveis: sociodemográficas, laborais e de saúde. Os docentes foram contatados no momento em que eram encontrados na própria instituição. A pesquisa obteve parecer positivo para o seu desenvolvimento pelo Comitê de Ética sob número 1.392.398. Resultados: Numa perspectiva sociodemográfica, constatou-se que a idade da população variava entre 33 e 66 anos, e que a maioria da população (60%) tinha entre 50 e 59 anos. Os docentes eram formados, minimamente, há 10 anos, e no máximo há 45 anos. O tempo de docência esteve entre 11 e 30 anos (73,85%). A população feminina foi majoritária (78,45%), e houve também uma predominância na participação de pessoas que declararam pertencer à raça branca (75,35%), não havendo declarantes indígenas, e apenas 1,55% se declarou negro/preto. 56,9% declararam-se casados ou viver em união estável. A renda líquida como docente ultrapassou os seis mil reais mensais para 66,15% dos participantes, e a renda familiar líquida estava acima dos cinco mil e um reais para 93,8% da população. Pouco mais da metade da população estudada sinalizou possuir pelo menos uma especialização e ter o título de doutor (15%). Tais resultados permitiram inferir que a docência e a enfermagem estão imbricadas em raízes históricas ligadas a tais profissões, ou seja, àqueles papéis que se voltavam para o cuidar, o educar e o servir, que até então eram entendidos como dom ou vocação da mulher, o que acarreta uma desvalorização e uma elevada massa feminina2. Além disso, é possível notar pela questão cronológica que para se atuar na docência há uma demanda temporal, a fim de que haja um preparo pessoal para o ingresso na docência3. Quanto ao perfil laboral, verifica-se uma predominância de professores adjuntos (63,05%), seguido por professores assistentes (20%), associados (10,75%) e titulares (6,2%). Constatou-se também que os participantes estão inseridos em regimes de trabalho diferenciados, variando de 20 (21,55%) a 40 (78,45%) horas semanais. Na semana que antecedeu a aplicação do questionário alguns docentes afirmaram ter dedicado menos de 10 horas às atividades laborais, enquanto outros ultrapassaram as 40 horas. 61,5% dos participantes declararam trabalhar aos sábados e domingos para dar conta da demanda laboral. 75,35% da população estava envolvida com atividades de pesquisa e extensão. Além disso, verificou-se que 43,05% assumiam algum cargo gerencial e também foi possível observar que 35,35% da população não trabalhava apenas como docente. Como pode se depreender, há uma alta cobrança por uma mão de obra qualificada do profissional, e muitas destas cobranças, por vezes, demandam que o profissional extrapole a jornada laboral semanal. Esta questão envolve a polivalência e a multifuncionalidade do docente, requerida pelo atual modelo produtivo pautado nos preceitos do neoliberalismo, que captura a subjetividade do trabalhador, utilizando-a a favor de uma maior produtividade4. No que tange o perfil de saúde, 73,85% não se afastou do trabalho por motivos inerentes à saúde nos últimos 12 meses. 7,7% apresentava alguma doença antes de iniciar as atividades laborais na docência, mas, após a inserção do profissional no trabalho docente, houve um aumento de 41,5% e, deste percentual, 56,25% da população relacionou os problemas adquiridos à atividade laboral. 71,8% dos docentes não realizavam pausa para descanso e, sendo que 73,9% não descansavam por terem muitas atividades a realizar. 75,35% da população investigada faziam de 3 a 4 refeições diárias. 10,8%declarou se alimentar de lanches rápidos. 69,2% dos docentes praticavam alguma atividade física e a prática de atividades de lazer foi frequente entre os participantes (93,8%). Com isso, é possível afirmar que o processo de adoecimento profissional está ligado, inegavelmente, à sua atividade, que exige abdicação de outras atividades cotidianas, além de esforço físico e psicológico diariamente, principalmente no atual contexto da mundialização, onde as relações de trabalho se encontram em constantes mudanças e o trabalhador em permanente vulnerabilidade5. Conclusão: Conclui-se queda carreira docente de enfermagem encontra-se fortemente influenciada pela forma de produção do modelo neoliberal, o que acaba por repercutir na vida e saúde desses profissionais. Contribuições para a enfermagem: Este estudo buscou reunir dados que possam incentivar a construção de uma política de saúde do trabalhador docente, culminando, assim, em mais possibilidades de desenvolverem um processo ensino-aprendizagem com maior qualidade. Outrossim, visa contribuir para as discussões da saúde do trabalhador na própria instituição em que se desenvolveu o estudo. Descritores: docentes; docentes de enfermagem; saúde do trabalhador. Referências: 1. Lago RL, Cunha BS, Borges MFSO. Percepção do trabalho docente em uma universidade da região norte do Brasil.Rev. Trab. Educ. Saúde. 2015 Mai; 13(2):429-50. 2. Matos IB, Toassi RFC, Oliveira MC de. Profissões e ocupações de saúde e o processo de feminização: tendências e implicações. Athenea Digital. 2013 Jul; 13(2):239-244. 3. Ciscon-Evangelista MR,Leal LS, Oliveira NK de, Menandro PRM. Po´s-Graduac¸a~o, formac¸a~o profissional e postergac¸a~o da constituic¸a~o de fami´lia pro´pria: um estudo com estudantes de mestrado e doutorado. Psicologia e Saber Social. 2012. 1(2):265-277. 4. D'Oliveira CAFB, Almeida CM de. Prazer e sofrimento no trabalho: perspectiva de docentes de enfermagem de uma universidade pública [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2015. 5. Freitas PAM, Silva MS e. Trabalho docente cercado por circunstâncias que são fonte de adoecimento. Rev. Direitos, trabalho e política social.Cuiabá. 2016 Jan/Jun. 2(2):126-151. |