Roda de Conversa
466 | DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE ENFERMEIROS E SUA REPERCUSSÃO NOS PROCESSOS DE TRABALHO E NAS PRÁTICAS DO SUS | Autores: Liana Barcelar Evangelista Guimarães (Escola Tocantinense do SUS Dr. Gismar Gomes) ; Edilma Barbosa Fiel (Hospital e Maternidade Dona Regina) ; Joseane A. Franco (Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Tocantins) ; Rosane Cristina Mendes Gonçalves (Escola Tocantinense do SUS Dr. Gismar Gomes) ; Margarida Araujo Barbosa Neta (Escola Tocantinense do SUS Dr. Gismar Gomes) |
Resumo: Introdução A formação dos profissionais de saúde ainda está pautada no modelo biomédico, fragmentado e especializado, o que dificulta a compreensão dos determinantes e a intervenção sobre os condicionantes do processo saúde-doença da população1. Tornou-se, portanto, objeto de frequentes reflexões e vem passando por profundas e necessárias mudanças, como é o caso das atuais discussões das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em saúde em todo o Brasil. Pode-se dizer que a formação e o desenvolvimento de recursos humanos para o sistema de saúde no Brasil estão previstos desde a Constituição de 1988, perpassando pela Lei Orgânica da Saúde de 1990, porém as dificuldades na formação sempre estiveram presentes, constituindo ainda um desafio para o bom funcionamento do sistema2. É real a necessidade de integração ensino-serviço e reorientação para um modelo biopsicossocial, onde entende-se como um trabalho coletivo pactuado, articulado e integrado de estudantes, professores dos cursos de formação na área da saúde, trabalhadores que compõem as equipes dos serviços de saúde, incluindo-se aí os gestores, cuja finalidade é a qualidade de atenção à saúde individual e coletiva, a excelência da formação profissional e o desenvolvimento/satisfação dos trabalhadores dos serviços. Objetivos Este trabalho buscou refletir sobre os desafios atuais na formação dos Enfermeiros, sua repercussão nos processos de trabalho do Sistema Único de Saúde, bem como apresentar algumas estratégias que podem ser adotadas para sustentar o processo de mudanças nas práticas de ensino em saúde e na enfermagem. Descrição metodológica Trata-se de um estudo reflexivo, desenvolvido a partir de uma questão de aprendizagem, norteadora do processo de estudo em questão, realizado durante o curso de especialização em Ativação de Processos de Mudança na Formação de Profissionais de Saúde. Resultados Ainda é necessário avançar na formação dos profissionais de saúde, onde o processo de formação deve ser articulado com o mundo do trabalho, rompendo com a ruptura entre teoria e prática, possibilitando a formação de profissionais mais crítico-reflexivo, transformadores de suas práticas e engajados na qualidade dos serviços ofertados à população. Com base nos princípios que norteiam os processos de trabalho em saúde e as práticas do SUS, compreende-se que não é possível formar profissionais voltados para a realidade do sistema, capazes de oferecer um atendimento integral que atenda às reais necessidades da população com uma formação fragmentada. Torna-se necessário formar profissionais desenvolvendo seu potencial participativo, crítico, analítico, capaz de refletir sobre a o território ao qual ele está inserido de modo a promover mudanças positivas em seu ambiente de trabalho, que possam ir além de uma perspectiva biomédica e atuar em uma orientação biopsicossocial onde o foco não é apenas a doença em si ou o tratamento dela, mas todos os aspectos que estariam diretamente relacionados ao fenômeno do adoecer. Conclusão A formação de enfermeiros e outros profissionais de saúde reflete de modo muito claro e evidente nas práticas e processos de trabalho do SUS, numa atenção pouco resolutiva, fragmentada e desumanizada, que traz descontentamento aos usuários e aos próprios profissionais, além de repercutir em diversos indicadores da saúde, sejam eles indicadores de processo ou de impacto3. É necessário ser superada a contradição entre a formação cada vez mais fragmentada e disciplinar dos profissionais com uma realidade que demanda uma atitude cada vez mais interdisciplinar. Entendendo que a interdisciplinaridade não anula a disciplinaridade, as especificidades de cada área do conhecimento, bem como não significa a sobreposição de saberes, mas implica num reconhecimento dos limites e das potencialidades de cada campo de saber, para que possa haver uma disposição na direção de um fazer coletivo4. Ou seja, um método, caracterizado pela intensidade das trocas entre especialistas e pela interação real das disciplinas dentro de um mesmo projeto, através de relações de interdependência e de conexões recíprocas, o que não deve ser confundido com simples trocas de informações. Novas tendências pedagógicas apontam a necessidade da formação desse profissional capaz de transformar sua realidade social e conduzir para o compromisso e vínculo com a clientela, o que proporcionará a melhora da qualidade de saúde da população, atendendo aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)5. Contribuições / implicações para a enfermagem Algumas estratégias podem ser adotadas para sustentar o processo de mudanças nas práticas de ensino em saúde e na enfermagem, bem como no processo de trabalho. Sabe-se que a Política de Educação Permanente em Saúde é uma importante estratégia de transformação de práticas de saúde e de formação dos profissionais, possibilitando ampliação do olhar sobre o processo de trabalho em saúde, reflexão, autocrítica, crescimento pessoal e profissional e também sustentação de processos de mudanças nas práticas de ensino em saúde. Aspecto igualmente relevante na superação dos desafios da mudança diz respeito à necessidade de se estabelecer estratégias que indiquem o educando como sujeito do processo ensino/aprendizagem, a articulação teoria/prática, a diversificação dos cenários de aprendizagem, o uso de metodologias ativas, a flexibilidade na organização do curso, a interdisciplinaridade a incorporação de atividades complementares relacionadas ao eixo fundamental do processo de formação e à avaliação formativa. A incorporação das diretrizes e dispositivos da Política Nacional de Humanização também pode contribuir na sustentação desses processos de mudança. Iniciativas e propostas nas universidades e nas Conferências Nacionais de Saúde (CNS), destacando a interação ensino-serviço, as Diretrizes Curriculares Nacionais e a própria concepção de Educação Permanente em Saúde (EPS)4, além e principalmente do envolvimento e co-responsabilidade de todos os atores que compõem o cenário e as relações de mudanças. As mudanças não podem ser geradas ou construídas apenas com os atores internos à Universidade, as parcerias são estratégicas e pode ser fundamental para gerar força política e até os recursos necessários para a implementação do processo de mudança na formação de futuros profissionais e nos processos de práticas de saúde no SUS. Referências 1. Nascimento, DDG: Oliveira, MAC. A política de formação de profissionais da saúde para o sus: considerações sobre a residência multiprofissional em saúde da família. 2. Cutolo, LRA. "O SUS e a formação de recursos humanos." ACM Arq Catarin Med 32.2 (2003): 49-59. 3. Backes, DS; Backes, MS; Erdmann, AL; Buscher, A. O papel profissional do enfermeiro no Sistema Único de Saúde: da saúde comunitária à estratégia de saúde da família. Ciência e Saúde Coletiva, 17 (1): 223-230, 2012. 4. SOUZA, DRP. Interdisciplinaridade: identificando concepções e limites para a sua prática em um serviço de saúde. 2009. 5. Prado, ML; MB, Velho; DS,Espíndola; SH,Sobrinho; VMS, Backes. Arco de Charles Maguerez: refletindo estratégias de metodologia ativa na formação de profissionais de saúde. Esc. Anna Nery vol.16 no.1 Rio de Janeiro Mar. 2012. Descritores: Ensino, Prática Profissional, Sistema Único de Saúde. Eixo 2 - A formação em Enfermagem: da política à prática profissional Área temática: Educação profissional |