Roda de Conversa
625 | Elaboração de uma matriz estratégica de capacitação orientada pela teoria das necessidades humanas básicas como ferramenta de melhoria da gestão da qualidade da assistência de enfermagem em um hospital universitário de Belo Horizonte | Autores: Paula Cristina Barcelos Vasconcelos (Hospital das Clínicas de Minas Gerais) ; Isamara Corrêa Lemos (Hospital das Clínicas de Minas Gerais) ; Marta de Oliveira Pimentel (Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais) ; Mara Januário de Queiroz Cabral (Hospital das Clínicas de Minas Gerais) ; Eliane Ferreira de Almeida (Hospital das Clínicas de Minas Gerais) |
Resumo: Introdução ?As novas tendências em gestão reforçam a ideia da qualidade como instrumento chave na busca da excelência na prestação de serviços de saúde. Nesse sentido, buscam-se metodologias que garantam ao usuário/familiar uma assistência segura e de qualidade.1A educação permanente dos profissionais de saúde é ferramenta indispensável à busca de evidências para a prática clínica e melhoria dos resultados assistenciais. Para evitar um reducionismo técnico, faz-se necessária a utilização de um modelo teórico orientador da assistência, do ensino e da pesquisa no âmbito da enfermagem. A Teoria das Necessidades Humanas Básicas (TNHB) é balizadora do cuidado de enfermagem e guia o fazer do enfermeiro que vai além da dimensão específica, mas também multidisciplinar (interdependência) e de participação social.2 Com o desejo de extrapolar a prática atual que utiliza o marco teórico para subsidiar o fazer assistencial, esse trabalho propõe que a TNHB permeie a gestão, o planejamento, o ensino e a pesquisa em enfermagem na instituição, alinhando a matriz de capacitação estratégica ao referencial escolhido. Objetivos Elaborar a matriz de capacitação da enfermagem orientada pelo modelo de assistência da Teoria das Necessidades Humanas Básicas e alinhada à gestão da qualidade. Descrição metodológica Trata-se de um estudo de caso, realizado em um hospital universitário no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, em um serviço público e geral, referência municipal e estadual de saúde no atendimento aos pacientes portadores de patologias de média e alta complexidade. O trabalho foi desenvolvido entre os meses de junho e julho de 2016 e foi coordenado pela diretoria de enfermagem, com concentração na área de educação permanente. Foram de dados de não conformidades internas, eventos adversos e outros referentes a notificações de órgãos normatizadores ou fiscalizadores. Os temas sugeridos foram tabulados usando o software Excel e classificados em três categorias de análise: interesse institucional, interesse estratégico da enfermagem e interesse específico setorial. Os temas pertinentes à categoria de interesse estratégico da enfermagem foram subcategorizados de acordo com a TNHB. Os temas de interesse institucional, foram incorporados à matriz já existente da divisão de gestão de pessoas. Os de interesse específico setorial foram direcionados à matriz das gerências, para serem trabalhados com um público específico sob a responsabilidade de cada coordenador de enfermagem. Resultados A construção da matriz se iniciou com o levantamento das necessidades de capacitação. Reuniões permitiram que os coordenadores de enfermagem setoriais se manifestassem verbalmente, assim como por e-mail ou memorando. Também foram ouvidos os membros da diretoria de enfermagem, supervisores diretos do trabalho dos coordenadores setoriais. Outras demandas surgiram das diversas auditorias internas institucionais, não conformidades, eventos adversos e apontamentos de órgãos normatizadores e fiscalizadores. Todas as demandas foram descritas em uma tabela no software Excel e categorizados conforme tamanho e tipo de público alvo, sendo definidas três categorias de análise, que foram assim descritas: Interesse institucional: se aplicam a, pelo menos 50 por cento da equipe, incluindo todas as categorias profissionais, de responsabilidade da matriz de capacitação da divisão de gestão de pessoas do hospital. Interesse estratégico da enfermagem: se aplicam a, pelo menos 50 por cento da equipe da enfermagem, de responsabilidade da matriz estratégica de capacitação da diretoria de enfermagem. Interesse específico setorial: se aplicam a um menor grupo de profissionais, de caráter específico, de responsabilidade da matriz estratégica de capacitação das gerências setoriais. Os temas selecionados para compor a matriz estratégica da enfermagem e sua classificação conforme a TNHB foram: Necessidade de terapêutica: Boas práticas no ato transfusional (2 horas/aula); Necessidade de integridade física, cutânea e mucosa: Boas práticas no cuidado com feridas e ostomias (20 horas/aula); Necessidade de terapêutica e regulação imunológica: Boas práticas no manuseio de acessos venosos e linhas venosas (2 horas/aula); Necessidade de terapêutica: Boas práticas na administração de medicamentos (2 horas/aula); Necessidade de terapêutica, regulação imunológica, regulação, integridade física, cutânea e mucosa: Capacitação estratégica introdutória (20 horas/aula). Necessidade de terapêutica: Boas práticas na administração de quimioterápicos (6 horas/aula); Curso de processo de enfermagem e implantação do prontuário eletrônico (20 horas/aula); Curso de atualização em gestão da assistência em saúde e em enfermagem (20 horas/aula); Curso de boas práticas e rotinas no manuseio do carrinho de emergência e geladeiras (2 horas/aula); Foi formado um núcleo de profissionais especialistas das áreas a serem capacitadas que revisou e atualizou as instruções técnicas de trabalho relacionadas às áreas à serem capacitadas. Reuniões foram promovidas junto à coordenação da educação permanente para definir o plano de aula, pactuar estratégias para operacionalização, apontar ordem de prioridade das atividades, instrutores e um cronograma. As atividades foram programadas para durarem 1 ano, sendo repetidas muitas vezes, permitindo a saída de pequeno número de pessoas por vez de cada setor. Um projeto e uma apresentação de slides foram construídos e apresentados ao colegiado gestor da enfermagem, composto pela diretoria de enfermagem e coordenadores de enfermagem setoriais de todas as áreas da instituição, sendo aprovado. Nova reunião junto ao comitê composto pela diretoria do hospital, divisão de gestão de pessoas, membros da diretoria de enfermagem, enfermeiros representantes dos núcleos idealizadores das atividades e gestores da qualidade deliberou a aprovação e alinhamento do projeto. Conclusão A Sistematização da Assistência de Enfermagem, não se resume ao processo de enfermagem, sendo entendida como toda prática que contribua para a organização do fazer da enfermagem, seja no campo assistencial, de gestão, no ensino ou na pesquisa. Nesse sentido, este trabalho tem como ponto forte a ideologia de conectar o marco teórico escolhido pela instituição, a Teoria das Necessidades Humanas Básicas, ao processo de planejamento e gestão da diretoria de enfermagem. A construção de uma matriz de capacitação alinhada a essa filosofia contribui para o fortalecimento da cultura institucional e de todos os demais processos relacionados. Como ponto limitante, podemos citar que a matriz de capacitação foi composta de apontamentos feitos pelos gestores, não tendo sido possível ouvir diretamente toda a equipe, assim como captar demandas das avaliações de desempenho dos funcionários, etapas que seriam importantes, mas demoradas e inviáveis para o planejamento nesse momento. Contribuições e implicações para a enfermagem A matriz de capacitação alinhada à TNHB sistematiza os processos educativos estratégicos da enfermagem na instituição, sendo um exemplo para que compreendamos que o marco teórico que orienta o fazer da equipe deve ser estendido à gestão, ensino e pesquisa, consolidando a cultura da Sistematização da Assistência de Enfermagem na instituição. Descritores: Educação em Saúde, Educação Continuada, Educação em Enfermagem. Referências bibliográficas 1. KOLOROUTIS, Mary. Cuidado baseado no relacionamento: um modelo para a transformação da prática/ Mary Koloroutis (Editor). Tradução para o português: Denise Costa Rodrigues. São Paulo: Editora Atheneu, 2012. 2. HORTA, Wanda Aguiar. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. |