Comunicação coordenada
408 | A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE PARA O SUS NO VALE DO SÃO FRANCISCO SOB A PERSPECTIVA DE DOCENTES | Autores: Susanne Pinheiro Costa E Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO) ; Arthur Antunes de Souza Pinho (Universidade Federal do Vale do São Francisco) ; Juliana Leles Silva (Universidade Federal do Vale do São Francisco) ; Cláudio Claudino da Silva Filho (Universidade Federal da Fronteira Sul) ; Sued Sheila Sarmento (Universidade Federal da Fronteira Sul) |
Resumo: INTRODUÇÃO: Ao buscarmos referências sobre o grande tema Formação dos Profissionais de Saúde para o Sistema Único de Saúde (SUS), percebe-se notoriamente que a temática está atrelada ao princípio da integralidade. Formar profissionais para atuar no sistema de saúde sempre foi um desafio. Ainda lança-se um olhar biologicista, centrado na doença, na hegemonia médica, na atenção individual e na utilização intensiva de tecnologia. Uma maior interação e diálogo entre os atores dos cursos da área da saúde, dos serviços e da comunidade pode ser a tentativa de superar as limitações para que o estudante adquira competências e habilidades que possibilitem sua inserção no SUS devidamente preparado. Um bom exemplo é a articulação ensino-serviço, promovendo a integração dos futuros profissionais à realidade da organização dos serviços de saúde. A reformulação da educação em saúde influenciará na prática futura, visto que haverá uma construção coletiva no ensino, facilitando a capacitação do profissional na observação do indivíduo integralmente devido à existência de um equilíbrio entre a formação científica e a formação humanística. OBJETIVO: Entender o significado da formação profissional atual em saúde para docentes de tais cursos de uma Instituição Federal de Ensino Superior localizada no interior pernambucano. MÉTODO: A amostra foi constituída por 24 docentes dos cursos de saúde de uma IFES localizada em Petrolina-PE e lotados nos cursos de graduação em Farmácia, Enfermagem, Psicologia ou Medicina. Para realização desta pesquisa, foram selecionados sete professores de cada curso. Houve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVASF (Protocolo 0007/190913). A coleta de dados foi realizada individualmente, com entrevista guiada por questões norteadoras sobre o tema. O tempo médio foi de 20 minutos. Todo o conteúdo foi gravado em aparelho de MP3, com posterior transcrição do material. Os discursos foram transcritos e analisados através da Análise de Conteúdo, resultando em três categorias. RESULTADOS: Dentre os participantes, a maioria eram mulheres (70%), com formação em cursos diversificados como: Biologia, Bioquímica, Fisioterapia, Medicina e Química (35% ao todo); seguido por Psicologia (26%), Enfermagem (26%) e Ciências Farmacêuticas (13%). Em relação ao tempo de formação, 70% dos profissionais já estavam com dez anos ou mais de formados, e apenas 30% encontravam-se com menos de dez anos de vida laborativa profissional. Quanto ao tempo de trabalho como docente, 35% estavam lecionando a mais de dez anos no ensino superior, enquanto 65% eram professores a menos de 10 anos. Na categoria "O profissional ideal para atuar no SUS", os participantes enumeraram as principais características de um profissional ideal para o SUS: deve ser competente e hábil para solucionar problemas que ultrapassam a questão saúde-doença; deve se atualizar constantemente, buscando e ampliando seus conhecimentos teórico e prático, e deve ser comprometido com o sistema de saúde, especialmente à clientela; deve iniciar sua formação ainda na graduação, acumulando qualificações e praticando a educação permanente para alcançar o cuidado integral e o fortalecimento da atenção à saúde no SUS. A segunda categoria, "Atributos de um bom formador", engloba a caracterização de um bom professor, aquele que é responsável por expandir caminhos e por despertar o interesse do discente em adquirir conhecimento através de sua atuação como um facilitador da disciplina pedagógica e transmissor de conhecimento. As respostas dos entrevistados pautaram-se na necessidade do formador atualizar-se regularmente, além de atuar na prática da sua classe profissional. Segundo alguns participantes, um professor de sucesso deve utilizar metodologias inovadoras para alcançar à aprendizagem eficaz do aluno, principalmente aquele que não consegue "acompanhar" o conteúdo difundido por um método didático pedagógico inicial. A terceira categoria, "Formação Passada x Formação Presente", aborda possíveis discrepâncias entre a formação que os docentes obtiveram enquanto estudantes e a formação que estes proporcionam aos discentes. A maioria concordou que houve uma evolução no processo de formação em saúde, visto que a visão atual focaliza muito mais nos determinantes de saúde que na doença em si, existindo também abertura maior entre professor e aluno. Além disso, a própria valorização profissional contribui para a formação em saúde, tendo estes cursos obtido muitos avanços nos últimos anos, como também o auxilio pela informatização do conhecimento. Entretanto, alguns poucos participantes afirmaram que ainda existem docentes que repetem em suas práticas os modelos tradicionais ultrapassados de ensino, com a fragmentação do conhecimento. CONCLUSÃO: O sistema de saúde brasileiro passou e continua passando por transformações, e neste contexto, as instituições de ensino superior precisam redefinir seu papel como centro de formação em saúde, buscando construir cursos de graduação humanizados para contribuir positivamente nos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde. Os discursos comprovam que estruturar uma formação profissional em saúde sob a perspectiva da integralidade e transdisciplinaridade constitui uma concepção desafiadora, já que expressa uma ruptura com o modelo tradicional fragmentado de formação e com a organização dos serviços públicos. O processo de formação dos profissionais da área de saúde pressupõe a necessidade de desenvolver metodologias ativas de ensino-aprendizagem, incrementar métodos que propiciam o exercício da comunicação entre disciplinas tanto horizontalmente quanto verticalmente. Outras possíveis recomendações são o indispensável treinamento dos professores que orientarão os futuros profissionais de saúde e o emprego da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Mesmo com todas as dificuldades para uma educação de qualidade e que torne o perfil do egresso condizente com o que pede o SUS, muitas dificuldades ainda não foram sanadas, necessitando que haja uma intensificação de capacitações para que o docente trabalhe melhor com ferramentas que contribuam com a consolidação do conhecimento, e não apenas a transmissão de assuntos. CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Para a estruturação de uma educação em saúde baseada na óptica da transdisciplinaridade, é preciso capacitar, desde a graduação, o futuro profissional a assumir uma nova visão de mundo, a qual consiste no modo como o profissional olha, escuta e atende o paciente, preocupando-se com a realidade e o sofrimento da clientela. Diante do exposto, entendemos a importância desta pesquisa para os profissionais ligados à educação, no sentido de compreenderem que não basta criar cursos e modificar currículos, é preciso uma cultura de educação transformadora que coloque o ensino e as práticas de profissionais de saúde que ainda estão em formação em consonância com os princípios do SUS. A análise desta pesquisa nos leva a inferir que é no espaço da prática, englobando todas as condições entre o possível e o ideal, que se demarca o lócus potencial das mudanças. |