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Anais :: 15º Senaden • ISSN: 2318-6518
Resumo: 313

Comunicação coordenada


313

APRENDER A SER: UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO DE ATITUDES DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM QUANTO AOS PROBLEMAS RELACIONADOS AO USO DO ÁLCOOL

Autores:
Marcelle Aparecida de Barros Junqueira (Universidade Federal de Uberlândia) ; Sandra Cristina Pillon (Universidade de São Paulo)

Resumo:
Introdução: Quase metade (40%) da população mundial acima de 15 anos consome bebidas alcoólicas, dessas, 20% fazem uso nocivo de álcool e 5% podem ser considerados dependentes O uso de bebidas alcoólicas, atualmente, é algo socialmente aceito em nossa sociedade, porém, o limite entre o beber "normalmente" e o beber "abusivo" é muito tênue, e a detecção precoce do rompimento dessa linha pode ser a melhor, ou, às vezes, a única alternativa para enfrentar as consequências relacionadas ao uso de álcool (1) . Frente a essa questão, a Organização Mundial de Saúde resolveu assumir esse fenômeno como problema de saúde pública e propor alternativas a serem implantadas pelos profissionais de saúde, em diversos países, para lidar com os diferentes problemas relacionados ao uso de álcool. Apesar de a literatura ser ampla sobre a assistência aos usuários de álcool, o que pode ser observado, tanto empiricamente como em estudos científicos, tanto os profissionais quanto os estudantes da área de saúde ainda apresentam estigmas sociais que resultam em atitudes negativas frente à assistência realizada aos usuários de álcool. Uma das explicações para isso pode estar vinculada à formação acadêmica desses profissionais que, muitas vezes, em suas atuações não estão preparados adequadamente, com habilidades cognitivas e interpessoais, para trabalhar com os usuários ou dependentes de álcool (2). Tal fato não parece ser uma tarefa simples, uma vez que nem sempre o uso do álcool é entendido como uma patologia, e está envolvido com uma série de preconceitos e atitudes pessoais intrínsecas a esses profissionais (3). Objetivos: O estudo teve como objetivo avaliar o efeito de um curso de intervenção breve sobre o uso de álcool, as atitudes e os níveis de conhecimento dos estudantes de enfermagem quanto ao uso, uso nocivo e dependência de álcool. Descrição metodológica: A amostra foi constituída por 120 estudantes de um curso de graduação em enfermagem. Trata-se de estudo da abordagem quantitativa, analítico, experimental, de coorte prospectiva. Os estudantes foram divididos em dois grupos, um grupo que recebeu o curso (grupo experimental) e um grupo que não recebeu o curso (grupo comparado). O instrumento de coleta de dados foi um questionário estruturado, contendo: identificação sociodemográfica, o Teste de Identificação do Uso do Álcool.,o conhecimentos sobre o consumo de álcool e a assistência, e a escala de atitudes The Seaman & Mannello Nurse's Attitudes Toward Alcohol and Alcoholism Scale. Os dados foram coletados antes do curso e um mês após a realização do mesmo. Resultados: Verificou-se que a média de idade foi de 20,7 anos, predominantemente do sexo feminino, solteiros, católicos, 81,6% não possuíam outro curso técnico ou de graduação, residindo com os pais; 63,3% dos alunos grupo experimental e 36,6% dos alunos do grupo comparado frequentam festas uma vez por mês ou menos. A maioria dos estudantes respondeu que não dorme em sala ou chega atrasado após frequentarem festa na noite anterior. Quanto ao consumo de álcool, após o curso houve pequena diminuição do número de estudantes do grupo experimental (de 93,3 para 85%) que consumiam álcool em níveis de baixo risco. Entre os estudantes do grupo comparado, essa relação foi inversa, (de 81,6 para 90%); houve uma diminuição do consumo de álcool entre oito estudantes do grupo comparado. Quanto ao nível de conhecimento, os estudantes do grupo experimental apresentaram melhoras após o curso. Em relação às atitudes, verificou se que as mesmas se tornam mais positivas após receberem um curso de intervenção breve. Percebeu-se que, entre os estudantes de ambos os grupos, quanto maior a idade, melhores serão as atitudes relacionadas à disponibilidade para tratar alcoolistas. Entre os alunos do grupo experimental, antes do curso, foi verificado que, quanto maior o consumo de álcool, mais positivas foram as atitudes relacionadas às atitudes pessoais e às habilidades para trabalhar com alcoolistas. O resultado dos estudantes do grupo experimental corrobora os de outras pesquisas (4,5), realizadas com estudantes de enfermagem, que avaliaram as atitudes antes e após a aplicação de intervenção educacional sobre intervenção breve. Os resultados das pesquisas indicaram que também houve mudanças significativamente mais positivas nas atitudes e crenças após a intervenção. Conclusão: Pode-se concluir que o curso de intervenção breve tem potencial positivo para gerar mudanças nas atitudes do futuro profissional enfermeiro, e a aquisição de conhecimento teórico-prático pode ser fator potencial para gerar mudanças nas atitudes dos futuros profissionais enfermeiros, responsáveis pela assistência a pessoas com problemas relacionados ao uso de bebidas alcoólicas, merecendo estar incluído dentre os componentes curriculares dos cursos de graduação em enfermagem. Implicações para a enfermagem: A contribuição desse estudo está no fato de que, oferecer mais subsídios sobre a aquisição de conhecimentos, pode modificar as atitudes e a assistência realizada junto à pessoa com problemas relacionados ao uso do álcool e ao alcoolismo, uma vez esse assunto ainda é pouco explorado na literatura nacional e internacional. Essa informação é relevante no sentido de fornecer indicadores de que as atitudes pessoais e a inclinação para cuidar de pacientes com problemas relacionados ao uso de álcool podem ser modificadas, a partir do momento em que se oferece suporte teórico-prático mínimo sobre esse assunto, ajudando a repensar ou mesmo modificar alguns estereótipos que tanto dificultam a assistência a ser realizada. Apesar de todos os percalços encontrados no caminhar do docente do curso de enfermagem e em sua relação com o discente, pode ser animador pensar que o investimento em formação profissional comprometida com a qualidade de ensino, a qual procura oferecer subsídios teóricos e práticos dentre os mais relevantes problemas de saúde pública, como é a questão do uso nocivo de álcool enfocado por esse estudo; possa contribuir não apenas para a capacitação técnica do futuro profissional, mas também o ajude em seu desenvolvimento pessoal. Referências: 1.Barbor T, Higgins-Biddle JC . Intervensión breve para el consumo de riesgo y perjudicial de alcohol: um manual para la utilización en Atención Primaria. OMS: Departamento de Salud Mental y Dependência de Substancias; 2001. 2. Pillon SC, Laranjeira RR. Formal education and nurses' attitudes towards alcohol and alcoholism in a Brazilian sample. Sao Paulo Med. J. 2005; 123(4):175-180. 3. Barros MA. Os profissionais do Programa Saúde da Família frente ao uso, abuso e dependência de drogas [dissertação na internet]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2006 [citado 2010 jul. 22]. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22131/tde-18072006-163801/. 4.Rassool GH, Rawaf S. .Educational intervention of undergraduate nursing students' confidence skills with alcohol and drug misusers. Nurse Education Today. 2008; 28(3):284-292. 5.Vadlamudi RS, Adams, S, Hogan B, Wu T, Wahid Z. Nurses' attitudes, beliefs and confidence levels regarding care for those who abuse alcohol:Impact of educational intervention. Nurse Education in Practice. 2008; 8(1):290-298.