Comunicação coordenada
439 | ELEMENTOS A SEREM ABORDADOS NA FORMAÇÃO DE ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À TESTAGEM E ACONSELHAMENTO PARA HEPATITE B E C. | Autores: Elaine Alves (Universidade Estadual de Londrina) ; Elma Mathias Dessunti (Universidade Estadual de Londrina) ; Flávia Meneguetti Pieri (Universidade Estadual de Londrina) ; Lucas de Souza Camargo Santos (Universidade Estadual de Londrina) ; Rosangela Freire Lemos Chagas (Universidade Estadual de Londrina) |
Resumo: INTRODUÇÃO: A hepatite viral é a causa mais importante de doença hepática no Brasil, aumentando a mortalidade por doenças crônicas do fígado1. Para ampliar o diagnóstico o Ministério implantou a realização do teste rápido para triagem das hepatites B e C. Registros de investigações qualitativas sobre teste rápido são escassas o que induziu a uma pesquisa visando responder ao problema de pesquisa: Quais as motivações dos pacientes para realização dos testes rápidos para Hepatite B e C? OBJETIVO: Apresentar os resultados parciais de uma pesquisa acerca das percepções dos pacientes sobre a testagem e aconselhamento para hepatites B e C e como apontam para elementos que devem ser abordados na formação profissional em relação ao tema. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA: O trabalho aconteceu em um Centro de Testagem e Aconselhamento - CTA, localizado no Centro de Referência para atendimento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids e Hepatites, do município de Londrina, localizado no norte do estado do Paraná. O aconselhamento é definido como um processo de escuta ativa, centralizado no contato direto com o cliente. A testagem consiste na realização de testes sorológicos que se baseiam na detecção de anticorpos e/ou antígenos dos microorganismos causadores das patologias investigadas, demonstrando se um indivíduo foi ou não infectado. O Ministério da Saúde mantém programas visando a testagem e o aconselhamento desde 1988, por meio dos Centros de Orientação e Apoio Sorológico - COAS, rebatizados em 1997 como Centros de Testagem e Aconselhamento - CTA2. Participaram da investigação 21 indivíduos que realizaram o teste rápido para hepatites B e C no segundo semestre de 2015. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Os dados foram sistematizados e analisados de acordo com método da hermenêutica-dialética3. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, CAAE: 30107614.5.0000.523. RESULTADOS: Os elementos que motivaram os indivíduos a realizar os testes rápidos para hepatites B e C foram: a exposição ao risco; a divulgação dos testes rápidos pela mídia; aspectos relacionados à acessibilidade e a identificação com alguma informação relacionada à doença. Dos elementos relacionados à exposição ao risco foram identificadas: o contato domiciliar, a exposição sexual sem o uso de preservativos e a exposição parenteral, por exemplo: tatuagens e acidente com material perfurocortante. Somente um dos entrevistados relatou procurar o serviço por consequencia de contato domiciliar. Quanto à divulgação dos testes rápidos foram mencionados: programas de televisão, internet, cartazes e campanhas nas escolas e serviços de saúde. Importante mencionar que, dentre os entrevistados a maior parte dos usuários procurou o serviço, buscando a testagem para HIV/Aids, mas acabaram aderindo a testagem para Hepatites B e C uma vez que também eram disponibilizados nos serviços. No entanto, dias após as atividades midiáticas promovidas no dia mundial de luta contra as hepatites virais, vários usuários procuraram o CTA exclusivamente a procura da testagem específica para a Hepatite B e C. Acerca da acessibilidade foram citados os encaminhamentos por outros serviços saúde e consultórios de rua, a gratuidade do teste e a rapidez dos resultados. Por fim os usuários mencionaram a busca pela testagem devido à identificação com alguma informação relacionada à doença. Muitos destes pacientes procuram os serviços já se sentindo frágeis ou doentes buscando respostas para situações que se relacionam com as informações sobre as hepatites virais. CONCLUSÕES: Os entrevistados reforçaram que os meios de comunicação, por sua abrangência junto ao público, podem atuar positivamente nas ações preventivas no campo da saúde pública. A identificação com informações divulgadas por tais meios induziram um aumento na procura pelo atendimento que não seria possível sem o fácil e rápido acesso. No entanto, aponta ainda necessidade de reforço ações preventivas em relação às hepatites B e C e demais patologias testadas, uma vez que persistem fatores relacionados à exposição ao risco como: relações sexuais sem uso de preservativos e contato com perfurocortantes. CONTRIBUIÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Os resultados das pesquisas apontam ainda elementos importantes que devem ser considerados na formação de enfermagem e na educação continuada quando se trata da testagem e aconselhamento para as hepatites B e C. O primeiro diz respeito à relação da exposição ao risco como uma motivação para a testagem. Embora possa parecer claro que o paciente não buscaria a testagem caso não se percebesse em situação de risco, a postura do profissional do CTA deve dirimir-se de comportamentos de aceitação ou rejeição da exposição ao risco de acordo com suas convicções em relação a este. Por exemplo, o profissional de enfermagem não pode adotar uma comunicação verbal ou não verbal que infira a melhor aceitação das exposições acidentais do que a exposição voluntária ao risco como no caso das relações sexuais desprotegidas. Outro elemento diz respeito à divulgação dos testes. A vulnerabilidade das populações que buscam o CTA, acrescida da situação de exposição, lembrada pelos pacientes durante a pesquisa, induz ao questionamento de que elementos éticos devem permear a comunicação e divulgação da testagem. A ponderação se dá em como divulgar elementos éticos que possam garantir a procura ao serviço e também de que a proteção ética divulgada será concretizada no atendimento. Em relação à acessibilidade, quer o encaminhamento quanto à revelação do entendimento dos usuários de que o serviço é rápido e gratuito, desperta a atenção de que os profissionais que realizam a testagem possam estar imbuídos de uma percepção semelhante a ponto de interferir no atendimento por meio de uma postura paternalista, que empodera o profissional a decidir o que é melhor para o paciente, com o risco de desqualificar sua autonomia. O paciente pode também se submeter a situações pouco agradáveis ao considerar-se sem o direito de exigências uma vez tratar-se de uma assistência rápida e gratuita. O usuário paga altos impostos para receber o serviço, e os profissionais, trabalhadores de enfermagem que trabalham nos CTAs, são pagos por meio destes impostos. Por fim chama a atenção para a necessidade de ênfase, na formação, de competências relacionadas à humanização do atendimento devido ao fato de que muitos pacientes procuram os serviços já se sentindo frágeis ou doentes buscando respostas para casos que se relacionam com as informações que tem sobre as patologias testadas, uma nova condição de vulnerabilidade. |